Beata Maria Araújo |
Tio Lourenço e sua amizade com meu Padinho Cirço
Luiz Sávio de Almeida
Tio
Lourecinho era complemente diferente do Tio Lourenço. Nunca tive qualquer
intimidade com o velho, o beato. Sei que era casado com a Tia
Mocinha, sendo ele daqueles mundos da Capela e ela do Juazeiro do Meu Padinho
Cirço. Se o Juazeiro já é uma planta
santa, o que se dirá daquele que deu sombra para o Padre Cícero Romão Batista...
Vai que o milagre se faz ouvir, que se
espalha pelo mundo, e chega na Capela, que o Tio Lourenço acreditou e vendeu o
que tinha e foi para a terra do Padinho, onde montou uma lojinha de vender coisas
também santas, ficou por lá, encontrou Mocinha e tiveram um filho que foi
arrastado pelas águas da chuva que desceram sem paralelo, inundando tudo num de
repente e carregando o Paulo com seus dois burros de carga e ninguém jamais
encontrou o primo e nem os animais.
Pois
foi... Tio Lourenço chegou cedo e se fez da intimidade do Padre. Foi atrás da
terra onde se deu o milagre do Sangue Verdadeiro na boca pobre da beata Maria
de Araújo e que fez milhares de pessoas cantarem e continuarem a cantar no
caminho sertanejo, aberto pelo fogo da fé.:
Ai
que caminho tão longe,
Tão cheio de pedra e areia...
Valei-me padinho Cirço
E a Mãe de Deus das Candeia!
Padinho
Cirço ele é Santo
Ninguém
pode aduvidá
Pois
faz o morto fica vivo
E
faz o mudo falá!
Apois
ela subiu no silhão e saiu mundo a dentro, procurando ir chegando pelo sertão,
quem sabe mais pelo rumo do caminho do Carié. E no meio do caminho, o que vai
aparecer? O Capitão Virgulino e uma parte de seu bando, tudo armado da faca de
ponta ao rifle limpo e cuidado, de mira calibrada para a paixão da refrega.
Apois
a veia Dondon estava no silhão de seu cavalo, puxando a reserva e o burro de
carga, destemida, enfrentando o desconforto dos caminhos quentes e rumando
pelos ermos, pelas estradas tão cumpridas do Luiz Gonzaga, a légua tirana,
arrastada de passo aqui e passo acolá, no patocopaco vagoroso do cavalo suado, precisando também de
descanso, de água e ração, de segurança nos cravos da ferradura e sonhando com
as invernadas de grama fresca, sem estar bufando de cansaço. Tinha se ser
cavalo bom, forte.
E
então, quando deu fé, a Dondon sozinha
no meio do mundo viu o bando atravessar na frente dela. E no levantar da vista,
estava a cara de Lampeão, suas estrelas
e anéis:
- Pra onde é que a Dona vai!
- Vou pro Juazeiro, pra ver meu Padinho Cirço!
- Apois pode passar!
- Ninguém vai mexer com a devota do meu Padinho!
Pode ir Dona!
E
foi assim que Dondon chegou na portaria do Paraíso, coisa que é toda cidade
sagrada. Quem poderia ter se dado mal, foi o Tio Dionísio; que vinha com folga de uma
dia ou mais. Ele também aproveitou a intimidade de Tio Lourenço com o Vigário
do Santo Juazeiro e foi. Coitado! Foi falar com o Padinho.
E eu vou cantar um bendito!
Que agora se me alembrou!
A mãe de Padinho Cirço,
Ela se chama Quinô!
Ela se chama Quinô...
Maria da Conceição
E o nome do fio dela
É padinho Cirço Romão.
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