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sábado, 16 de janeiro de 2016

Karina Dâmaso. Brincadeiras nas férias. Memória e Cotidiano. Viventes das Alagoas



BRINCADEIRAS NAS FÉRIAS

Karina Cavalcante Dâmaso Garboginni 

         Em janeiro resolvi colocar minha filha em uma colônia de férias, alternativa para entreter e mantê-la ocupada, então, fui à luta, pesquisei, analisei as propostas, verifiquei os ambientes e me encantei com um lugar especial, a Escolinha de Artes do Recife, no bairro da Graça, local pitoresco, antigo, simples, grande, cheio de detalhes, que me transportou a minha infância na fazenda. Uma casa acolhedora, cheia de arte e criatividade por todos os lados, piso de mosaico, arquitetura antiga e colonial, um quintal enorme, com plantas, fruteiras, enfim, um ambiente onde eu gostaria de estar e passar horas me divertindo.

                              Comecei a pegá-la na colônia para irmos juntas para casa, eu chegava mais cedo e podia observar as atividades e até participar, eles trabalhavam com o tema “fome de que” e em uma das atividades que presenciei, as crianças saiam em grupo pelo quintal há procura de frutas para, a partir daí fazer arte, muito legal, logo encontraram um pé de carambola e juntaram algumas para realizar a tarefa, a instrutora cortou as frutas e ensinou as crianças trabalharem com carimbos, observar as formas, criar sua obra com cores diversas, de forma aleatória e livre. Após as atividades a reunião no quintal da frente, espalhadas as panelas e utensílios de cozinha, de brinquedo, as crianças soltam a criatividade e se esbaldam na areia, fazendo as mais diversas comidinhas imaginárias, além de colher as frutinhas ali existentes, como as deliciosas pitangas e carambolas.

                           
   Esses momentos ativaram meu baú de memórias, e redescobri as brincadeiras de criança que tanto me alegravam - uma viagem no tempo, um retorno emocionante em que resgato a simplicidade, o sorriso farto e espontâneo no rosto. E assim aprecio no semblante de minha filha, a alegria de ali estar. Utilizando os mesmos recursos lúdicos, no caso uma batata criando um boneco, um “Sr. Batata” de verdade, logo após utilizando áudios visuais observando na tela o mesmo boneco tomando vida e forma, montando e desmontando, se transformando em vários personagens, lindo ver elas dançar e interagir umas com as outras de forma natural, se divertindo, aprendendo e criando vínculos saudáveis.

     Utilizar recursos da natureza, do ambiente em que estamos integrados sempre foi para mim uma fonte de entretenimento, na minha época não tínhamos tantos brinquedos como as crianças de hoje, nos virávamos com o que tínhamos a mão, nossos pais nos ensinavam brincadeiras, brinquedos e diversões variadas com o que encontrávamos no quintal, no pomar, na garagem. Lembro-me de alguns brinquedos, por exemplo, o carrinho de lata de leite, enchia a lata de areia, fazia um furo em cada extremidade, colocava um barbante ou arame e saia puxando, ou andar sobre cacos de coco, furava os cacos, colocava barbante e nos equilibrávamos em cima, era divertido, o barulho parecido com trote de um cavalo, fora as quedas, sorrisos fartos. Além dos carrinhos de rolimã, gaiolão (caminhão que carrega cana de açúcar) de sucata, com latas de óleo e madeira, que até hoje encontramos no interior, cavalinho de vassoura velha, balanço de pneu, gangorra com túnel e tábua de madeira, qual criança não ama um parquinho, uma areia, um balançar?

             E a diversão tinha várias formas, como minha filha também adorava uma “contação” de histórias, a leitura de gibis também, e por falar em gibis, lembro-me de como era divertido visitar o castelinho do tio Valdir, no primeiro andar ele tinha uma biblioteca de gibis, os primos se deitavam nas camas ou nas redes da varanda e os lia, uma fartura de quadrinhos divertidos. Meu tio era um colecionador e seu acervo era conhecido nacionalmente, estimulador da leitura, foi através de seus gibis o primeiro contato com esse mundo imaginário.

           Mas, nada como um bom banho de bica, na redondeza tinha muitas opções, a bica do Lalau era a mais próxima, no decorrer da minha infância outras maravilhosas bicas foram descobertas nas matas e fazendas da região, banho gelado que refresca e acalma a alma. Sem esquecer as excursões nas serras, visitação as fazendas, minha família basicamente rural se espalhava por todo canto, Boca da Mata, Anadia, São Miguel dos Campos, Marechal Deodoro..., lugar e parente não faltava para visitar! Todos se reunião, tios, primos, parentes..., sinto o cheiro e gosto das comidas, o mel de engenho, o leite fresco da fazenda, o queijo de tacho, os doces e bolos quentinhos, as feijoadas, cafés, lanches, almoços, jantares..., era uma viagem deliciosa e agradável. A exploração das matas – muito raras atualmente, da cidade a fazenda era quase todo o caminho de verdes árvores, por isso o nome da cidade mais próxima, Boca da Mata. Os tios militares sempre a frente das atividades, e tio Valdir com sua formação em sobrevivência na selva, nos dava um show de conhecimento e informação. Diversão garantida.

            Sem esquecer também as atividades coletivas, passeios de bicicleta, jogos de gama, ludo, palito, bolinha de gude, esconde-esconde, pega-pega, brincadeira de roda (ciranda) e tantas outras, sempre todos juntos, nas alegrias e tristezas, diversão e repreensão, nos erros, nos acertos, nas lições.

                    
  Estimular a criatividade através de coisas simples como comida, atividades gratuitas como: passear no parque, no Jardim Botânico da cidade, no Parque da Pecuária, nos museus, fazer da alternativa barata e imediata algo inovador e divertido, desperta no mundo infantil a imaginação, a invenção, a criatividade. Por isso, não devemos nunca achar que nos falta formas, locais ou recurso financeiro para entreter nossas crianças, basta um pouco de imaginação e força de vontade, com criatividade tudo se transforma em uma grande fonte de saber e diversão. O importante é sair em família e juntos descobrir formas de diversão e integração, descobrir novas possibilidades que nos leve a satisfação, o prazer e a alegria de viver.
                                           

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