homofobia, l'homophobie, omofobia, homophobia,
Graduada em Serviço Social pela ULBRA. Atualmente cursa o Mestrado em
Sociologia pela Universidade Federal de Alagoas-UFAL e Especialização -
Gênero e Diversidade na mesma Instituição de Ensino Superior.
Desenvolve Pesquisa no Campo das Questões Étnico-raciais, especificamente as
Relações entre Estado e Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana.
Atuou no Sistema Socioeducativo do Estado de Alagoas com adolescentes privadas(os) de liberdade; assumiu em 2009 a Gerência de Direitos da Mulher da Secretaria Estadual de Direitos Humanos e foi responsável pelo planejamento dos Projetos pactuados com a União, no Enfrentamento à Violência contra a Mulher. Em 2011 assume a Gestão do Centro de Referência em Cidadania e Direitos Humanos do Estado de Alagoas e atua no atendimento às Populações Vulneráveis (LGBTs e Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana). No período de 2014 a 2015 compõe o quadro de colaboradores da gerência de Diversidade da Secretaria de Estado da Educação do Estado de Alagoas.
Atuou no Sistema Socioeducativo do Estado de Alagoas com adolescentes privadas(os) de liberdade; assumiu em 2009 a Gerência de Direitos da Mulher da Secretaria Estadual de Direitos Humanos e foi responsável pelo planejamento dos Projetos pactuados com a União, no Enfrentamento à Violência contra a Mulher. Em 2011 assume a Gestão do Centro de Referência em Cidadania e Direitos Humanos do Estado de Alagoas e atua no atendimento às Populações Vulneráveis (LGBTs e Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana). No período de 2014 a 2015 compõe o quadro de colaboradores da gerência de Diversidade da Secretaria de Estado da Educação do Estado de Alagoas.
O
CARA LÁ DE CIMA
Mônica Carvalho de Almeida
(Para Ulisses Rafael
e Graça Cabral)
Eu tinha seguramente 11 anos
de idade e, nesta época, a minha maior diversão era andar de patins, daqueles de 4
rodas e neste dia que deveria ser um sábado ou domingo – , pois minha avó tinha
deixado eu andar na rua, isto só acontecia quando não tinha movimento de carros –, resolvi sentar em uma mureta que ficava em frente à guarita para descansar e ouvi
o pessoal que trabalhava no prédio conversar:
Homem 1 – Mataram o cara lá
de cima na semana passada.
Homem 2 – Mataram como?
Homem 1 – Como mata gente
que nem ele.
Ouvi aquilo e pensei
primeiro: existe um jeito certo de matar as pessoas, cada pessoa deve ser morta
de um jeito. Logo depois me perguntei, quem é o cara lá de cima? Lá em cima, só
poderia ser as coberturas. Em uma, era um casal muito importante das terras
daqui e se fosse o marido do casal, o prédio todo saberia. Na outra, só morava
mulheres: três irmãs e uma avó. Mas tinha um detalhe: um “cara” trabalhava lá.
Era o Seu Rodrigues e eu gostava dele. Anos antes, esse “cara” que tinha um “jeito
certo” de ser morto por outros homens tinha convivido comigo e minha família e
foi uma das pessoas mais legais que passou por minha vida.
Então, qual era o
“jeito certo” de matar o Seu Rodrigues? Quem eram essas pessoas que matavam
outras como ele? Essa foi a primeira vez que, mesmo sem entender, eu soube do
ódio, ódio por alguém ser o que é; ódio por quem eu gostava. Ele foi o
primeiro nesses 36 anos que separam esta história da data de hoje; quando
escrevo, 48 amigos, conhecidos, colegas que arrodeiam minha vida foram
assassinados de forma cruel; hoje eu sei que “jeito certo” era aquele.
Sou filha de um casal que
trabalhava todo o tempo para que eu e minhas irmãs tivéssemos acesso àquilo que
lhes era de valor, para isso, por muito tempo, eu e as meninas dividíamos nossos
dias em escola e casa das avós. Eu gostava muito de nossa casa e preferia ficar
lá, mas vamos combinar: não era seguro nos deixar sozinhas em casa, aquela
região deveria ter naquele tempo apenas umas poucas 10 casas. Daí, por
coincidência ou não, a gente começou a ficar em casa quando certo rapaz foi
trabalhar lá.
Segundo minha mãe ele era cozinheiro de forno a fogão, lembro-me desse termo, e depois de ter perdido seu emprego num restaurante perto, só conseguiu trabalhar lá em casa. Olha, acho que falo do ano 1976 ou 1977. Se Maceió não é fácil hoje, imagina naquela época!
Segundo minha mãe ele era cozinheiro de forno a fogão, lembro-me desse termo, e depois de ter perdido seu emprego num restaurante perto, só conseguiu trabalhar lá em casa. Olha, acho que falo do ano 1976 ou 1977. Se Maceió não é fácil hoje, imagina naquela época!
Depois de Seu Rodrigues,
vieram o Seu José, Leonardo, Wellington, Robson e o Zé (o Zé merece uma
história só para ele). Lembro-me de cada um deles e de alguns amigos seus que
se juntavam na porta de casa por volta das 17h. Eu adorava ouvir suas
histórias; lembro-me de cada um deles e o quanto eram carinhosos conosco, o
quanto respeitavam minha casa e do amor incondicional pelos bichos da casa (principalmente
pela lebrinha) que Seu Wellington dedicava.
A orientação sexual desses rapazes
nunca foi invisibilizada por minha mãe e meu pai; muito pelo contrário,
acredito até que era uma condição, a nossa consciência a respeito de suas
orientações eram como ferramentas para que aprendêssemos, naquela casa, a ver o
outro como um ser inteiro e digno de respeito.
Então, a importância de Seu Rodrigues para mim
é o fato de coincidir a chegada dele com uma maior permanência minha em casa e
eu gostava muito disso. Brincávamos de assistir aos shows de Seu Wellington
imitando Maria Alcina, de aulas de balé em nossa cozinha (eu dizia que era a
Eliana Cavalcanti e eles meus alunos), onde o balcão era a barra e o papai sem
saber com a música que ouvia fazia a trilha da história, enfim eu adorava o
“cara lá de cima” e todos os caras que eu conheci naquela época em minha casa, não
entendia como alguém pudesse matar “gente como ele”.
Dessa e outras fases eu trago
uma admiração imensa pela mãe e o pai que tenho e fico aqui conversando com
Hegel. Ele, Hegel, me diz sempre nos últimos dias que filho seria a síntese do
amor, uma primeira fase do reconhecimento que nos leva ao entendimento de seu
sistema de eticidade. Entendendo síntese como resultado de um processo onde a
afirmação incondicional do amor é negada pelo processo de educação, então eu
sou. Ainda conversando com Hegel para entender este seu sistema e todo processo
da luta pelo reconhecimento, posso observar nesta história, dentro de minha
casa, o reconhecimento do ”desses caras” como sujeito de direitos.
Este
reconhecimento lhes era negado todas as vezes que eles se afastavam daquele
muro de buganvílias coloridas e do "pinheiro" que subia para além do telhado de
telhas coloniais da casa da Ponta verde. No sistema de eticidade de Hegel,
todas as vezes que um reconhecimento é quebrado, quando a pessoa não é vista em
sua integridade e totalidade na segunda fase do reconhecimento que são as
normas jurídicas que promovem o equilíbrio social, mais ou menos isso, dar-se o
crime. Essa quebra do reconhecimento promoverá um sujeito incompleto nas
questões de segurança pessoal. E assim, passa-se a entender a Luta por
Reconhecimento como um aproximar e afastar de valores que geram conflitos. O
reconhecimento só se dá através de conflitos.
Pensar através da Luta por
Reconhecimento de Hegel é necessário neste momento para pensar nas ações de
políticas públicas específicas, no caso de nossa história, de políticas
públicas específicas para a população LGBT e começar pela educação, uma
educação que promova as questões da equidade social é vital. Falo isto agora
por estar me sentindo bastante incomodada já há certo tempo por discussões
vazias que segmentos religiosos cristãos, em especial a igreja católica sobre a
educação inclusiva nas escolas, um movimento contrário que só legitima o
discurso de ódio e ações de crimes como os que permeiam a minha vida. Veja bem,
sou uma mulher que hoje sustenta 47 anos de vida e que de alguma forma foi
vitimada pela homofobia 48 vezes, algo como uma perda para cada ano de vida e
todas as vezes que isto acontece pensa que o “tratamento” a estes casos não
deve ser focal e sim sistemático, aliado a educação formal para que esta entre
em pauta na educação doméstica e assim eu e acima de tudo as famílias de
meninas e meninos LGBTs tenham o direito pleno a convivência familiar
duradoura, ao acesso a educação, ao trabalho e a vida.
Perfeito, uma colocação coesa para um pensamento complexo de forma super simples e accessivel. Parabens!!!! Orgulho de ser seu irmão...
ResponderExcluirMônica lindo texto... e realmente na escola existe mto conservadorismo
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