LUIZ SÁVIO DE ALMEIDA
Minha mãe contava tristonha sobre a tarde da saída do corpo. Era um enterro do
meu pai sozinho com suas lágrimas que pareciam badaladas da Virgem Maria. Chovia. Ele caminhava com o caixãozinho
debaixo do braço, como se nele repousasse a tristeza, no mais perfeito idioma capelense. Meu pai era duro, mas
sentimental. Fico imaginando a chuva fina, a dor de uma mulher parida sem a
cria, o homem com chapéu na cabeça, terno e um defunto de estimação em seus
braços. Um defunto mirrado que nem tempo de vida teve e, portanto, um defunto enganado pelo destino.
Não
deu outra: nasci como peça de reposição; reposição de carinho. Devo ter sido
arquitetado ainda na Rua do Cravo, sinal de que sou um cravense militante e alias,
malgrado o que fizeram, ainda é uma bela rua de Maceió. Meu pai abriu a porta –
é claro que não ia sair com ela fechada – e foi para o cemitério, coisa perto,
dobrando à direita e meu irmão desapareceu na terra. Passados os meses de
resguardo, os dois disseram: Fiat Sávio.
E terminei nascendo, também, com a tripa enrolada no pescoço.
Tio
Lauro foi o escolhido: iria varar a escuridão em busca do médico. E foi e
trouxe e eu fui arrancado a fórceps,
já meio roxo e o pior de tudo: levava palmada e não chorava. Depois de um tanto, o berreiro e todo mundo ficou feliz comigo chorando. Isso já dá um complexo
da porra: como é que você está chorando e os outros rindo? Tem jeito isso? O médico foi o Dr. Azevedo.
E
lá estava eu, fagueiro, destemido, um verdadeiro allegre vivace ou até mesmo molto
vivace. E já fui embarcado para Capela com a minha mãe. Fui para casa da
Tia Nini e passei uns três meses com ela,
pois meu pai estava, também,
depois de certo tempo, se aprontando para ocupar um cargo de contador da
agência do Banco do Brasil em Pirapora, Minas Gerais, uma espécie de meu segundo
estado, rivalizando com Pernambuco. Fiz a minha primeira viagem de trem.
E
fui batizado lá na Capela mesmo. Tia Nini era casada com o Dindinho Isais, pais
do Padrinho Zé (José Edson) e Dindinha Leda. O nome da tia Nini sempre foi
lindo para mim: Marguerita e dele fizeram Nini.
Os pais (Nini e Isais) foram meus padrinhos de apresentar e os filhos,
meus padrinhos de vela. Na minha
família, sempre o padrinho era levado a sério e quase sempre buscava-se pessoa
da família. E era uma série de salamaleques, desde a benção até o levantar
imediatamente da cadeira para dar lugar a ele, normalmente com o Padrinho
dizendo: “Precisa não, meu filho. Tá bom assim!”, mas sentava.
Adorei o texto, Sávio. Quando for possível, conte a trajetória de nossa avó Adelaide.
ResponderExcluirAdorarei, tenha certeza.
José Ferreira
amigo primo, escreve que publico
Excluirvamos andando
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