Esta é mais uma aluna que nos leva a pensar em alguns problemas da cidade. Nas fotos de nossos estudantes, encontram-se temas e temas que nos desafiam e é como se fotos como estas afiassem nossa consciência política e nosso desejo de investigação.
Jessica é interessada em articular antropologia, história e arquitetura.
Jéssica Cavalcante é Arquiteta e Urbanista formada pela UFAL,
Pós Graduanda em MBA Gerenciamento de Obras, Qualidade e Desempenho da
Construção (IPOG), aluna especial na disciplina Formação do Espaço
Alagoano, pelo curso de Mestrado Dinâmica do Espaço Habitado, FAU/UFAL.
Cidade, seus mundos e tempos
01 - O DORMITÓRIO
Fonte: Acervo Pessoal. Ponta Verde, Maceió. Abril 2018
As
paredes invisíveis de um
lar multifacetado, circundadas por luzes indiferentes ao sofrimento
são obstáculos impostos pela sociedade. Reveses que se completam com
calçadas e ciclovias, reforçadas de ignorância e preconceito. Não Pise
na grama! Assim diz a placa da hierarquia social,
que aceita sem brusquidão o chão de grama como cama, para os que nele
reclinam seus corpos definhados pela pobreza. O guarda roupas de
plástico com suas rodinhas, circula a cidade sem medo e com um falso
telhado, que protege suas lembranças mas não evita
o banho da chuva.
02 - FOLHAS
Fonte: Acervo Pessoal. Ponta Verde, Maceió. Abril 2018
Estou
a seu lado; apenas muros nos separam, porém não te enxergo na maioria
das vezes, não por conta dos muros ou da minha pouca visão, mas porque
me recuso a ver a dor que te abate. O
mais fácil é continuar o percurso sem te mirar, desviando os passos e
observando a leveza das folhas que caem ao chão, em pleno outono, pois
estas são fáceis de serem resolvidas, basta varrer ou deixar que a chuva
lave a sujeira formada. A cada dia um novo
lar, uma nova calçada, para que assim não seja varrida ou lavada pela
sociedade que te cerca.
03 - ILHA
Fonte: Acervo Pessoal. Levada, Maceió. Abril 2018
Como
uma lâmina que separa a salubridade ambiental e a qualidade urbana de
uma parcela da população, o espelho
d’água, que reflete a luta por uma morada digna, desconecta essa
realidade de algumas áreas da cidade, assim como uma ilha esquecida pela
drenagem urbana. O espaço público, principal palco das relações
sociais, se torna o cenário dos porcos, substituindo a
significância atribuída pelos moradores à paisagem, no decorrer de suas
vidas, por sentimentos de desapreço e nojo. “Se essa rua, se essa rua
fosse minha, eu mandava, eu mandava ela secar”.
04 - PÉS
Onde está a rua, senão debaixo de uma massa d’água, metralhas e outros resíduos urbanos? Os automóveis mal driblam o caos, negando-se até mesmo transpô-lo, mas os pés submersos e praticamente descalços perambulam sem receio do que lhes aguarda. Cada passada revela o hábito de mover-se nessas circunstâncias, a naturalidade e aceitação dos fatos. Enquanto no alto se vê o contraste, prédios e ruas bem cuidadas, que talvez esses pés mal soubessem caminhar, ou finjam costume caso andem por lá. Os calos, rachaduras e marcas desses pés, carregam consigo a busca incessante da aceitação e um novo olhar da sociedade.
Fonte: Acervo Pessoal. Levada, Maceió. Abril 2018
Onde está a rua, senão debaixo de uma massa d’água, metralhas e outros resíduos urbanos? Os automóveis mal driblam o caos, negando-se até mesmo transpô-lo, mas os pés submersos e praticamente descalços perambulam sem receio do que lhes aguarda. Cada passada revela o hábito de mover-se nessas circunstâncias, a naturalidade e aceitação dos fatos. Enquanto no alto se vê o contraste, prédios e ruas bem cuidadas, que talvez esses pés mal soubessem caminhar, ou finjam costume caso andem por lá. Os calos, rachaduras e marcas desses pés, carregam consigo a busca incessante da aceitação e um novo olhar da sociedade.
05
- TRAÇÃO ANIMAL
Fonte: Acervo Pessoal. Trapiche, Maceió. Abril 2018
Ouça
o som que vem do trotar dos cavalos e reverbera pela cidade, como um
ruído que penetra as camadas mais
altas da sociedade, rasgando o tímpano do preconceito e egoísmo. A
carga que vem em sua carroceria, rangendo na rua é o sustento, o modo de vida e de trabalho, a
tradição que foi passada de seus ascendentes e o meio de transporte de
cargas mais econômico, talvez o único que alguém possa pagar. Então, que
venham os trânsitos, os carros, motos, ônibus, bicicletas e pedestres,
mas que saibam a necessidade de se preservar
e respeitar os carroceiros da cidade.