O Blog tem o prazer de apresentar textos de Roberto
Costa Farias, reconhecido e premiado arquiteto de Alagoas, amigo pessoal e inquieto analista de Maceió.
Sumário
1.0
- CENTRO DE MACEIÓ – NÚCLEO HISTÓRICO. 2.0 - RESTAURAÇÃO E IDENTIDADE.
3.0 - DEGRAU UM
Roberto Costa
Farias
Arquiteto
e Urbanista, UFAL, 1993. Instituições;
Empreendimentos Turísticos e Comerciais; Orlas: Paripueira; Maceió (Cruz das
Almas a Jacarecica); Porto de Pedras; Conselho de Farmácia; Masterplan Porto
Calvo; Memorial Graciliano Ramos em Quebrangulo; Masterplan do Rio Maceió; Projetista da aRies Arquitetura Ideias
Estudos Soluções; Projetista da Linha Maceioca. Premiações: Casa Cor Alagoas de
2015 Hall SEBRAE,; Casa Cor Alagoas 2014 Champagneria; Menção Honrosa Projeto de
Restauro da Sede do Arcebispado de Maceió, conferido pelo IAB de Alagoas,
2007; 1º Prêmio Stand FME– SEBRAE – AL,
1994; e o 1º Prêmio Abrigos de Ônibus da Cidade de Maceió pela SMDU, 1990.
Recentemente publicou um livro que está a venda em DIALÉTICA - SEBO E LIVRARIA, RUA DO URUGUAI, 110 - JARAGUÁ e do qual estamos publicando alguns textos. Vale a pena ler com cuidado, as observações do Roberto e adquirir um exemplar de Abrigo do Oficio, que traz o prefácio escrito por outro amigo: Paulo Caldas.Um grande abraço
Sávio
1.0
- CENTRO DE MACEIÓ – NÚCLEO HISTÓRICO
Em
que pese o magnífico incremento que o bairro de Jaraguá, vem dando ao processo
de revitalização e redescoberta de valores da Cidade Sorriso, não devamos nos
iludir; Maceió começou mesmo foi no Centro.
Nossa
prosa versará exatamente sobre este tradicionalíssimo bairro, onde o perfil de
outrora nos mostra o caráter comercial e residencial que determinou sua
ocupação inicial. O Núcleo da Cidade que se iniciou na segunda metade do século
XVIII, e desenvolveu-se sobremaneira durante o século XIX, constituiu-se, num
primeiro momento em largos que originaram três grandes praças: A provável localização
do primeiro engenho Massayó (e seu pelourinho); hoje praça D. Pedro II com uma
concentração monumental no entorno, o sobrado onde o Monarca se hospedou; agora
Biblioteca e Arquivo Público (tombado); a sede da Assembleia Legislativa
(infelizmente ainda não tombado); Catedral Metropolitana (tombada) e o prédio
da receita Federal.
Percebe-se
claramente aí que o Centro situa-se no platô intermediário ao planalto do Farol
e a planície costeira lagunar. Outro marco importante do traçado urbano da
nossa Capital, a praça Marechal Deodoro, ostenta estátua equestre do filho
ilustre das Alagoas, está entretanto descaracterizada de sua original concepção
por conta da pavimentação adotada, que dificulta o passeio. Em seu redor
encontramos nosso imponente Teatro Deodoro, restaurado, revitalizado e
funcionando a pleno vapor, defronte deste, o prédio da Academia Alagoana de
Letras (antiga escola, e atualmente oferecendo especialização em literatura, segundo
seu notável presidente Ib Gatto, a direita desta o Tribunal de Justiça,
devidamente preservado, evidenciando sua monumentalidade. Neste conjunto temos
a chancela do Tombamento para as três edificações.
E
finalmente o Largo de Bom Jesus dos Martírios, defronte a Igreja do mesmo nome
(com fachada em azulejos portugueses), determinado pela Cambona, ou quebrada,
curva na linha topográfica que marcava o caminho arcaico de tropeiros e
alimárias que transitavam por Bebedouro. Neste logradouro temos a praça
Marechal Floriano Peixoto (também conhecido por marechal Mão de Ferro), cercada
por belíssimos exemplares arquitetônicos; Palácio do Governo (nossa casa
branca), Museu Pierre Chalita de Arte Sacra; uns poucos elementos do casario,
em especial um sobrado colonial, a intendência, prédio concebido por Rosalvo
Ribeiro (grande pintor alagoano), recentemente restaurado, abrigando novamente
a prefeitura de Maceió, transformando o foco sobre a área como uma referência cívica,
uma vez que a rua que separava a praça do palácio, não mais existe, em seu
lugar 102 mastros com as bandeiras de cada município de Alagoas, promovem a
Troca da Guarda, assistida por nativos e turistas em multidão. A Fonte Luminosa
foi recuperada e voltou a deixar engalanada a praça. Finalmente a remoção de
depauperados barracos, o coreto oferece ao transeunte, café, lanches e pausa
para uma boa prosa.
Convém
salientar que, identificamos outros logradouros com belo entorno, mas ainda não
tiveram as atenções voltadas, embora não estejam de todo abandonados, carecem
de cuidados: a praça do Montepio dos Artistas cujas proximidades se situam a
loja maçônica Virtude e Bondade; o antigo Hotel Lopes (que já funcionou como
ponto rodoviário), hoje dividido e setorizado (sistema terceirizado de aluguel)
pintado de cores diferentes mas, forte e ainda de pé; o Montepio dos Artistas;
e dois prédios do século XX que merecem figurar como antecessores do movimento
Moderno, talvez protomodernistas: a sede da OAB-AL e o Edifício Brêda.
Há
ainda as praças: Afrânio Jorge (da Faculdade); Visconde de Sinimbu; Das Graças;
Moleque Namorador (quartel general do frevo no carnaval), Parque Rio Branco e
uma rua essencialíssima por sua arborização inconteste de oitizeiros e consequente
climatização é já uma praça também: Rua Augusta das Árvores.
Temos
ainda no Centro Histórico as igrejas de São Benedito; Livramento; Rosário
(outro dia li notícia que jovens de Salvador estão sendo treinados, como
Sineiros, para soar o Ângelus pontualmente às dezoito horas diariamente), e
elegantes sobrados em estilos diversos: ecléticos; neoclássicos; coloniais e
até neogóticos.
Existe
também muitas pressões especulativas que buscam o esvaziamento (necessidade de
estacionamento), e paralelamente uma forte resistência dos proprietários em
relação a preservação de fachadas e a volumetria das cobertas.
Necessitamos
conhecer bem, para amar e apaixonados sonhar; sonhos onde a onda revitalizadora
de Jaraguá caminhe pela praia da Avenida da Paz e emende-a com o Centro,
ampliando pelo Mercado, Vergel, Bebedouro e subindo as encostas chegue ao
Farol.
Realizar-se-á
uma sutil combinação entre o passado e a vanguarda que fomentará a
sobrevivência econômica desses locais, recuperação e manutenção, atividades
culturais, entretenimentos, negócios, lazer, e diversão. No claro processo de
intensificação e reciclagem, alternâncias de horários visando valorizar estilos
e composições; limpeza; critérios imperiosos. Aí sim, teremos uma identidade
fortalecida e coerente. Aí sim, teremos para dar e vender. Aí sim, seremos
produto de exportação.
RCF,
Págs 46 e 47 guia Ensaio ed, 05 ano II nº 02 out 2001
2.0
- RESTAURAÇÃO E IDENTIDADE
O
patrimônio arquitetônico de Alagoas detém notável valor histórico e cultural.
Por nossa terra Mãe ficaram marcas de ibéricos, holandeses, africanos,
ingleses, franceses e caétes nativos, além de prováveis outros povos. É fato
que a ação depredadora do homem que o construiu, ao longo de muitas décadas,
tem servido para desvirtuar, descaracterizar e até mesmo destruir este tesouro
arquitetônico edificado a partir do século XVII. Alagoas, terra de ideais
libertários, de Domingos Calabar e Zumbi.
No
segundo quartel do século XVIII, cresceu Maceió, fundada numa senzala de
engenho Banguê, sob os auspícios de São Gonçalo edificou-se a primeira capela,
em 1840. Neste mesmo sítio ergueu-se a Catedral Metropolitana que na missa
inaugural teve a honra de acomodar o Imperador Pedro II e comitiva, “TE DEUM”
em 31 de dezembro de 1859. Alagoas, berço de iguais e libertos: Graciliano
Ramos; Jorge de Lima; Lêdo Ivo; Nise da Silveira; Aurélio Buarque; Linda
Mascarenhas; Vera Arruda; Pontes de Miranda; Guimarães Passos; Tavares Bastos;
Théo Brandão; Guedes Miranda; Thomaz Espíndola; Otávio Brandão; Pimentel
Amorim; Rosa da Fonseca; Zé Maria de Melo; Aloísio Vilela; Dandara; Camôcho
Moraes Abelardo Duarte; Jayme de Altavila; Pedro Teixeira; Maria Mariah; Ana
Cansanção Lins; Deodoro; Floriano e tantos outros.
Essa
breve iniciação histórica servirá para nos mostrar como anda o processo de
proteção que nossa arquitetura patrimonial tanto clama. Em Jaraguá, se respiram
brisas marinhas, regadas à velha e boa boêmia, verdadeiramente de regresso... e
banhada em festejos e progresso. Quatro são os baluartes maiores que deflagram
o mote revitalizador e protecionista da boa arquitetura:
ASSOCIAÇÃO COMERCIAL
Extraordinário
monumento de linhas neoclássicas, concluído em 1928, para abrigar o Palácio de
Comércio. Suas fachadas simétricas evocam a linguagem da arquitetura clássica
grega. Talvez por isso tenha despertado a ira de Lúcio Costa que ao avistar o
bairro de Jaraguá da embarcação que o trazia a Maceió, notou que a
monumentalidade deste, conflitava com o entorno. Com o passar dos anos
tornou-se imperativo iniciar a revitalização do bairro, justo como o marco
inicial, atualmente é referência para a cidade apoiando diversos eventos no
campo das artes, da cultura, da política e da economia.
MUSEU DA IMAGEM E DO SOM
(MISA)
Construído
no governo provincial de José Bento da Cunha Figueiredo Jr. Em 1869. Foi
inicialmente, sede do Consulado Provincial e, posteriormente, Recebedoria
Central da Província. Passou por várias reformas, teve usos secundários e
esteve fechado durante vários anos. No entanto as obras de recuperação
preservaram características de época, devolvendo à comunidade a beleza
arquitetônica do bem. Com sua instalação bastante agradável entre praças, o
museu em breve voltará a dispor seu importante acervo que esta sendo
recuperado. No momento tem sediado importantes exposições e seminários.
MUSEU THÉO BRANDÃO
Prédio
em linguagem eclética, construído entre 1914 e 1915. O palacete possui a
fachada principal em disposição simétrica, acrescida de cúpula na lateral
esquerda. Sacadas com guarda corpos em balaústres, onde, no trecho central
aparecem esculturas humanas com bustos femininos descobertos, qual atlantes. A
platibanda é formada por elementos em relevo, na técnica de estuque com função
ornamental de resguardar a vista da coberta. Em muito breve poderá mostrar todo
seu acervo que está sendo higienizado.
INTENDÊNCIA MUNICIPAL
O
prédio localizado na praça Marechal Floriano Peixoto no centro da cidade, teve
planta concebida pelo pintor deodorense Rosalvo Ribeiro, nota-se as esquadrias
em arcos ogivais, linguagem neogótica (provavelmente transcritas de sua estada
em Paris). Desde 1903 foi a sede da Intendência ou Prefeitura (é conveniente
registrar que a primeira exibição de filme no estado deu-se aí, no chamado
Cinematógrafo). Na década de 1940 passou assediar a SAEM (Serviços de Água e
Esgoto de Maceió) que posteriormente se tornou CASAL (Companhia de
Abastecimento de Água e Saneamento de Alagoas).Várias e sucessivas reformas
imprimiram violentas descaracterizações internas. As obras de restauração lhe
devolveram a função original: Sede da Prefeitura Municipal de Maceió. Neste
momento é importante como marco zero da revitalização do Centro.
Dentre
os bens arquitetônicos que respaldam a conceituação de patrimônio histórico,
quatro belas edificações já foram contempladas com a restauração e
revitalização, fruto do empenho do Governo, da Prefeitura e suas equipes. Em
que pese o esforço titânico para a consolidação de nossa identidade através
destes tesouros, é importante que este número sempre cresça no sentido da constante
ampliação e do desenvolvimento com este compromisso de salvaguarda,
possibilitando aos de hoje e aos de amanhã uma visão não só do pensamento
protecionista, ora praticado, mas também uma prática que seja referendada e
ampliada para trazer de forma inerente possibilidades de criações futuras, sem
a perda de tecnologias ancestrais como atualmente ocorre. É imperativo o
emprego de forças de salvaguarda cuja missão extrapola o imediatismo corrente,
e trará uma gloriosa raiz que se estenderá infinitamente aos muitos dias que
virão. Alagoas, terra de estrela radiosa aos quatro ventos faz ecoar sua
auspiciosa música, seus instrumentos ressoam, seus sons. Eternos sons como os
de Heckel Tavares, Hermeto Paschoal e Djavan. Vida longa à nossa terra e aos
nossos valores mais sagrados.
RCF,
Página 14 e 15, Guia Ensaio, ed. 01 ano I nº1 março 2002 Maceió Alagoas
Distribuição Gratuita
3.0
- DEGRAU UM
A
Maceió da minha infância foi um dos melhores registros da memória infanto
juveni
l: Entre 1965 à 1980, pode-se comprovar por fotografias e pelo modus vivendi dos cidadãos o
desenvolvimento do modelo dicotômico campo x cidade ou como mais comumente os
tratadistas de hoje comentam: a oposição entre o rural e o urbano.
Ao
crescer no bairro do Farol, outrora conhecido como “Planalto do Jacutinga”,
assim mesmo numa reveladora toponímia de parte alta bem como a denominação da
ave, de modo a mostrar quem dominava estes territórios, tive a enorme e
proveitosa oportunidade de estender a apropriação da localidade e de seu entorno
à pé, de bicicleta e em carona nas carroças de prestadores de serviços.
Citado
na introdução; a apreensão de uma localidade, desde a mais tenra idade se dar
por todos os meios disponíveis e os cinco sentidos se encarregam desta tarefa
prazerosa. Maceió da minha infância fez passar pelos ouvidos pregões “olha a
banana”; “olha o verdureiro”; “macaaaxeeeira”; “Olha freguês”; “Mais que hora,
está tão bom, como está gostoso”; buzinas de bicicletas com balaios de pão;
realejo do amolador de facas e tesouras; triângulos dos vendedores de cavacos;
gorjeios, cantos e chilreios de variadas espécies de pássaros; comparados a
hoje, os automóveis tinham cadência em seus ruídos pois eram descontinuados no
tráfego passando e demorando a passar, indo, hiato, vindo. Havia novelas,
programas de auditórios, músicas, os reclames, o futebol e notícias que o rádio
transmitia cotidianamente: “É gol, que felicidade, o meu time é alegria da
cidade”, repórter Esso e principalmente “Manhãs Brasileiras”, ouvia com atenção
Edécio Lopes e Floracy Cavalcanti
Se
minhas orelhas captavam, as narinas não deixavam para menos. Logo cedo
estabeleci um vínculo entre olfato e memória, que ainda hoje consegue me
transportar a situações vividas e lugares conhecidos, desde o simples ato de
abrir uma gaveta ao de aspirar o perfume de uma flor. O Farol da minha memória
rescende a jasmim, principalmente no alvorecer.
O cheiro de bife de panela com batatas da casa de vovó Zulma em
contraponto e associação com o bife acebolado de vovó Nilda, a fala perfumada
de Mamãe, o cheiro de carro novo, a minha relutância em aceitar barrufos de
talco após o banho, cheiro de merthiolate, de periatrin, hipoglos, e da linha
johnsons. Cheiro de sopa, de feijão de doce de jaca de abacatada de vitamina de
banana de tanta coisa. Mais tem até hoje o campeão dos cheiros: é o de chuva,
de terra molhada pela chuva.
Falando
em comida, não por trauma ou vingança, começo a lembrar do engula o choro,
quando este recurso era acionado. Mas lembro dos picolés e sorvetes da Gutgut,
da Kibon e da Maguary, era moda naqueles tempos nos aniversários se deixar à
disposição das crianças nas festinhas e aniversários um carrinho cheio, à mão.
Lembro de meu tio Nicanorzinho, mexendo comigo e aí, quantos picolés? “doze”,
Doze? É tio, não chupei mais porque estou um pouco resfriado.
E a
vista, até onde a minha alcançava? Maceió sempre foi e será para mim paisagem:
O contemplar de seus mirantes, o por do sol nas lagoas, o verde esmeralda e
azul safira das praias de Pajuçara, Ponta Verde, Jatiúca, Guaxuma, Pratagy e Avenida.
A revoada pontual durante o início crepuscular de andorinhas, o verde das
árvores de quintais com muros baixos, os vendedores ambulantes, as praças
Sinimbú, Centenário, Deodoro, Montepio, Dois Leões, Gonçalves Lêdo, o mercado
da produção, o centro com o comércio, uma rua cheia de bancos, uma cheia de
árvores, outra ainda, repletas de casas. Ruas com hospitais e escolas
Do
tato, artefato. Muitos dos meus brinquedos e brincadeiras vinha de maquinações,
e nisto meu maior suporte foi inegavelmente a revistinha recreio. Carrinhos de
latas de oléo com rodinhas de borracha das gastas sandálias havaianas;
estilingue cuja forquilha de galho de goiabeira; pifes de taboca e mamoeiro;
tato é bicho do pé e larvas migrans, dá-lhe tiabena. Tato é cimento, cal e areia
lavada. Tato é banho de mar, de lagoa, de bica, de mangueira, de lama, de
maizena, de piscina, de chuva e de sol.
Olfato,
tato, paladar, visão e audição é ir e voltar para a escola à pé. É subir em
árvores para colher frutos e comê-los. É andar até o centro e voltar de ônibus,
para com o dinheirinho da passagem economizado comprar na venda as figurinhas
do álbum da vez. É apostar corrida e se esconder nos trinta e um alerta, no
batido salve todos. É corar quando ver a paquera. É brincar despreocupadamente
com as primas do vizinho que vieram de férias de pera, uva e maçã. É pintar a
rua em frente o palácio do governo no encerramento do ano letivo. É montar a
cavalo, pescar e fachiar, é ouvir causos de “Camões, do “Reis” e do
“Malasarte”. É ir a missa, agradecer e ter horror aos pecados, é colocar uma
peça de roupa estendida para secar, é beber água da torneira após o “racha”, é
ver seu time jogar completo num gramado perfeito, é assistir Daniel Boone e
outros faroestes na tv, é assistir no Lux, Catherine Deneuve em Pele de Asno, é
ver festival Tom & Jerry. Assistir retreta no coreto, desfiles de sete e
dezesseis de setembro, dar banho no seu cachorro. Parar um taxi e se esconder.
Ter receios do papa figo. Espremer tumores e perder as tampas das feridas nas quedas
em calçadas de cimento. Tomar injeção com a Jandira. Comprar no Pedro Rico.
Colecionar trocos do seu Miranda. Agitar uma bandeira da pátria diante dos
restos mortais de D. Pedro I. Como pseudo juiz de paz casar sua paquera com seu
melhor amigo nos festejos de São João, São Pedro e São Antônio. Ganhar um jogo
de basquete no último minuto por diferença de um ponto com um arremesso seu.
Atender uma ligação telefônica para você quando o telefone possuía quatro
dígitos. Fazer picnic. Forçar revoadas de morcegos. Costurar o próprio bisaco.
Assistir o parto de animais. Assistir junto com o por do sol revoada de
andorinhas. Colher donativos para os mais necessitados. Subir nos telhados.
Desenhar mapas.
Neste
contar há no meu coração, na minha mente, no meu espírito a salutar marca que
as pessoas deixaram; gosto de gente e entendo que gente tem gosto: Gosto de não
quero sair de perto, gosto de travo, gosto de carinho, compreensão e zelo,
gosto de risco, gosto de saudade, de boas lembranças de delícias de falta algo
de evitar de graça de esquisito de cordialidade de gentileza de atenção de
esquecimento de gostar mesmo de sem explicação de nenhuma explicação de explico
não.
Registro
que para todas essas “aventuras” havia uma conexão entre quintais e a
Carrapateira, fazenda em Quebrangulo, onde a minha satisfação era tão plena que
só pensava em quando morrer ser enterrado naquela propriedade.
Registro
ainda como foi bom crescer nas Alagoas.
RCF, Maceió 18\08\2014
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