LUÍS SÁVIO DE ALMEIDA PENSADOR
É TANTO OURIÇO QUANTO RAPOSA
França
Júnior é
advogado criminalista, professor de Direito Penal, mestrando em Direito pela
Universidade de Coimbra, especialista em Psicologia Jurídica e em Ciências
Criminais, pesquisador vinculado ao CNPQ, membro da Coordenação de
Acompanhamento do Sistema Carcerário do CFOAB, coordenador adjunto do
laboratório do IBCCRIM em Alagoas.
Contato:
francajuniordireito@gmail.com
Luís Sávio de Almeida
sempre nos foi um nome familiar no ambiente acadêmico. Professores, alunos e
funcionários das principais instituições de ensino universitário por onde eu
transito e com os quais me relaciono já tinham ou conhecido ou ouvido falar do
professor Sávio. Sua mais recente empreitada, a de reunir os mais variados
segmentos da sociedade alagoana para discutir temas de relevo, fez-nos
aproximar. O projeto “roda de conversa”, portanto, inaugurado com o tema “a rua
e a democracia”, cristalizava a ideia de que era preciso discutir com
profundidade a relação existente entre Direito, sociedade e violência no
contexto do Estado de Alagoas, produzindo, como resultado, literatura de
qualidade a respeito.
Egresso do curso de
Direito, de onde inclusive foi professor, Sávio, sempre preocupado com as
questões sociais, políticas e econômicas mais prementes, ao longo de sua vida
acadêmica, foi-se afastando da dogmática jurídica, à época ainda muito
arraigada ao engessante positivismo, para visitar com mais intensidade outras
áreas das ciências sociais, a começar pela própria sociologia e, sobretudo,
pela história, ramo através do qual fez seu doutoramento. Dessa forma, apesar
de compreender a importância instrumental do Direito na busca por uma sociedade
verdadeiramente justa, Luís Sávio de Almeida, numa atitude nada cômoda, “atreveu-se”
a explorar horizontes ainda mais vastos e complexos na busca por respostas.
Nesse percurso, as
questões relacionadas aos problemas sociais enfrentados pelas comunidades
quilombolas e indígenas, as relações de poder no ambiente laboral,
especialmente na área rural, bem como o resgate da história alagoana e suas
démarches políticas foram o centro de gravidade de sua atuação. Mas o conjunto
da obra, na nossa perspectiva, aponta para, dentre outras coisas, a construção
de uma sociedade de certa forma ilegítima, cuja construção está permeada pelos
interesses das classes mais abastadas, muito embora, alerte-se, não se perceba
a simplificação maniqueísta com a qual muitos teóricos se abraçam na lida com
esse tema. Esse é justamente o seu diferencial!
Todo esse espaço já
consolidado na comunidade acadêmica, não só a alagoana, tem generosamente servido
de suporte para uma “nova safra”, na qual me incluo, interessada em articular
toda essa experiência acumulada, com as atuais necessidades da modernidade e as
novas configurações das áreas do conhecimento. Profissionais como Sérgio
Coutinho, Hugo Leonardo e Bruno Leitão, professores do curso de Direito, a priori arregimentados, dedicaram-se a
produzir artigos científicos que acabaram por lastrear o (primeiro de uma
série) livro “Direito, sociedade e violência – reflexões sobre Alagoas”,
prefaciado por Alessanra Marchioni, e que também conta com a participação das
professoras Karla Padilha e Elaine Pimentel.
Assim, a pavimentação
de um caminho de convergência entre as mais variadas áreas do conhecimento, sem
perder em profundidade, nomeadamente a ênfase entre história, sociologia e
Direito, é uma marca na vida de nosso professor Luís Sávio de Almeida,
representando muito bem a mesma capacidade de articulação que Celso Lafer, em
seu “A reconstrução dos direitos humanos”, atribuiu a Hannah Arendt, inspirado
pelos versos do filósofo britânico Sir Isaiah
Berlin. Diz-nos Lafer:
"MUITAS COISAS sabe a raposa; mas o ouriço uma
grande". A partir deste verso do poeta grego Arquíloco, Isaiah Berlin
propôs sua conhecida classificação de escritores e pensadores. Os ouriços seriam aqueles que tudo referem a uma
visão unitária e coerente, a qual opera como um projeto organizador fundamental
de tudo o que pensam. Tendem, portanto, a uma perspectiva centrípeta e monista
da realidade. As raposas seriam aqueles que se interessam por
coisas várias, perseguem múltiplos fins e objetivos, cuja interconexão,
ademais, não é nem óbvia nem explícita. A tendência que aí se manifesta é
centrífuga e pluralista.
Por fim, digamos nós,
parafraseando Celso Lafer, que Luís Sávio de Almeida pensador é tanto ouriço
quanto raposa. Vida longa ao mestre!
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