SALVE,
SÁVIO LUIZ DE ALMEIDA: CAPITÃO DE TODAS AS MATAS!
Professor Cícero Albuquerque
Salve, Luiz Sávio de
Almeida, capitão de todas as matas! Capitão das matas do Litoral, das matas da Mata,
das matas acatingadas do Agreste e do Sertão. Capitão das matas dos índios, dos
negros, dos pobres e brancos. Salve, capitão dos aquilombados, dos cabanos, dos
sem terra. Salve, capitão dos povos rebeldes e dos portadores de esperança.
A mata é lugar de
resistência, lugar de acoitamento, de trama contra o poder e contra a opressão.
A mata é espaço de vida, de organização e cenário de luta política dos pobres e
dos oprimidos. Na mata se esconde e se revela a sociedade alternativa,
contraponto da ordem escravocrata, monocultora, latifundista e patriarcal cujo
modelo se arrogou único e absoluto entre nós.
Na mata, capitão Sávio,
lutas ombro a ombro com Zumbi dos Palmares, és companheiro de Camoanga, de Vicente
de Paula, de Décio Freitas, de Clóvis Moura, de Edison Carneiro, de Manuel
Correia de Andrade, de Dirceu Lindoso, de Maninha Xucuru, de Carlos Lima, de Débora
Nunes e de tantos outros companheiros e companheiras das matas alagoanas,
muitos tão anônimos que não terão os nomes registrados na história, mas que cotidianamente
enfrentam com valentia incomensurável o poder e a violência nas terras esquadrinhadas
de Alagoas.
Tua arma é a palavra, a
escrita. Uma escrita que comporta e que faz ecoar a voz dos excluídos. Uma
escrita a favor dos humilhados e dos ofendidos. Uma escrita que não celebra o
poder, uma escrita que não busca heróis e que não reforça estamentos. Uma escrita que denuncia a justiça iníqua e
as tramas urdidas contra o povo pelo poder branco senhorial. Uma escrita que
registra a fala dos oprimidos sem lhe tomar a voz, que promove o protagonismo
dos índios, dos negros e dos pobres, mas que, sem titubeio, parte na defesa
destes quando as classes que dominam e seus interpretes tentam desqualificar e
criminalizar as lideranças populares e os movimentos sociais.
Uma escrita que narra e
denuncia as injustiças ocorridas em Alagoas, mas que, acima de tudo, registra e
ressalta as lutas e a capacidade de resistir dos índios, dos negros e dos
pobres nas terras alagoanas. É o capitão Sávio quem nos diz, por exemplo, que o
O
fim dos Palmares e mesmo a aproximação do açúcar às matas não inviabilizaram
que elas se constituíssem em território alternativo; e nem que se construíssem
sociedades alternativas. Os marginalizados continuaram a demora na Mata
Atlântica, uma área fundamental para a resistência. Era um local diferenciado,
dando-se o confronto permanente com a sociedade branca que envolvia o
alternativo. Desse modo, o espaço não seria um mero ponto de convergência de
fugas. (...) A sociedade alternativa demandava o ganho de um espaço para a
sobrevivência, ditada pela condição de resistência que daria o mote das ações
políticas de confronto com o senhorio (ALMEIDA, 2008, p.54).
O
Capitão Luiz Sávio de Almeida nos diz também que a Cabanada foi a luta dos
cabanos, sem contaminação, guerra de pobres que altivamente buscavam um lugar
próprio no mundo, bem como estabelece os nexos de continuidade da luta cabana
com o Quilombo dos Palmares e afirma que o Quilombo foi a mais importante
sociedade alternativa já experenciada em terras brasileiras. Por entender como
poucos o “cadinho de injustiças”, mas, principalmente os movimentos duradouros
da luta dos oprimidos nas terras de Alagoas, o capitão Sávio identifica com
grande propriedade que os conflitos e as ocupações de terras realizadas no
Litoral Norte alagoano nas últimas décadas por trabalhadores rurais sem terra reproduzem
o espaço de luta dos cabanos no século XIX e representam a cena presente de
luta dos oprimidos.
O
Capitão Sávio escreve a história no chão, é um estudioso das insurreições populares
em suas variadas expressões, investigador das causas dos pobres, das lutas por terra
e por liberdade. Sua inspiração vem das matas, das lutas de todos que fizeram
trilhas, que tomaram de assalto, que impuseram medo aos senhores e suas
parentelas, vem de todos que tombaram e de todos que triunfaram.
Mas
o Capitão Sávio também inventaria a luta dos operários e dos comunistas tecidas
nas fábricas de pano bruto. São muitos e variados os temas que despertam a
curiosidade do Capitão Sávio, pesquisa e publica sobre o carnaval, sobre o
futebol, registra tristezas e alegrias dos
de baixo, olha o mundo do lugar do índio, do negro, do pobre, do lugar dos que
resistem. No rebusco de suas memórias mais afetivas tem uma casa de farinha, com
maestria mistura realidade e fantasia; sem ardor, sem rancor, sem estreitezas e
com grande apetite, produz, projeta, alia seu corpo e seus sonhos aos de outros
insurgentes, conspira.
Salve,
Luiz Sávio de Almeida: Capitão de todas as matas!
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