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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Educação de rua: os meninos e o tempo




Para mim, sem dúvida, este é um dos melhores texto que orientei. A coragem e a inteligência de Cláudia Virgínia Medeiros Almeida, produziram esta pequena obra prima. Consegui entregá-lo para publicação através do Marco Antônio Coelho que era editor da Estudos Avançados;  ele havia me pedido um artigo sobre educação. Eu disse que nem tinha e nem iria escrever, mas tinha um texto fantástico de uma aluna minha. A generosidade dele, fez com que aceitasse ler.   Segundo Marco Antônio, Alfredo Bossi  (era o diretor da Revista) quando leu disse: Este é o moderno poema pedagógico de Makarenko. Anton Makarenko (ucraniano) trabalhou com as crianças em Moscou, quando da revolução russa. Atualmente, Cláudia reside na Alemanha.


Uma pequena nota

Luíz Sávio de Almeida

CLÁUDIA trabalhava comigo junto aos Kariri-Xocó. Depois veio a idéia de ir para a rua. Admirei a coragem. Conversamos sobre seu trabalho. Tinha que mudar: de índio para as ruas de Maceió. Sugeri que não perdesse muito tempo e que aproveitasse para escrever uma história das ruas, mergulhada por baixo nos escondidos do Paraíso das Águas ou Cidade Sorriso e, então, apareceu este Diário. É uma historiografia carrasquenta como a pereba e dolorosa como a facada. Sugeri que até mesmo evitasse corrigir o português pois soaria falsa. Na última vez que a vi, Cláudia estava doente: levou uma tremenda pedrada na cabeça e esteve ruim. Voltou, continua escrevendo sobre a história e encontrando-se com o menino que jogou a pedra. Tudo é assim mesmo; ninguém recebe duas vezes a mesma pedrada.
Cláudia Virgínia Medeiros Almeida, 26 anos, é graduada em História pela Universidade Federal de Alagoas, após ter apresentado o Trabalho de Conclusão de Curso intitulado: 'Ele deve estar chupando cana: um estudo sobre o desaparecimento e morte de crianças e adolescentes, em situação de risco, na cidade de Maceió'. Neste trabalho, ela comenta pormenorizadamente o dasaparecimento de um menor que se insinua neste texto: o Labirinto. Tudo se deu em circunstância até hoje não esclarecida oficialmente, havendo, contudo, a possibilidade de o inquérito ser reaberto.
Na realidade, o Diário de Cláudia vai bem mais além do que Maceió; passa fronteiras e ele poderia ter sido escrito nas mais diversas cidades brasileiras em que a composição urbana pode ser entendida como um gráfico da miserabilidade. Menores que estão aqui nas ruas de Maceió, estão nas mais diversas ruas das mais diversas cidades.
Por outro lado, é uma historiografia contundente e fundada em um depoimento prestado enquanto o tempo anda, destacando aquilo que se tornou mero componente de cenário: o drama humano. Nisso, reside a aproximação entre a história e a vida e realizá-la foi a primeira intenção do texto pois o menino de rua deixa de ser uma categoria a mais nas análises para sofrer, amar, chorar e morrer. É tanta a aproximação deste tipo de história com a vida, que mais parece ficção, mais parece com um autor correndo livre sobre as malhas do real e reinventando o mundo. Contudo, não é assim: é um depoimento com a marca do autor, mas imerso no real de quem faz das ruas um local de morada e, portanto, crú.

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