Este material deriva de uma conversa
mantida em Capela, na churrascaria do Telmo, quando de viagem de pesquisa que
fizemos pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Direito, Sociedade e
Violência, do Centro Universitário CESMAC, com o objetivo de começar a entender
as relações entre crise da economia do açúcar e impacto na sociedade,
atingindo, também, a questão da violência. Estávamos em companhia do Professor
José Santos de Almeida do IFAL/Marechal Deodoro.
A queda de uma usina mexe com o lastro
da construção urbana da Capela que pode
ser considerada como um caso, do que deve estar acontecendo na porção
historicamente mais nobre da economia do açúcar alagoano, tanto pelos lados do
Vale do Mundaú, quanto pelo Vale do Paraíba.
Agradecemos ao Telmo que é casado com
gente nossa do Pacaviral e ao Horácio, do lado dos Mellos tradicionais na
Capela. Em breve voltaremos com outros depoimentos sobre Capela, procurando,
especialmente, ouvir o poder público, pois iremos propor à Prefeitura, uma Roda
de Conversa sobre a situação do Município.
Boa leitura!
Capela, agosto de 2014
Luiz Sávio de Almeida
Telmo |
Quem é quem
Telmo
Rocha é comerciante em Capela e proprietário de conceituada churrascaria. Horácio Mello é tradicional fornecedor de
cana e pecuarista.
Horácio |
Sobre
Capela e Comércio
Telmo
Rocha
Telmo |
A
centenária Capela testemunhou ao longo de muitos anos o seu crescimento como
cidade. No entanto, nestes últimos tempos, parece enfrentar uma derrocada de
difícil retorno. Parece pessimismo, mas não é. A cidade que já teve uma Usina
de cana de açúcar, agora não consegue nem manter o trabalhador do campo. Os
comerciantes se equilibram numa complicada economia e aqueles que resistem de
pé parecem depender dos ventos políticos que sopram ou dos transeuntes de
outras localidades que por aqui passam.
Acumulando-se à baixa do comércio, Capela não possui mais semáforo, tem
asfalto mal acabado. O estádio e o esporte tornaram-se uma lembrança remota de
que talvez houve em outra época capelenses esperançosos.
A
matemática parece difícil. O município parece sobreviver de dois modos: da
prefeitura e do INSS. Nenhum lugar pode esperar crescimento real e efetivo a
partir destes meios. Do INSS porque depende de quem trabalha e os que recebem
não estão trabalhando; e da prefeitura porque esta é mais politica que
administrativa, mais atenta aos interesses de alguns poucos do que da população
inteira.
Diminui-se a cada dia a população
economicamente ativa, fecha-se o comércio, fogem os trabalhadores, vemos obras
inacabadas e mal feitas e muito lixo pela cidade. Frederic Bastiat estava certo
quando disse que “todos querem viver às custas do Estado, mas esquecem que o Estado
vive às custas de todos.”
Telmo |
Isto não
é debate político. Até porque é conduta latente da situação ou da oposição.
Talvez o povo não se dê conta que ao preferir seus interesses pessoais votando
em determinado candidato pode está arruinando o futuro de gerações inteiras. E
vislumbra-se com clarividência este terrível acontecimento no munícipio de
Capela. O que está se tratando aqui é de uma lógica racional em que se chega ao
seguinte resultado: ao perseguir de maneira imoral seus interesses próprios, as
pessoas têm negado a si mesmas um futuro melhor e digno.
Os prefeitos
perdem a oportunidade de ser bem quisto, deixar um legado e ser lembrado. Os
vereadores perdem a oportunidade de lutarem pelo povo que os elegeu e por uma
cidade desenvolvida, com saúde e educação. Os juízes de verem a justiça. Bom, e
povo perde tudo. Perde muito além do dinheiro de seus impostos que sustentam
luxuosos prazeres daqueles que administram a máquina pública, perde a
dignidade, a decência e a esperança em uma cidade que seja sinal de
prosperidade e paz para futuras
gerações.
Telmo |
O que é
preciso é nos engajarmos no valor do trabalho e da honestidade. O que hoje
sofre o comércio, sofrerá ainda mais o povo pela ilusão de uma vida fácil por
cargos e empregos públicos comissionados. Parece utopia ou surrealismo. Mas na
verdade não se enriquece honestamente sem trabalho. Inequivocamente, isto é o
que Capela mais precisa: locupletar-se somente no seu trabalho. A festa dos
parasitas termina quando acaba o dinheiro dos outros, talvez dissesse Margaret
Thatcher. O que vemos, por ora, é que o dinheiro está acabando, a festa é
questão de tempo.
Um pouco
sobre Capela e cana
Horácio
Mello
A função da Cooperativa da Capela
Eu tenho
53 anos de idade, sou plantador de Cana e pecuarista. São muitos anos de vida,
trabalhando aqui na área da Capela. Eu acho que a crise da Capela começa com o
fechamento da Cooperativa de Credito de Capela, que era uma das mais sólidas do
Nordeste, com um dos maiores capitais de
giro do Nordeste, com 52 anos de funcionamento. Foi fundada por Aristides Calheiros,
Eustáquio Moreira e depois reorganizada em 1970 pelo mesmo Eustáquio Moreira,
Porfírio Moreira Soriano e por Geraldo Melo.
Ela
gerava empréstimo para os produtores, tinha liquidez invejável, com todos
pagando o financiamento, chegando ao ponto de que em 1972, dois anos após a
grande seca, conseguiu o fato inédito de se dar a maior vendagem de caminhões
por cooperativa no Nordeste do Brasil: vendeu-se cem caminhões e isso leva a
resultados na produção, como o escoamento, a agilidade no trato com a matéria prima,
o que, evidentemente, era bom para o produtor e para a usina.
Todos
eles foram pagos. Era uma Cooperativa que abrangia mais os Municípios de
Capela, Cajueiro e Atalaia, era como se fosse uma Cooperativa de família, pois
todo mundo sabia da condição de quem era o que, quem produzia, quem podia pegar
aquele dinheiro, aquele montante – se pegasse, sabia-se que tinha condições de pagar aquele dinheiro que queria pegar mais um
pouquinho e sabia-se que não tinha condições de pagar, então se dava menos...
E assim
ela foi vivendo; teve a maioria do seu tempo no auge e contribuindo com o
produtor rural. Depois veio a dificuldade de credito que não se resumiu somente
a Capela, pois foi um fenômeno nacional e foi aquela inflação galopante, que se tomava
hoje1O reais e no outro dia estava-se devendo quase 20, e com isso houve uma
retenção do crédito dos produtores.
É como se o Cine Ceci contasse um pouco da história local |
Fechamento da usina
Depois é
que veio o fechamento da Usina João de Deus, que era uma usina de grande
tradição de pagamento. A Usina João de Deus desde o tempo de sua fundação, do
Coronel José Otavio e depois com o José Pessoa, em termos de fornecedor e de
operário, sempre se pagou em dia, Ai veio a mudança e passou para outro grupo e
ai veio a bancarrota: não pagava a fornecedor de cana, não pagava ao operário, não
se respeitava os direitos dos operários, os direitos dos fornecedores e se começou
a fazer uma serie de coisas erradas, inclusive contra Capela.
E daí...
Ela era uma usina pequena, moía ai suas 350 a 400 mil toneladas, tudo aquilo que se mandava para
ela moía ajustada e era o termômetro da região; quando o fornecedor da Uruba não
estava satisfeito corria para a João de Deus; quando era da Capricho, corria para
a João de Deus e era o centro das atenções, mas nesta última administração tudo
veio por água abaixo por ter sido péssima e a gente está nessa aí: sem nenhuma
usina neste raio. A gente vivia aqui numa situação privilegiada: era Uricuri,
Capricho, João de Deus, São Simeão e Uruba. Hoje resta a Capricho.
O fornecedor e a Usina
A razão...
Fala-se da crise da industria canavieira, mas ai a gente
tem indagações. O que mudou
mesmo, foi a visão do empresário de não querer
tratar o fornecedor de cana como parceiros. Tá aí um testemunho vivo, a Usina
Serra Grande. A pior situação geográfica
para se plantar Cana no Estado, chama-se Usina Serra Grande. É dito por todos
os fornecedores de Alagoas, que ela e Coruripe e Grupo Carlos Lira são as mais
sólidas; uma usina que mói uma cana na semana, na outra você está com todo o
seu faturamento no seu caixa. E é uma das usinas que mantém das maiores
produtividades do Estado. E vive de vento em popa.
A Usina Serra Grande – se tem
noticias – ela trabalha para pagar à gente e seus operários não é com a safra
que se inicia, mas com a safra passada. Então, se ela tem esta dificuldade de
topografia e tem esta liquidez, por que as outras não tem? É simples: eles não
pagam mais ao fornecedor de cana; elas não têm mais esta visão de que o fornecedor
é um parceiro. Simplesmente, o fornecedor hoje é escravo da industria
açucareira. E não temos mais condições de desenvolver canavial e é por isso ai
que a gente vé a maioria dos fornecedores entregando suas terras aos usineiros;
na hora de fazer o arrendamento, eles têm esta liquidez. Entao?
A queda da Asplana
Eu acho
que é uma falta de boa vontade para com o produtor rural que é visto hoje como
o inimigo do usineiro. Houve uma queda de posição do fornecedor. Com certeza, política partidária nao se mistura com
política canavieira e aconteceu aqui em Alagoas, quando a ASPLANA começou a ser
povoada por politicos de carreira partidária... Deu no que deu, a gente deu
para traz, ela deu para traz que tinha uma estrutura imensa...
Era uma
entidade que teve seus tempos áureos no tempo do Dr. João Carlos de Albuquerque
que tinha uma representatividade grande no Estado. Ate junto ao Governo
Federal, a ASPLANA era respeitada e quando se misturou política, deu errado; afundaram a ASPLANA e trouxe junto
com a bancarrota da entidade, os fornecedores.
Roupa pendurada no antigo Engenho Velho |
O pequeno fornecedor da região
Eu tenho
exemplo dessa safra agora... Dessa região daqui de Capela,
Santa Ifigênia, que eles
simplesmente deixaram a Cana – com dificuldade de caixa, precisando fazer dinheiro em pé, o restinho para sua
sobrevivência, para sua alimentação... Os custos que ele tinha para pagar, o frete, para cortar a cana, para colocar na
usina e não receber... Fez as
contas e disse: "Eu gasto 30 para botar a minha cana dentro da usina... Ja
não tenho dinheiro... E quando é hora de receber passa o ponto de passar sete
semanas..." Ele não suportou, ficou sem condições de caixa porque ele às
vezes tomava este dinheiro emprestado na esperança de receber na outra semana e
ai ficava sem o dinheiro que tomou emprestado, e sem o dinheiro daquilo que ele produziu. A
situação e muito grave.
Se fizer
um trabalho... Tem fornecedor ai... Não é só pequeno não...
Tem fornecedor de cana ai,
passando dificuldades tremendas, gente que tinha produção de 20.000 toneladas
de Cana, hoje esta produzindo 5.000. Antigamente, o fornecedor ainda tinha uma
carregadeira, um caminhão e hoje se acabou tudo com isso... As usinas fazem a colheita.
Eu mesmo vim acabar a minha colheita agora no dia 12 de abril, quando antes chegava
no mês de fevereiro tinha acabado com a safra. Cana que já passou o teor de
sacarose, 17 meses... Prejuízo para mim e prejuízo para a indústria. E um
descontrole total.
A distribuição da cana
Eu
colocava a Cana com oito quilômetros que era a João de Deus e 11 quilômetros
que era para a Capricho. Eu passei primeiro a moer para a Usina Utinga, lá
embaixo. Eu fui fornecedor ininterrupto durante 17 anos do Grupo Toledo e 17
anos da Usina São Simeão. A Usina Utinga, veio um grupo de fora, considerada uma das
melhores usinas do Brasil, somente da calote nos fornecedores de Cana. Houve uma
declaração do Presidente do Sindicato dos Trabalhadores falando da situação da
Usina, que era descompromissada com
trabalhador e fornecedor.
Fizemos
o possível para receber do Grupo João Lira e até agora nada. João de Deus
fechou devendo ao fornecedor de cana, direitos trabalhistas e, dai, o fornecedor
somente tem botado o pé no atoleiro pois ele não recebe. O fornecedor esta
prestes a ser excluído de todo este processo, pois se tira e não se bota, a
cacimba seca.
Poder e falência
Uma usina fale e o produtor fica sem receber e já existe
aquela questão do super poderio. Se o produtor denuncia a usina á justiça, já arrumou
uma briga com ela e as outras ficam de olho aberto. São muito unidos e começam
a lhe sufocar. Tem a carta compromisso mas eles decidem no outro ano a não
aceitar a sua cana... Quando a justiça vier resolver o feito, o produtor ja tem
morrido financeiramente. E ainda tem outro problema: a cana da Uruba, de
Lajinha vai migrar para onde?
Uma falência na justiça são anos e anos e anos, quando
chegar, inclusive, o direito do produtor; primeiro vem o do trabalhador, depois
o previdenciário para depois chegar no
produtor. Um grupo que dizer ter 800 milhões de patrimônio e deve quase duas
vezes isso: quando é que vai chegar no produtor? Já houve tanta negociação
tanto Ia quanto em Uruba para se receber em mel, açúcar e ate mesmo gado e aí
vai se diz que não tem condições, que o gado não é da usina e sim do acionista
tal e tudo vai sendo levado na barriga.
Na ASPLANA, essa administração até que melhorou um pouco, mas
tem muito o que fazer. Tudo neste Estado que se bota politicagem, acaba-se com
ela. Foi por ai que os produtores políticos acabaram com a Asplana, entidade
que tinha laboratório, desenvolvia variedades junto com o Planalsucar, cana de
açúcar. Hoje, o que se faz de variedades não chega como devia ao fornecedor.
Hoje a gente não recebe nem a rapa, da rapa da variedade. No produtor de cana,
a variedade não chega.
A ASPLANA foi desvirtuada; ao invés de ser uma associação
de classe produtora foi ser de classe política. A moderidade veio e nela a
decadência do produtor rural, do fornecedor. Alguma coisa andou errada, E tem
uma outra questão que normalmente a gente conversa. Usina de açúcar em Alagoas não dá, mas uma parte dos
usineiros de Alagoas tem usina em Sao
Paulo e ai vem o velho provérbio popular; Quem pariu essas usinas? Foram as
daqui.
Tem na legislação ainda do tempo do IAA, que diz que todo usineiro
para fazer exportação, tem de apresentar certidão negativa da Associação dos
Produtores de Cana e isso não vem sendo respeitado. Em Pernambuco encontraram
uma medida; só ha a exportação de açúcar, só recebe um incentivo fiscal do
governo do estado se comprovar que não ha débito com produtor de cana.
O açúcar e a Capela
Patrimonialmente, houve uma sensível perda. Antes, quando a
usina moía, mesmo que não se desejasse vender a terra, o produtor sempre
aparecia corretor na área, querendo saber, fazendo uma proposta; hoje, mesmo
neste patamar baixo, tem-se dificuldade de vender terra aqui. Eu conheço vários
amigos meus que, mesmo com o preço baixo, não conseguem vender. Quem comprava
antes a terra, era um vizinho, um produtor de cana, um criador de gado, mas se
ele hoje esta na mesma condição de quem quer vender, como é que ele vai comprar.
Então se fica esperando quem de boa vontade quer vir comprar.
De leite à pimenta
Produção de leite aqui já teve um auge e todo mundo sabe
que o leite passou por aquela grande crise e que se ficava derramando leite pela
rua; agora é que houve uma melhora com a compra do leite pelo governo do
estado, mas não é uma coisa que não é assegurada; às vezes de um governo para o outro se muda o
modo de ação e o produtor às vezes fica a ver navios.
A produção de pimenta aqui na Capela é uma realidade; existem
pessoas plantando pimenta e eles vendem para Minas Gerais. Mas é aquela história:
a pimenta esta cabendo, mas se todo mundo resolver plantar pimenta vai haver
excedente e onde ira ser colocado? Ou se faz uma coisa milimétrica, bem
acompanhada ou se terá problema.
Muitas pessoas já passaram para a pecuária. Uns já
arrendaram suas terras, esta questão de eucalipto, estão arrendando muita terra
na região, mas o faturamento é menor. E um faturamento mais sólido; o
faturamento diminui e consequentemente a mão de obra diminui e isso leva ao
desemprego na região que é grande e o impacto no comércio foi grande também.
As casas que existiam nas fazendas de usina foram todas
demolidas; o pessoal foi embora, parte veio para o centro urbano e a maioria
migrou, com uns indo para Maceió, outros para São Paulo. Piracicaba, se for contar os capelenses que tem lá...
Gente que reside lá, saiu daqui sem emprego. E o comércio em si, como um todo,
perdeu muito. Perdeu o dono da mercearia, do supermercado...
O valor das terras
O prejuízo financeiro é muito grande, inclusive as próprias
terras, que quando se perde uma usina, a valorização das terras das pessoas vai
lá para baixo. O valor das terras aqui na região era um dos mais bem pagos do
Estado. Hoje se compra terra aqui a preço de banana. A tarefa aqui, se tiver tudo muito bem
equipado, muito bem tratada e com a topografia boa, no máximo três mil reais;
tenho conhecimento de amigos nossos, que na época foi proposto um valor de 25
mil reais por um hectare, não deu, e
isso foi quando a usina estava em funcionamento; hoje o máximo que se consegue
é 10.000 reais com muita dificuldade.
A curto prazo em Capela, muita desgraça, infelizmente; em
termos de ver um novo horizonte, uma melhor economia, uma melhor distribuição
de renda... O produtor rural vem de uma seca.
Se pode dizer: o governo federal acudiu a quem devia a banco com a prorrogação de
dívidas... Se a pessoa de 15.000 toneladas de cana, depois da seca ficou com
5.000? O que você tomou emprestado, colocou dentro da
agricultura, perdeu... Não tem mais a
cana, o gado, mas tem o compromissos para pagar? O prazo foi prorrogado, mas o
compromisso continua e a produção nao existe e, ou se toma uma atitude séria no
Estado...
Eu culpo primeiro à nossa classe; ou a classe do fornecedor
de cana se une ou infelizmente a gente tem de pedir o socorro da classe
política para que isso seja resolvido. Não é resolver com um perdoar a dívida
como aquela coisa que houve no governo Sarney - aquilo viciou muita gente que
ficou dizendo: não vou pagar que o governo perdoa. Tem de se criar condições,
fazer um trabalho entre Secretaria de Agricultura, Universidade Federal,
EMBRAPA, Ministério da Agricultura para ver o que e que se pode fazer, que os
produtores de Capela, Murici, Atalaia, Cajueiro, Colônia de Leopoldina, esse
povo todo, para que se faça um trabalho sério e isso prospere.
A gente está acuado sem saber para onde pender, quem mudou
para gado, agora mesmo teve uma resposta melhor, o gado agora veio reagir
depois de um patamar mais baixo da história. A gente está com o pé no atoleiro
e esta cada vez mais afundando e com isso afundando, também, a nossa cidade. A
curto prazo não havendo um mutirão, um esforço de todas as partes e do governo,
eu acho que o bicho vai pegar.
Moer cana? Ninguém quer plantar: se moí e não se
recebe? 0 gado não e uma coisa que se
mude do dia para a noite; o gado você vai ter que acabar coma cana e aí vai ter
uma perda, que a receita da cana é maior
e vai ter que plantar o capim, vai ter de fazer a cerca, vai ter de comprar o arame, o herbicida; vai ter de
contratar a mão de obra, vai ter que botar o gado dentro; se for o gado já
adulto, você vai esperar um ano para que ele venha a parir, para dar você
começar a tirar um pouco daquilo que você empregou. Vai levar uns cinco anos
para você tirar aquilo que empregou na mudança de atividade, e como e que vai
fazer isso se a maioria do produtor rural, 95%, esta todo mundo com a corda no
pescoço?
Essa mudança... Banco é aquela
historia: se o negócio fosse ruim, banco
não emprestava dinheiro; então, tem, um custo disso e aí é onde a gente fica
preocupado, porque se toma dinheiro em um banco, sabe que tem de pagar; quem
tem responsabilidade, tem medo de tomar dinheiro em banco pois sabe que tem de
pagar e do jeito que a situação está, se tomar não paga. O espaço que fica
entre a mudança de cultura, o peso financeiro fica nas Costas do produtor e é
muito grande.
Hoje, não é somente jogar o capim em cima da terra; ou se
busca produtividade ou está fora do mercado. Então, esta cultura agora de baixo
carbono é uma saída, essa integração do eucalipto com a pecuária, so que isso
tem de ter um trabalho bem feito do Governo Federal; está se partindo para o
eucalipto; várias pessoas aqui da região já partiram para o plantio do
eucalipto, mas se daqui a pouco houver um excedente, onde é que você vai botar
esta produção se não existe uma unidade geradora de energia no Estado e para
onde vai este excedente? Eucalipto não espera; chegou no tempo tem de cortar e
vender para ter uma nova produção, honrar com seus compromissos, ficar gerando
emprego... Tem que haver uma coisa bem lapidada pelos órgãos de governo,
produtores para que não se cometa nenhum erro.
Estamos vivendo um impasse de giro e de patrimônio. Se for
feito um levantamento hoje de quanto existe de passivo, de fornecedores de cana
a receber nas usinas, falando em termos de Capela. Capela, uma Cidade pequena,
tem nas mãos dos usineiros ai, se for computado direito, mais de cem milhões de
reais empacados. É muito dinheiro.