OLIVEIRA, Josival. Uma visão do Movimento de Libertação dos Sem Terra em Alagoas. O Dia. Maceió, 29 mar. a 04 abr. 2015, Campus, p. 3.
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e-mail redacao@odia-al.com.brDois dedos de prosa
Os semterra retornaram a Maceió e
aqui ficaram de nove a doze de março deste ano.
Foi uma caminhada diferente das iniciais. Hoje contam com mais de cem
assentamentos e diversos acampamentos, em todas as regiões de Alagoas. Foi uma
caminhada conjunta das principais bandeiras do movimento, colocando a situação
da reforma agrária no Brasil e a condição de vida que se tem nos acampamentos e
assentamentos. Houve uma demonstração pública de que se mantém a capacidade de
reivindicar junto ao governo e uma demonstração à sociedade civil de que
continuam organizadamente a luta pela reforma agrária.
Campus
pediu a dirigentes que fizessem uma avaliação do que aconteceu. Trata-se de um
documento importante, pois, inclusive, é a primeira vez que se tem na imprensa
de Alagoas uma escrita integrada de diversos movimentos sobre aspirações,
propostas e reivindicações.
Vale
a leitura!
Luiz
Sávio de Almeida
Josival Oliveira
Coordenador
do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), membro do Comitê Estadual de
Mediação de Conflitos Agrários, membro do Grupo Terra, graduado em História e
mestrando no curso de História na Universidade Federal de Alagoas.
Uma visão do Movimento de Libertação dos Sem Terra em Alagoas
Por que nos mobilizamos?
A reforma agrária no Brasil alcança um dos
piores índices nas ultimas décadas. A escolha do governo federal pelo modelo
produtivo especulador e exportador não só consolidou o agronegócio, como também
priorizou financiamentos públicos elevados para garantir e aumentar sua
produtividade, tornando-se assim o modelo preferencial dos Governos Lula e
Dilma para o campo.
Em Alagoas, o uso da terra representou a
consolidação do desenvolvimento capitalista rural, que se alastrou de forma
intensa e dura, sendo determinante para a implantação do latifúndio monocultor.
A concentração da terra tornou Alagoas um Estado de miséria; sua política e
suas instituições públicas foram dominadas pelos coronéis latifundiários,
ocasionando uma interferência negativa e avassaladora nos aspectos político,
econômico, produtivo, cultural e social do povo alagoano. Concentrando 63% das
terras agricultáveis, com o modelo produtivo predominante da monocultura da
cana-de-açúcar, destrói a natureza, contamina o solo e as águas pelo uso de
venenos e concentra riqueza para poucos à custa da exploração do trabalhador
rural assalariado.
O modelo de reforma agrária do século XX
está superado, e por três razões. A primeira, o inimigo da reforma agrária não
é mais o latifúndio improdutivo e sim o agronegócio − uma força econômica
articulada com diversos e poderosos interesses econômicos, políticos e social,
combatendo a reforma agrária no campo e no plano institucional (Executivo, Legislativo
e Judiciário). A segunda, os investimentos não foram suficientes para superar o
desafio de transformar as áreas de reforma agrária em polos de desenvolvimento
econômico e social. Por fim, o Estado no Brasil não foi concebido para fazer a
reforma agrária; mesmo diante de todos os esforços e lutas travadas pelos
movimentos semterra, os marcos legais, os métodos e a concepção, estes
continuam sendo travas permanentes que barram a reforma agrária.
Somos um país rico com extensas áreas de
terras agricultáveis; a crise do capital e os problemas ambientais, alimentar e
hídrico são consequências da enorme concentração fundiária. Buscamos um novo
caminho, um novo ciclo de luta pela transformação da estrutura agrária no
Brasil.
Nossas movimentações seguem o caminho de
lutar por um novo ciclo produtivo que seja capaz de gerar políticas de inclusão
social e produtiva, garantindo uma segurança alimentar e potencializando bases
sociais do meio rural, com acesso e investimentos na educação, capacitação,
pesquisa e assistência técnica nas áreas de reforma agrária em Alagoas. Os
trabalhadores rurais semterra reivindicam a efetivação do programa de reforma
agrária como um instrumento para o desenvolvimento sustentável e a erradicação
da pobreza no campo alagoano. Assentar milhares de famílias, muitas destas
acampadas, à espera da desapropriação da terra há mais de 15 anos nas margens
de rodovias e fazendas. Cobram o cumprimento da função social da terra e a
desapropriação dos grandes latifúndios não produtivos para fins de reforma
agrária, com ampla democratização da propriedade da terra, distribuição de
renda e fixação de famílias no campo.
Se quisermos erradicar a miséria ou a
pobreza por completo, temos de ter investimentos capazes de superar a política
da transferência da renda mínima; melhorar os indicadores sociais; a expectativa
de vida; as taxas de mortalidade, mortalidade infantil e de analfabetismo;
saúde; alimentação e moradia. Isso tudo significa melhor qualidade de vida, acesso ao consumo e inserção produtiva.
A cada ano é reduzida a quantidade de
escolas nas comunidades rurais, a educação quase não existe, e quando sim, a
precariedade é completa. Segundo o Censo Escolar de 2013, no Nordeste, entre os
anos de 2003 e 2012, foram fechadas 16.892 escolas. Em Alagoas, entre 2012 e
2013, foram desativadas 795 escolas em áreas rurais do Estado. A educação no
campo é a saída para o analfabetismo intenso na zona rural alagoana. No
entanto, a ausência de uma política educacional voltada para os assentamentos e
acampamentos de reforma agrária agrava os problemas da comunidade. É o caso que
vem acontecendo com a juventude, que deixa de conviver e trabalhar com a
família na terra e vai embora para a cidade, em busca de políticas públicas, fugindo
da falta de oportunidades nos assentamentos.
A falta de educação, esporte, lazer e
trabalho é o principal motivo para que os jovens deixem a vida no campo e
venham viver na cidade. A esta dura realidade, reafirmam os trabalhadores
organizados que a educação é uma bandeira permanente de luta, com a perspectiva
de reivindicar uma outra realidade, afirmar a luta por políticas públicas que
garantam aos camponeses o direito à educação e escola, bem como requeiram uma
educação que seja no e do campo.
A temática da segurança alimentar é cada
vez mais discutida, e cresce a cada instante, tomando corpo e relevância no
debate mundial. Isso se dá seja pela luta para erradicar a fome de milhões de
pessoas, seja para garantir a qualidade dos alimentos, com a produção orgânica,
sem a utilização de defensivos agrícolas, gerando saúde, melhor qualidade de
vida e a preservação do meio ambiente.
As ações governamentais não resolveram
ainda o problema central do ponto de vista econômico, social e estruturante (estrada,
água, escola, moradia, saúde e lazer) dos assentamentos de reforma agrária e da
agricultura familiar e comunitária. Os investimentos e as linhas de créditos
são insuficientes para uma produção com agregação de valor, que possa
transformar esses trabalhadores e estas comunidades em áreas estratégicas. Os
pequenos agricultores, posseiros, quilombolas e índios têm total capacidade de
cumprir um papel no combate à pobreza, a partir de sua produção, promovendo a
transformação social no país.
As reivindicações dos movimentos sociais de
luta pela terra em Alagoas buscam fortalecer o trabalhador camponês na sua organização
política e social, buscando uma universalização de ações por parte dos governos.
Milhares de trabalhadores têm o direito de usufruir da universalização destas
políticas, tendo garantido o acesso a educação, saúde, saneamento básico,
tecnologia, cultura, lazer e políticas de incentivo à produção.
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