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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Luiz Sávio de Almeida. Conversa em torno de um tema: a agricultura de Alagoas



 Texto  publicado em Contexto de 11 de dezembro de 2011 em Tribuna Independente. Para este blog, estamos utilizando material digitalizado e com gerenciamento das imagens realizado por Kellyson Ferreira, com a coordenação do Professor Antônio Daniel Marinho. 









 
 
Contexto apresenta hoje, o que chama de Conversa em torno de um tema, basicamente a transcrição de uma conversa amigável entre especialistas. Hoje traz pessoas da alta direção de uma entidade sindical, para discutirem e deixarem depoimento sobre mudanças e atualidade
em nossa agricultura: trata-se da Federação da Agricultura do Estado de Alagoas. Temos que agradecer a Álvaro Almeida, Francisco Edilson Maia, Márcio Pinto e Noel Loureiro. Aqui está uma boa contribuição para a análise de nossa pecuária e agricultura. A sua grande importância não está no aprofundamento dos temas, mas por ser capaz de gerar inúmeras interrogações que podem levar a estudos e proposições.

•Sávio de Almeida
 
Conversa em torno de um tema: a agricultura de Alagoas

Luiz Sávio de Almeida
 
Luiz Sávio de Almeida

Durante pouco mais de duas horas, Contexto
reuniu dois diretores da Federação da Agricultura do Estado de Alagoas, um Assessor
daquela organização sindical e um ex-Secretário de Planejamento para darem um passeio sobre agricultura e pecuária no Estado, enfocando
mudanças e problemas atuais. Claro que nem arranhamos o problema, mas fica registrado um painel que interessa a todos os que estudam as
mudanças acontecidas no Estado e a conjuntura atual. Contexto supõe que a forma aberta da discussão leva a verificar uma espécie de dilema: ou temos Estado ou não teremos bom
futuro para a agricultura. Isto ajuda a colocar em xeque a tese do estado mínimo, na certa ele deve ser mínimo, mas um mínimo de máxima
influência.
  
A discussão recupera a monotonia do açúcar e do não-açúcar e é a ela, efetivamente, que fica reduzido o perfil da agricultura alagoana, ainda
incapaz de alavancar alternativas que passem pelos pequenos produtores, capacitando à renda. Às vezes, enquanto a conversa decorria, eu me pegava pensando se a pequena agricultura em Alagoas não era matéria de um mero e desgastado discurso sobre a conveniência de termos os pequenos, que simbolizamos em nossa insistência sobre 0 feijão, o milho, o arroz. Um pequeno que parece estabilizando-se perante uma pecuária leiteira, mas absolutamente sem lastro de garantia de efetividade de seus negócios, posto dentro de
uma ideia genérica de agronegócio como se a ele obrigatoriamente fosse dada a responsabilidade de assumir a lógica sistêmica de operações produtivas, mas sem ter poder, no que se demanda uma revisão que passe pela economia política, ou, em outras palavras, pela questão da economia associada à do poder.
 

É uma agricultura que fora do
mundo do açúcar é dada praticamente
como impotente perante,
pelo menos, três grandes elementos:
o primeiro é a falta de investigação
e de transferência de tecnologia; õ
segundo é a inexistência de uma
ordem logística para alavancar a
produção; e, finalmente, a integração
produtiva. Existe cana de açúcar,
mas o que é feito com o universo da
pequena produção? Parece que o
Estado de Alagoas acha conveniente
o seu Leste e muito pouco soube
fazer sobre seu Oeste e mesmo sobre
o seu Sul, entendido especialmente
para os lados do Baixo São Francisco.
De toda a conversa, fica um vazio
de Estado como a grande evidência e
isto indica a continuidade da história
de nosso agrarismo: os fatores de
capital ainda não se atualizaram em
nossa ruralidade e mesmo os que
se atualizaram passam por cima da
chamada pequena agricultura

A retórica parece ultrapassar,
de muito, as conseqüências das intervenções
realizadas, não importando
a intenção de fazer; não é de uma
hora para outra, que se faz uma
revisão na estrutura agrária e ela
não pode começar de fato, sem o
propósito efetivo de uma reforma
agrária, com, talvez, a principal
mudança acontecendo na própria
estrutura fundiária. Não existindo
mudança estrutural, todas as inovações
tendem à mera categoria de
justaposição do novo sobre o velho,
não ingressando nò cotidiano da
produção e sendo paulatinamente
carcomidas pelo arcaico, onde se
encontra o poder de mando.
A utilização de elementos cçmo
novo e arcaico como ferramentas de
análise, não nos leva a uma tese de
dualidade estrutural, mas à ênfase ao
processo de superação, único local
onde a mudança pode ser logicamente
posta. O desenvolvimento
não se faz com a justaposição, mas
com a integração e ele passa por uma
mudança, também, no perfil do próprio
poder ainda de marca acentuadamente
estamental. Na verdade, ou
Alagoas supera as instâncias de mando
do poder local, ou não se atualiza,
inclusive na agricultura, uma forma
de se perceber que a agricultura não
pode ser pensada como espécie de
um em si, como algo isolado, mas
posta no conjunto de providências
articuladas dentro de um escopo de
revisão estrutural a ser operada pelo
planejamento.
Os fatores a que chamaremos de
capital devem se estender o máximo
possível, beneficiando e integrando
toda a estrutura produtiva e não
maximizarem a forma de concentração
da renda no meio rural, modo
típico de resultado da justaposição.
A hipótese - que pode prosperar ao
ser examinada em seus detalhes - é
que a desconcentração de renda deva
ser matéria enfaticamente conduzida
pelo Estado e sobremodo estruturar
formas cooperativas, dar senso de
coletividade às suas propostas de
intervenção e mudança na ordem da
produção. Por outro lado, cuidar para
que a ideia de agronegócio não seja
e nem deva ser a de meramente organizar
um sistema verticalizante, mas
de natureza horizontal onde os links
fortaleçam os laços cooperativos.
E preciso debater e encontrar o
modo e a forma dos laços cooperativos
se estruturarem, comporem
e recomporem um sistema de
natureza atomista transformando-o
em sistema de natureza orgânica, integrado
pela articulação de interesses
e onde a renda se reparta ao invés de
concentrar-se. Não estamos, aqui, a
supor uma igualdade, mas uma equidade.
 
Aí sim, acontecerá mudança, pela recomposição do clássico modo de ser do agrarismo alagoano. Quem sabe, fugindo da verticalização ele consiga, evidentemente, gerar fatores novos, recompor o campo e a área livre para isto ainda se encontra, por exemplo, nas que concentram pequenos produtores de cana ou em todo espaço a Oeste, recompondo o econômico de Alagoas, especialmente passando pelo Baixo São Francisco e no agreste e no sertão. O capital na agricultura alagoana é um grande devedor do agreste e do sertão e isto transparece em toda a conversa que foi mantida, pelo menos a nosso ver. A não ser, que se adote a tese de que é perda de tempo pensar no Oeste do Estado, ou, numa linguagem mais tosca, qué se lixem. Pensamento, sem dúvida, de má índole democrática e a subsidiar a ideia trágica da
montagem de uma fábrica para fazer salsicha de pobres.
 
A atividade de base do Estado para recompor umá agricultura e uma pecuária alagoanas passa pelo agreste e pelo sertão, áreas sempre marginalizadas e jogadas para a posição de um secundário econômico, face, especialmente à queda do algodão e à manutenção do prestígio político do leste açucareiro. Esta “dualidade”
alagoana entre Leste e Oeste tem que ser esclarecida e recomposta com urgência; neste sentido, o sertão e o agreste têm que demonstrar, efetivamente, peso de pressão política e, neste contexto, primar pela busca de iniciativas de fórmulas cooperativas para que se distribuam os resultados e não que sejam concentrados, gerando a idéia de uma afluência que é apenas aparente, pois não mexe na estrutura de produção. Agreste e sertão têm que se transformar em categoria política de peso e isto requer, novamente é preciso ser dito o senso da demonstração pública dé força com relação ao Estado. Agreste e sertão devem se levantar, buscarem união de pleitos, estabelecerem a própria inteligência orgânica, passar por cima do arcaico das formas de poder, superá-las para ter avanço, inclusive, èconômico.

Durante a conversa, o papel de Contexto foi provocar, instigar, propor temas, fomentar a discussão. Contexto não afirma durante a conversa, apenas pergunta para estimular
as posições. A função de Contexto é traçar um grande painel sobre Alagoas. Foi para isto que a Tribuna Independente o criou: deixar um legado para a visão de nossa atualidade e, com isto, subsidiar algo fundamental que é discutir Alagoas. Não é possível passar por esta discussão sem tocar no vetusto setor primário,
da economia.
 
Contexto gerou este documento para o estudo de Alagoas. Difícil deixar de se considerar o que foi dito durante a conversa, tanto agora quanto no futuro. Contexto sabe que é uma contribuição para uma sociologia rural, mormente nos aportes sobre mudança e tem a certeza plena de que no futuro, este material será de leitura obrigatória, especialmente na categoria da análise do poder no que diz respeito às relações internas e externas das atividades econômicas ligadas à agricultura.
 
O documento guarda um eixo central e  sua fragmentação é aparente. A coluna dorsal dos problemas da agricultura alagoana está disposta,impressionando ver a continuidade do discurso modernizante e a persistência do retardamento estrutural, o que. afeta sobremodo ao pequeno e médio produtor. O grande produtor tem condições para pontuar seu próprio caminho, como ficou demonstrado pela posição assentada sobre o açúcar em nossa discussão, bem como sobre o percurso de uma genética que recupera - não se sabe o quanto - aquilo que aconteceu com as matrizes que nos deram uma famosa bacia leiteira. Contexto ficou em dúvida: pode efetivamente ter acontecido uma renovação genética na pecuária de Alagoas ou ela se localiza nos altos estratos da produção? Até que ponto ela chega para os

pequenos produtores, se é que pode chegar? Chegar como? Contexto agradece a Márcio  Pinto que ajudou na montagem desta conversa e, especialmente, agradece ao Presidente Álvaro Almeida e ao Vice-Presidente Francisco Edilson
Maia, da Federação da Agricultura do Estado de Alagoas que nos deram atenção privilegiada, bem como ao Assessor da entidade, Noel Loureiro Foi um diálogo franco, aberto, e portanto valioso. Este é um primeiro trabalho de Contexto na linha a que vamos chamar Conversa em torno de um tema. É extremamente salutar quando se dialoga na presença pública e a Federação nos dá um exemplo, ao aceitar este papo tranquilo e, ao
mesmo tempo, forte. Nosso reconhecimento
pela fidalguia e inteligência dos diálogos.
 
Conversa em torno de um tema agricultura alagoana(l) 
 
AVANÇO TECNOLÓGICOE PRODUTIVIDADE

ÁLVARO: Foram vários os
avanços tecnológicos, comparando
com os tempos de meu pai. Naquela
época você criava numa área extensa,
sem qualquer tecnologia. Então, um
boi aumentava 2,3 arrobas no ano.
Quando comecei, a média do meu

gado de abate era 8,9 arrobas por
cabeça, as fêmeas, um pouco mais
os machos. Hoje são, em média, 14,
15 arrobas em Mar Vermelho. Você
conseguia com muita dificuldade,
quando o gado era muito bom, um
aumento de 3 a 4 arrobas ao ano, por
cabeça. Hoje se consegue muito mais.
Você consegue apartar um bezerro
hoje com 7,8 e, algumas vezes, até 9
(,10) arrobas, bezerro com 7,8 meses
de idade. Você não se preocupava com
a vermifugação; não tinha orientação
técnica. Hoje, quase todas as fazendas
têm veterinário ou assessoria de técnico
agrícola. Então isso é evolução.
Você está produzindo mais, tendo produtividade maior, inclusive com
áreas menores.
 
MELHORIA GENÉTICA 
 ÁLVARO: A melhoria do pasto
vem de uns 40 a 45 anos. Foi evolução
natural; preocupação com a produção,
produtividade maior, com área
menor. A vermifugação, sal, melhorar
as matrizes.... E fazer a inseminação
artificial melhorou a raça. Hoje nós
temos Nelore que (não) faz inveja.
Tem-se uma genética muito boa em
Alagoas.
Nós tínhamos uma grande
evolução já na época da famosa bacia
leiteira, instalada em Mata Grande
e conhecida em todo o país. Depois
retrocedeu, ao ponto do Geraldo Sampaio
ter dito: “Naquela época nós tínhamos
uma bacia leiteira, hoje temos
um pires de leite”. Mas a culpa foi do
governo, que deixou Alagoas acabar
com á bacia leiteira. As nossas vacas,
naquela época, foram compradas pelo
Rio Grande do Norte, Ceará, as grandes
matrizes... Mas ainda temos gado
de leite de excelente qualidade.

 
A BACIA LEITEIRA
 
ÁLVARO: Era conhecida nacionalmente,
a nossa bacia leiteira; fomos
referência nacional. Mas hoje, sentimos
que com esse programa do leite,
tem sido crescente o desenvolvimento
da bacia leiteira. Inclusive, para não •
perder o fio da meada, mantendo esse
preço, que, se não é uma excelência, é
dentro da normalidade da atividade,
haverá continuidade. Nós ficávamos
presos a dois ou três compradores e
era um cartel. Hoje esse programaestimulou a atividade e ela está se
recuperando

O fim do curraleiro e a manha do boi

NOEL: Você tem que levar em

consideração o seguinte: o boi era
menor... Inclusive um dos motivos)
por que o aumento do índice de produtividade
na pecuária (demanda dos
movimentos sociais) é inócuo como
forma de se coletar mais terra para
a Reforma Agrária é que se tem que
levar em conta que o boi de abate de
antigamente levava 4 anos para chegar
a 12,13 arrobas. Hoje o boi leva 2
anos e atinge 17 a 18 arrobas. Então
a quantidade de pastagem que ele
absorve é maior, ele precisa de mais
área. Então se você for por essa linha
de produtividade, você vai ter que
aumentar a quantidade de área por
animal, porque o animal come mais
pastagem.

ÁLVARO: O boi não era assistido,-
é verdade. Você criava como se
criava antigamente o porco. Você já
imaginava: o porco só se dava bem no
sujo. Hoje a gente vê o contrário. A
pocilga é a coisa mais limpa que tem
na sua fazenda. Os dejetos descem por
gravidade. Então quanto mais limpeza,
mais saúde o animal tem. O boi
curraleiro desapareceu. No Maranhão,
naqueles lugares mais atrasados no
Maranhão você ainda encontra, mas
aqui em Alagoas não existe mais.
NOEL: Agora!, esse negócio que
seu sogro falou, Sávio, que o boi ficou
manhoso, você tem que levar em
consideração o seguinte: à medida que
o nosso gado ‘Nelorizou-se’, o boi Nelore
exige trato. Se você pegar um boi
Nelore, jogá-lo a pasto, deixá-lo para
lá, você só o pega “na bala”, porque Se
transforma numa fera
.
ÁLVARO: Você entrava no curral,
ficava louco com medo do Nelore.
Hoje, você vai, alisa. Está domesticado
pelas vezes que vai ao curral, com o
manejo. A gentè não tocava numa
ela morria de parto, porque ninguém
sabia fazer nada. Você não salvava
um bezerro. Hoje o camarada faz umparto,
faz transferência de embrião,
faz inseminação, tem ultrassom. Hoje
um bezerro, uma égua, o veterinário
diz: é fêmea, é macho. Essa é a grande
evolução. Hoje tem-se sêmen sexado.
Você ficava louco para tirar o leite de
uma vaca de primeira cria. Hoje você
pega uma de primeira cria, bota na
máquina, na ordenhadeira, ela parece
uma coisa mansa. Você vai lá, alisa...
 
TECNOLOGIA E RENTABILIDADE

SÁVIO: Mas agora eu lhe faço uma pergunta, que pra mim é essencial? Toda essa tecnologia afetou o que na rentabilidade

ÁLVARO: Eu acho que meu pai tinha menos obrigações, mas ele teve menos rentabilidade, muito menos rentabilidade
.
NOEL: Antigamente um cara com 150,200 rêses era um homem rico.
E hoje com 150,200 não tem dinheiro pra comprar uma moto.
ÁLVARO: Esse é o problema do sertão
.
MÁRCIO: Antigamente, o meu pai com a propriedade que tinha, era dito como rico. Hoje quem possui nas mesmas dimensões é um pequeno..
.
ÁLVARO: Você mantinha família na capital
.
NOEL: Você deve levar em consideração que houve uma mudança no perfil dos gastos. A gente não tinha internet, não tinha ar condicionado, não tinha 3,4 carros, etc

A ESTRADA EA MODERNIZAÇÃO DOS LADOS DO MAR VERMELHO 
 
ÁLVARO: Nós não tínhamos acesso para Mar Vermelho. Passamos 50 anos atrás de uma estrada, não era nem de'asfalto, a gente queria uma coisa aberta e nós não conseguimos. Viemos conseguir agora há 8 anos atrás. Aí Sávio, você pode perguntar: E por que não evoluiu nesses 8 anos? Eu acredito que ainda não evoluiu porque ainda não se destinou a instalar uma empresa, um hotel, o turismo ser mais levado para Mar Vermelho. Mar Vermelho muda quando aparecer alguém de visão pra aproveitar o turismo, que nós temos essas praias belíssimas mas não temos o turismo dos morros, das pessoas que gostam das fazendas, o turismo rural... Mar Vermelho, não tenha dúvida, vai embora, porque nós temos o melhor clima do estado de Alagoas.

DA PROPRIEDADE PARA O ESTADO
 
SÁVIO: Quando você discutiu essa transformação que aconteceu na sua propriedade, você generalizaria isso para o estado todo? Com relação a genética, a produtividade...
ÁLVARO: Não tenha a menor dúvida. Mar Vermelho é interessante. (Ele) Até a cidade de Mar Vermelho, a gente pode dizer que é verdadeira zona da mata.-Quando você sai da cidade, (ele) já vai ficando “agrestado”. A gente chama esse termo agrestado, quando você vai em direção a Palmeira dos índios.
SÁVIO: Por que continua a tradição de gado ali?

ÁLVARO: É fácil responder. É por causa da nossa topografia. Eu posso dar uma estimativa assim talvez 80%, 85% da topografia de Mar Vermelho, ela é toda acidentada.
Problemas de renda e força de trabalho
SÁVIO: Nesses 50 anos da sua vida dedicados à agricultura e pensando no conjunto de Alagoas, diga: “Olhe, o principal fator de mudança na pecuária foi esse!” E a melhor coisa que aconteceu na agricultura foi isso!
ÁLVARO: Você começou a ter mais tratos culturais, novas variedades de capim e a preocupação com a genética e com a qualidade... Então na pecuária vejo, que foram os tratos culturais. A extensão naturalmente elas foram passando a pequenas propriedades, até mesmo natural, uma reforma agrária natural até dentro da própria família. Vamos dizer assim, você tem uma propriedade de 1000 hectares, 5 filhos... Hoje cada um tem 200 hectares. Então você começou a se preocupar com a qualidade da sua pastagem, aplicar tecnologia.

A PECUÁRIA LEITEIRA

EDILSON: Não só a sociedade brasileira como o mundo todo, começou a se preocupar com o produto de origem animal, a sua forma de abate, a sua forma de criação, seu tratamento com os animais e isso levou a um avanço qualitativo. É a lei da competitividade. Então isso tudo foi juntando. Por que limpar as pastagens? Limpar as pastagens porque precisa dar maior capacidade de apascentamento. Por quê? Porque as terras ficaram mais caras e mais difíceis. Você começou a ter maior rendimento de quilos de carne por hectare. Então isso hoje é muito forte na sociedade, a forma de tratamento que você está dando ao animal, desde o nascimento até o abate.
SÁVIO: Esse raciocínio de vocês com a pecuária é aplicado ao pequeno produtor ou ao grande produtor?
ÁLVARO: O pequeno produtor hoje, já está tendo essa preocupação, inclusive o que chama de economia familiar, ou de agricultura familiar. Isso não uma coisa só do médio e do grande. Tem pequenos produtores de leite produzindo mais do que os grandes produtores. Uma vaquinha dele está produzindo muito mais do que a vaca daquele que tem 100,200 vacas.
SÁVIO: E o leite dá dinheiro?

ÁLVARO: Leite hoje é uma dificuldade muito grande. Ou você tem uma dedicação exclusiva, ou usa
uma tecnologia muito grande, ou se preocupa com o custo, ou faz conta ou você está perdendo dinheiro. Para você ter uma ideia, agora nós temos um programa Balde Cheio inserido pelo SEBRAE, pelo SENAR e pelo governo do estado e tinha um cidadão que quando começou o programa, fizeram o custo dele e ele estava tendo um prejuízo de 135 reais/mês. Ele agora está tendo uma receita R$1050,00, R$1057,00/mês. Mudou o seguinte: a quantidade da terra dele não aumentou, as vacas dele não aumentaram; só o manejo, a tecnologia e a assistência técnica. Ele hoje tem lucro.
SÁVIO: Mas generalizando, onde está a grande rentabilidade do gado, no leite ou no corte?
NOEL: No leite se fatura mais, importante para quem tem áreas pequenas...
SÁVIO: Então tem essa distinção?
ÁLVARO: Ele tem dinheiro toda semana, ele tem dinheiro toda semana.
EDILSON: Se você fizer a conta, ele tem liquidez diariamente, a vantagem do leite na minha visão é que o produtor tem liquidez diariamente. É uma atividade que exige competência, conhecimento, dedicação e uma base alimentar muito forte.'
E o Estado, por onde anda?
SÁVIO: E o que significa hoje o Estado de Alagoas para o pecuarista e para o fazendeiro? E para o agricultor?
ÁLVARO: Olhe, nesse espaço de tempo que nós estamos à frente da Federação, eu acho que há uma preocupação muito grande do governo em restabelecer a produção, em dar assistência maior aos menores e tem tido uma atenção muito grande ao segmento. A não ser que eu esteja enganado, hoje nós somos ouvidos pelos diversos níveis de autoridades do estado de Alagoas.
SÁVIO: Quando isso começou?

ÁLVARO: Não posso ser ingrato com o ex-governador Ronaldo Lessa. Nós tivemos alguns avanços na sua época, mas talvez ele não tivesse na sua assessoria mais próxima, uma visão mais voltada para o meio rural, para a importância do agronegócio. Então veja, nós tivemos o programa do leite, foi no governo do Ronaldo Lessa, mas no atual nós tivemos uma atenção muito grande.
SÁVIO: Explica o que é ADEAL?
ÁLVARO: É a nossa agência de defesa animal, que cuida de aftosa. Aftosa só não, cuida da defesa animal de modo geral. O Estado de Alagoas hoje, na nossa visão, assumiu os compromissos e tem cumprido com o setor nos diversos segmentos.
SÁVIO: O que é que falta?
ÁLVARO: Nós queremos avançar no processo da febre aftosa, que ainda precisa de umas ações. Nós precisamos que a assistência técnica...
EDILSON: A EMATER volte 



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