Texto publicado em Contexto de 1 de janeiro de 2012 em Tribuna Independente. Para este blog, estamos utilizando material digitalizado e com gerenciamento das imagens realizado por Kellyson Ferreira, com a coordenação do Professor Antônio Daniel Marinho.
A conversa da militante Ana, casada com Piu
Ana Lúcia de Moura Bernardino
Eu sou Ana Lúcia de Moura Bernardino, há mais de 6 anos trabalhando com o movimento homossexual em Delmiro Gouveia. Começamos com um grupo pequeno. Já estamos na sexta parada da diversidade sexual do Alto Sertão. Há um número muito grande de homossexuais em Delmiro Gouveia e precisam de ajuda. O grupo existe por isso em Delmiro.
Eu venho de longe na militância Venho do PC do B, vem dentro de partidos políticos, e depois fui para o PSB. Atuei muito tempo no Movimento Sem Terra. Trabalhei muito dentro de movimentos. Meninos e meninas de rua em Maceió...
Eu venho de longe na militância Venho do PC do B, vem dentro de partidos políticos, e depois fui para o PSB. Atuei muito tempo no Movimento Sem Terra. Trabalhei muito dentro de movimentos. Meninos e meninas de rua em Maceió...
A vida pessoal
Nunca fui casada mais sou mãe de dois filhos; tenho um biológico e dois adotivos.
O biológico é André Luís de Moura. Já sou vó. Ele já tem 23 anos. Tenho uma netinha, a Mariana, de 4 aninhos. Tenho Naiara, 18 para 19 anos e Andréa Eduarda com 9 anos. A Andréa Eduarda eu peguei já tinha 9 meses de vida quando eu peguei para criar, eu e minha companheira; e a Naiara tinha 9 anos.
O início de seu relacionamento com Piu Piu era muito nova. Já era lésbica. Eu também tinha vivido alguns relacionamentos. O último meu foi com Gilvânia. Foram 7 anos. A gente terminou e conheci Piu; da era adolescente. A gente se conheceu por acaso em barzinho e foi se relacionando, vendo que existiam afinidades até que a gente decidiu morar junta.
Já tem 16 anos que a gente está junta, que a gente formou uma família de verdade, porque a gente estruturou a nossa casa, criamos nossas filhas dando a elas o que melhor a gente pode dar. É um relacionamento estável, bom, com acertos e erros, como qualquer relacionamento, mas há uma cumplicidade muito grande. E a gente pensa e vai conversar e conseguimos construir esse lar e mostrar que uma família não só se ela for heterossexual, se tiver papai e mamãe.
A formação de uma família As pessoas me perguntam muito a reação de meu filho, de André, em relação a viver com outra mulher porque ele acompanhou isso de pequeno. As pessoas questionavam muito que ele seria homossexual. Eu era homossexual, então meu filho também seria. E eu sempre deixei muito aberto para o André. “Olhe, André, existem 4 coisas que uma mãe não escolhe para um filho e um filho não escolhe para a máe: a opção sexual, futebol, religião, profissão. Isso são coisas que é você que vai determinar, como mainha vai determinar para a dela”. E ele encarou numa boa. Até hoje, meu filho é o maior parceiro. No meu casamento, foi ele quem entrou comigo. Respeita a minha companheira. A relação é muito boa. A gente conseguiu formar uma relação boa entre meu filho, minha neta, minha nora, minhas filhas e construir de fato uma família. 16 anos que a gente batalha junta, e somos felizes.
O velho preconceito
Na época que a gente tornou isso público, foi difícil para muita gente, inclusive para a mãe, para a família da minha companheira, que não tinha uma preparação, que ainda tinham muitos preconceitos arraigados e, assim, ainda não aceitavam com facilidade. Achavam que por mais que a gente tivesse uma relação, deveria ser fechada, uma relação que a sociedade não soubesse que a gente vivia junta como marido e mulher.
Até hoje, muita gente às vezes se choca e dizem assim: “É sua irmã? É sua amiga?” E eu sempre faço questão de dizer: “Não, é minha companheira!”. E ela também. “Companheira como?” “Minha mulher, minha companheira”. Eu e Piu, a gente conseguiu assim, durante esses anos, quebrar um tabu em relação a: “Quem é o homem das duas? Você é o homem? Ela é o homem?” Inclusive todo mundo esperava no meu casamento, a Piu de terno. Esperava que Piu entrasse de terno e eu de vestido de noiva.
O sucesso foi justamente quando todo mundo viu Piu vestida de noiva. Eram duas noivas e não um noivo e uma noiva. E a gente vê que isso vem de anos. É uma história, uma concepção de que a mulher lésbica, uma reproduz o papel de homem e a outra o papel da mulher. E havia cenas muito engraçada, com a minha companheira quando as pessoas iam chamar Piu diziam: “Ele ou ela?” E eu e Piu sempre fazíamos questão de dizer: “ela, não é ele, é ela”. Nós somos duas mulheres que se amam, e não um homem e uma mulher. E isso foi chocante, assim, o vestido...
O sucesso foi justamente quando todo mundo viu Piu vestida de noiva. Eram duas noivas e não um noivo e uma noiva. E a gente vê que isso vem de anos. É uma história, uma concepção de que a mulher lésbica, uma reproduz o papel de homem e a outra o papel da mulher. E havia cenas muito engraçada, com a minha companheira quando as pessoas iam chamar Piu diziam: “Ele ou ela?” E eu e Piu sempre fazíamos questão de dizer: “ela, não é ele, é ela”. Nós somos duas mulheres que se amam, e não um homem e uma mulher. E isso foi chocante, assim, o vestido...
As pessoas diziam assim: “Piu tirou seu brilho, Ana”. Porque realmente chamou atenção. As pessoas não estavam tão acostumadas a ver Piu tão feminina, mas eu acho que é isso, a gente tem que quebrar esse tabu e a sociedade, graças a Deus, que Delmiro está um passo a frente. A sociedade ainda existe muita máscara. Existe aquela sociedade hipócrita que diz que nos aceita, mas na verdade não • engole, tem medo. Acho que é medo de se misturar, mas a grande maioria e, por incrível que pareça, eu acho que a sociedade mais pobre realmente, aquela com menos... Que eu não esperava, com menos cultura, é a sociedade que realmente nos aceita.
É a sociedade que nos dá apoio. É a sociedade que nos parabeniza pela
nossa união, pelo nosso casamento, pela convivência.
É a sociedade que nos dá apoio. É a sociedade que nos parabeniza pela
nossa união, pelo nosso casamento, pela convivência.
As coisas mudam
Então Delmiro evoluiu muito. Delmiro, quando nós começamos era muito mais difícil e hoje há uma facilidade em se aceitar. E eu acredito também que é pela questão do respeito que a gente impõe, porque eu sempre digo assim: “Se você não se respeita, se você não dá respeito, você não vai ter esse respeito de torna”. Eu acho que se as pessoas aprenderem a respeitar, elas também vão ser respeitadas.
Agora, há lugares, como Paulo Afonso, a gente viu que uma homofobia internalizada muito grande... Externalizada, nem é internalizada porque eles demonstram mesmo que não aceitam, mas que eu acho que a luta é isso. É você dizer: “Estouou aqui, vim para essa relação, tenho meu direito de vivenciar essa relação. Eu não estou para chocar e sim porque ser feliz com a minha companheira e, então, viver a vida, erguer a cabeça e partir para frente”. Eu vejo dessa forma. Então são 16 anos de convivência e de luta, principalmente contra o preconceito.
Agora, há lugares, como Paulo Afonso, a gente viu que uma homofobia internalizada muito grande... Externalizada, nem é internalizada porque eles demonstram mesmo que não aceitam, mas que eu acho que a luta é isso. É você dizer: “Estouou aqui, vim para essa relação, tenho meu direito de vivenciar essa relação. Eu não estou para chocar e sim porque ser feliz com a minha companheira e, então, viver a vida, erguer a cabeça e partir para frente”. Eu vejo dessa forma. Então são 16 anos de convivência e de luta, principalmente contra o preconceito.
O trabalho com homossexuais
O GLAD foi criado em 2004.
Partiu de uma conversa minha com uma ex-companheira. Ela tinha saído para arrumar emprego numa casa de família aqui em Delmiro como babá, e a mulher rejeitou de uma forma humilhante, dizendo que achava que ela poderia bulir com as filhas dela, aliciar as filhas dela. Isso me chocou. Eu já trabalhava. Era uma pessoa que tinha meu trabalho fixo, e me chocou a ideia de que outras mulheres poderiam sofrer e estavam sofrendo as mesmas conseqüências: não trabalhar, não estudar, não participar de nada pelo fato da sua orientação sexual. A gente sentou com um grupo de pessoas, também gay e que também tinham sofrido algum tipo de preconceito, e resolvemos fundar um grupo em Delmiro Gouveia que fosse para rua falar sobre esse preconceito.
E foi aí que a gente conheceu em Maceió o Marcelo Nascimento, que nos orientou, de forma que a gente consegui formar esse grupo. Em 2006, surgiu a ideia de fazer a primeira parada da diversidade em Delmiro Gouveia. Confesso que a gente tinha medo.... Eu lembro que os meninos diziam: “Mas Ana atrás do trio não vai uma pessoa, porque quando o pessoal ver que é uma parada de gay, ninguém chega perto”. E eu dizia: “Mas vai estar eu lá, sozinha, com a bandeira do arco-íris e gritando”. Aí os meninos diziam: “Não vai não, estou com medo”. E a gente passou uma pressão de medo, de susto de como é que seria aceito
A PARADA GAY DO DELMIRO
E eu lembro que a primeira parada que eu subi no trio, chorei, porque quando olhei para baixo que vi tantas pessoas dando apoio, confesso que foi uma emoção muito grande.
E daí, o grupo foi se consolidando, vendo que o movimento gay não se resumia apenas a fazer uma parada, mas sim também a realizar seminários, a discutir a questão da prevenção, a discutir a questão de direitos. Em 2007, a gente fez a segunda parada. Eu acho que o momento que marca a parada de fato é 2008, porque a gente atingiu um público inesperado. Caravanas de outros lugares começaram a se dirigir para Delmiro Gouveia.E a parada de Delmiro Gouveia começou a ser falada não por nós, mas pela imprensa de todo o Estado, que era a melhor do Estado de Alagoa. Até hoje Delmiro continua com o nome de melhor parada e assim não a gente, mas segundo o próprio movimento de Maceió, a parada de Delmiro supera Maceió em organização, em preocupação com as questões sociais.
A gente tem tentado, de 2008 para cá, dar um caráter mais político a parada. A gente, agora em 2010, levou três artistas caracterizados com pinturas, como que tinham levado porrada, pancada, para mostrar a questão da homofobia, do preconceito contra os gays. Então a gente tem tentado dar a essa parada um caráter de manifestação. Esse ano, a parada de Delmiro pretende usar muito mais palavras de ordem, muito mais grito de ordem, falar mais sobre esse preconceito. A gente sabe que homossexuais continuam sendo assassinados. Recentemente, não tem um mês, não tem um mês, uma companheira nossa, colega da gente aqui de Delmiro Gouveia foi assassinada ali na feira de Piranhas com facadas. Faleceu. Era uma lésbica, inclusive conviveu comigo em minha casa. Passou um tempo com a gente em casa, mas aí ela foi assassinada na feira de Piranhas. Então a gente vê que esses crimes, eles continuam acontecendo. O crime contra a lésbica, contra o gay, ele continua. Contra travesti, essa é muito mais perseguida porque ela dá mesmo a cara à tapa, é muito mais agredida.
Retomando ao casamento
A parada em Delmiro Gouveia, o GLAD, tem essa preocupação de manifestação. Um momento em que a gente está ali dizendo que temos direito e que temos que exercer esse direito. O meu casamento depois de 16 anos foi uma forma também de dizer que esse é um direito da gente. O direito de a gente formalizar nossa união. As pessoas têm que entender que a união estável entre casais homossexuais não é uma coisa assim tão simples, não é: “Ah, eu vou viver com você hoje e amanhã vira oba-oba vou me casar”. “Ah fulano vai se casar”. Há todo nível nacional. A gente tem um respeito a nível nacional dentro da ABGLT, dentro da ABL e dentro da LBL; dentro de todas as associações nacionais, a gente tem se destacado e tem mostrado que a gente quer realmente fazer um trabalho sério em Delmiro Gouveia. A surpresa na nacional é que nós somos uma cidadezinha lá no sertão, mas que tem mostrado trabalho.
O pessoal de Maceió, principalmente nos setores públicos, na área de direitos humanos, na área de prevenção, admira nosso trabalho, respeitam o nosso trabalho. A gente conseguiu esse patamar, inclusive causando inveja em outras ONGs, sabe? E faço questão de quando vou para os eventos... Vou até com chapeuzinho de couro e dizer: “Sou nordestina sim, sou sertaneja sim”.
É muito importante e eu tenho muito orgulho quando eu vou
para um evento fora, em Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e que eu vou para uma tribuna falar sobre o nosso trabalho e digo: “Sou sertaneja sim, sou do sertão, sou de terra de cabra macho sim, mas também sou mulher macho, sou mulher de luta, sou mulher guerreira”. E eu acho que é muito importante. Eu acho que é justamente esse sangue sertanejo que me dá força para lutar, que me diz: “Sou capaz de vencer”.
A gente sabe que realmente o sertão predomina o machismo. A gente sabe que não é fácil. Ter um trabalho desses aqui no sertão não é fácil. E eu diria assim... Eu tenho muito orgulho de ser sertaneja e muito orgulho de fazer esse trabalho aqui no sertão de Alagoas. Eu já fui convidada, não só por um movimento, não só por um, eu fui convidada por movimento em Maceió, fui convidada por movimento fora do estado de Alagoas, para ir embora, me arrumavam um emprego, para eu ir embora trabalhar o movimento social em outros estados. E eu disse não, do sertão eu não saio.
É lá que eu quero realmente fazer o meu trabalho. Eu sou do sertão, vou morrer no sertão e quero continuar o meu trabalho no sertão, porque eu me sinto Ana Moura dentro do sertão. Eu não quero ser Ana Moura fora do sertão. Eu acho que é muito importante e realmente dá uma certa ênfase de ser esse trabalho no sertão. A gente viu na conferência agora em Santana do Ipanema, (onde se falava que o sertão vem tendo um trabalho de conscientização, de combate a homofobia e o quanto é importante que esse trabalho esteja vindo do sertão para a capital, então eu acho que é muito importante isso.
Felicidade de um casamento um trabalho e você não ter essa estrutura, esse recurso humano. Eu estou com uma gama de jovens gays em Delmiro Gouveia; absurdo o número de jovens gays que tem em Delmiro Gouveia. E estão todos aí, perdidos, desorientados, precisando de um apoio psicológico para se entenderem. A gente vê enquanto grupo o que é preciso... Precisamos de um advogado no grupo por quê? Acontecem casos de que? De homofobia, de discriminação...
As travestis nossas participam de capacitações em Salvador, Aracaju, em vários outros estados. Eu, enquanto lésbica, tenho me capacitado a nível nacional e levando os outros. Eles têm que estar capacitados e aptos. Então é isso. A gente tem essa preocupação em capacitar e formar novas lideranças. Ana Moura não vai existir para sempre e eu acho que o caminho certo é esse: é a formação de novas lideranças dentro do GLAD, que continuem esse trabalho e que esse trabalho se torne cada dia mais respeitado. O GLAD hoje, graças a Deus, é respeitado a um processo jurídico para que você realize uma cerimônia homossexual.
Você tem que dar entrada na vara de família; você tem que ir ao fórum; você tem que pedir um parecer jurídico à juíza para que você consiga esse parecer; você tem que comprovar que você tem anos de existência, de relação estável, que vocês vivem juntas há um determinado tempo; vocês têm que ter ou conta conjunta ou contrato de aluguel; testemunhos de amigos. Quer dizer, há todo um aparato para que essa cerimônia se realize. E que eu acho que isso é muito importante que haja.
PENSANDO NO FUTURO
Hoje o número de sócios do GLAD chega a uns 160, mas participar das atividades mesmo, eu acho que hoje a gente tem 25 pessoas que estão na luta, que quando a gente diz assim: “Vai ter uma capacitação, vamos participar. Vamos fazer hoje uma atividade”. Então a gente tem em torno de 25 pessoas dispostas a darem o sangue na hora que realmente precisa. Quer dizer, recentemente a gente ganhou aí um terreno. Vamos entrar agora na luta da construção da nossa associação de sede própria. Já temos a infraestrutura da sede e vai ser muito melhor com essa sede, porque a gente vai poder começar um trabalho mesmo como a gente sonha fazer.
Um trabalho onde a gente tenha psicólogos dentro do GLAD, onde a gente tenha advogados. Porque, veja bem, não adianta você terum trabalho e você não ter essa estrutura, esse recurso humano. Eu estou com uma gama de jovens gays em Delmiro Gouveia; absurdo o número de jovens gays que tem em Delmiro Gouveia. E estão todos aí, perdidos, desorientados, precisando de um apoio psicológico para se entenderem. A gente vê enquanto grupo o que é preciso... Precisamos de um advogado no grupo por quê? Acontecem casos de que? De homofobia, de discriminação...
As travestis nossas participam de capacitações em Salvador, Aracaju, em vários outros estados. Eu, enquanto lésbica, tenho me capacitado a nível nacional e levando os outros. Eles têm que estar capacitados e aptos. Então é isso. A gente tem essa preocupação em capacitar e formar novas lideranças. Ana Moura não vai existir para sempre e eu acho que o caminho certo é esse: é a formação de novas lideranças dentro do GLAD, que continuem esse trabalho e que esse trabalho se torne cada dia mais respeitado.
O GLAD hoje, graças a Deus, é respeitado a nível nacional. A gente tem um respeito a nível nacional dentro da ABGLT, dentro da ABL e dentro da LBL; dentro de todas as associações nacionais, a gente tem se destacado e tem mostrado que a gente quer realmente fazer um trabalho sério em Delmiro Gouveia. A surpresa na nacional é que nós somos uma cidadezinha lá no sertão, mas que tem mostrado trabalho.
O pessoal de Maceió, principalmente nos setores públicos, na área de direitos humanos, na área de prevenção, admira nosso trabalho, respeitam o nosso trabalho. A gente conseguiu esse patamar, inclusive causando inveja em outras ONGs, sabe? E faço questão de quando vou para os eventos... Vou até com chapeuzinho de couro e dizer: “Sou nordestina sim, sou sertaneja sim”.
É muito importante e eu tenho muito orgulho quando eu vou para um evento fora, em Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e que eu vou para uma tribuna falar sobre o nosso trabalho e digo: “Sou sertaneja sim, sou do sertão, sou de terra de cabra macho sim, mas também sou mulher macho, sou mulher de luta, sou mulher guerreira”. E eu acho que é muito importante. Eu acho que é justamente esse sangue sertanejo que me dá força para lutar, que me diz: “Sou capaz de vencer”.
A gente sabe que realmente o sertão predomina o machismo. A gente sabe que não é fácil. Ter um trabalho desses aqui no sertão não é fácil. E eu diria assim... Eu tenho muito orgulho de ser sertaneja e muito orgulho de fazer esse trabalho aqui no sertão de Alagoas. Eu já fui convidada, não só por um movimento, não só por um, eu fui convidada por movimento em Maceió, fui convidada por movimento fora do estado de Alagoas, para ir embora, me arrumavam um emprego, para eu ir embora trabalhar o movimento social em outros estados. E eu disse não, do sertão eu não saio.
É lá que eu quero realmente fazer o meu trabalho. Eu sou do sertão, vou morrer no sertão e quero continuar o meu trabalho no sertão, porque eu me sinto Ana Moura dentro do sertão. Eu não quero ser Ana Moura fora do sertão. Eu acho que é muito importante e realmente dá uma certa ênfase de ser esse trabalho no sertão. A gente viu na conferência agora em Santana do Ipanema, (onde se falava que o sertão vem tendo um trabalho de conscientização, de combate a homofobia e o quanto é importante que esse trabalho esteja vindo do sertão para a capital, então eu acho que é muito importante isso.
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