Saímos sem maior compromisso do que entrar no trem e chegar onde
possível. Terminada a viagem, eu pedi para escreverem assim que chegassem casa,
as impressões que teriam ficado; eram apreensões em bruto que posteriormente
seriam trabalhadas. Pedi para que a redação fosse o mais bruto possível.
Resolvi trazer a
público o que escreveram de forma bruta; grande parte de Maceió teria espanto
semelhante, ao ver-se no sacolejo de um trem.
Quero agradecer à
CBTU pela forma que nos tratou; um modo simples, digno e seguro.
Vamos ver as impressões que ficaram; alguns
dizem que a primeira impressão é tudo.
Pegue o VLT ou o trem e veja qual sua
impressão. Abraçamos todos os trabalhadores que se empenham, em fazer funcionar
o sistema em Maceió.
Um abraço.
Sávio de Almeida
Sol e trilhos
Emmanuelle Ribeiro Vasconcelos
Em uma manhã ensolarada de
sexta feira, acompanhada de amigos, tive a oportunidade e a felicidade de
utilizar o transporte ferroviário, até então só o conhecia a distância. Eu que
sou de uma geração do transporte rodoviário, do concreto, do asfalto, fiquei
emocionada por esse instrumento de locomoção me proporcionar sensações impares.
Cruzei com lugares nunca vistos ou vistos de um novo ângulo, como as cidades e
bairros que ficam as margens das linhas férreas, onde algumas surgiram devido à
instalação da ferrovia e que permanecem até os dias atuais.
A minha ingenuidade me fez
idealizar ainda uma máquina a vapor, ver a fumaça saindo do trem, mas lembrei
de que faço parte do mundo contemporâneo, onde outros tipos de energias tomaram
conta do planeta.
Essa viagem nos trilhos de
ferro e dormentes em madeira me fez refletir sobre essa individualidade, essa
forma autônoma de levarmos a vida, cada vez mais colocamos carros nas ruas e
perdemos a agradável sensação de estamos juntos de uma rotina conjunta cheia de
aprendizagem.
Ali naquele trem, existe uma
pluralidade de personalidade, estilos de vida, interesses, que se unificam na
história. Quando olhamos para trás, na
história dos vagões, lembramos que havia uma divisão de classes, onde as
pessoas, com maior poder aquisitivo, utilizavam o vagão mais confortável,
separados das demais classes. Hoje não nos deparamos com essas situações, todos
utilizam o mesmo espaço.
Ao chegar à estação do
Centro de Maceió, encontrei pessoas embarcando e desembarcando, crianças,
jovens e idosos, um lugar limpo e acolhedor. Por mais modificações que tenham
sofrido, nas estações ferroviárias, ainda se tem um charme, a pontualidade
inglesa ainda é uma característica permanente das estações.
A modernidade tomou conta
desse transporte gracioso, a bilheteria agora é informatizada, as portas dos
trens são automatizadas, os pontos de paradas, tudo mudou, mas há
características que nem o tempo consegue revogar.
Senti no trem uma poesia em
movimento, na forma com que as pessoas se comportam dentro e fora, o som
incomparável e único do trem ao deslizar sobre os trilhos, traz para os lugares
que possuem estações, um som endêmico, onde uma rotina de uma cidade acaba
sendo cronometrada pela buzina do trem.
Ao andar de trem, tive a
sensação de que andava por trás das cidades, de forma camuflada e por lugares
que só ele, conseguia alcançar. A cada
caminho percorrido, cidades e bairros iam chegando e outros iam ficando para
trás, pessoas partiam, outras desciam em seus destinos, compondo um dinamismo
de cenário, tanto no interior dos vagões quanto na paisagem externa. Algumas
estações eram solitárias, com características de paisagens rurais, ali o silêncio
era invadido pelo som do trem deslizando sobre os trilhos e a sua buzina
anunciava a sua passagem, com a certeza que aquele som já faz parte daquele
lugar, com hora marcada.
Um transporte que levou
tantas riquezas, que estreitou tantos caminhos, se depara com uma rota tão
tímida, que alcança distâncias tão próximas e insignificantes, que transportam
apenas sonhos e a singeleza de um povo carente. Acredito que a necessidade de
um povo faz permanecer vivo esse transporte, quem sabe um dia, o trem, volte a
ganhar a simpatia dos nossos governantes
e agracie os caminhos de ferro, pedra e madeira, que vivem na solidão.