Claudemir Martins Cosme
Professor de Geografia do Instituto Federal de Alagoas
- Campus Piranhas (2015). Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco (2015). Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba (2015), com mestrado sanduíche na Universidade Federal de Sergipe (2014). Graduado em Licenciatura Plena em Geografia pela
Universidade Estadual do Ceará (2011) e Graduado em Tecnólogo em Recursos Hídricos/Irrigação pelo Instituto Centro de Ensino Tecnológico – CENTEC (2004). Pesquisador membro do Laboratório de Pesquisas e Estudos sobre o Espaço Agrário
e Campesinato e do Núcleo de Agroecologia, ambos do PPGEO/UFPE. Atualmente concentra os estudos sobre a questão agrária no Brasil e em Alagoas.
- Campus Piranhas (2015). Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco (2015). Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba (2015), com mestrado sanduíche na Universidade Federal de Sergipe (2014). Graduado em Licenciatura Plena em Geografia pela
Universidade Estadual do Ceará (2011) e Graduado em Tecnólogo em Recursos Hídricos/Irrigação pelo Instituto Centro de Ensino Tecnológico – CENTEC (2004). Pesquisador membro do Laboratório de Pesquisas e Estudos sobre o Espaço Agrário
e Campesinato e do Núcleo de Agroecologia, ambos do PPGEO/UFPE. Atualmente concentra os estudos sobre a questão agrária no Brasil e em Alagoas.
A contrarreforma agrária no Brasil do século XXI:
notas sobre a espacialização dos assentamentos rurais e a (re)criação do campesinato assentado no campo alagoano
(II)
Claudemir Martins Cosme
Continuação
A segunda questão, é o fato dos dados oficiais do
INCRA apresentarem 4.038 imóveis rurais, ocupando uma área de 272 mil ha,
classificados como imóveis “inconsistentes excluídos”, ou seja, não são
contabilizados na malha fundiária oficialmente. De quem são essas terras? São
terras devolutas? Estão ocupadas? Perguntas que ficam no ar e que fazem lembrar
as pesquisas de Oliveira (2010) sobre as terras devolutas no Brasil, cercadas
ilegalmente pelos grandes proprietários. Sendo Alagoas, segundo o autor, o
Estado que tem o maior percentual de suas terras enquadradas como devolutas de
todas as unidades da federação: 36% do total do território.
Diante dessa realidade, o pensamento de Silva
(1971) se mostra bastante atual: “a Reforma Agrária precisa ser imediata, não
podendo arrastar-se indefinidamente na escala do tempo, frustando as esperanças
dos homens [mulheres] sem terra que vivem na época em que o processo é
deflagrado” (SILVA, 1971, p. 38). Na realidade, a história da formação
territorial brasileira nas últimas décadas, confirma, justamente, que a
manutenção da estrutura fundiária concentrada é uma característica da
contrarreforma agrária no Brasil (CARVALHO, 2014), arrastando no tempo o debate
da reforma agrária, frustando as esperanças de centenas de milhares de famílias
sem terra e aprofundando a questão agrária no século XXI.
Desigualdade, conflito e
violência no campo alagoano
Na formação
territorial capitalista brasileira, diferentemente das sociedades do modelo
clássico ocidental (formações territoriais capitalistas europeias), a reforma
agrária não foi um instrumento utilizado para redistribuição da riqueza. No
Brasil a concentração fundiária serviu (e ainda serve) aos processos de
produção e reprodução do capital, haja vista
não ter ocorrido a dissociação entre o capital e a terra historicamente. Nesse
territorio, as classes exploradoras desenvolveram um capitalismo do tipo
rentista, portanto, interessadas na renda da terra (MARTINS, 1981; OLIVEIRA,
2007).
Nessa esteira, a
biblioteca da questão agrária brasileira possui inúmeros trabalhos que apontam
para as consequências negativas de termos uma estrutura fundiária profundamente
concentrada. Por exemplo, Delgado (2014, p. 34) é taxativo ao
destacar os problemas que essa estrutura tem provocado, com repercuções gerais
para toda a sociedade, materializados na “[...] contínua e crescente
instabilidade social e insustentabilidade ambiental do sistema de “terra
mercadoria” face às necessidades de proteção e salvaguarda das populações e bens
da natureza”.
No caso do campo
alagoano, Lessa (2012, p. 24) evidencia que: “[…] os municípios que estão fora da zona canavieira são
aqueles que possuem menos concentração de renda entre os produtores rurais e,
ao mesmo tempo, são os que apresentam as menores concentrações fundiárias”.
Para ele há uma relação
entre a estrutura fundiária concentrada e a desigualdade na distribuição de
renda.
Já Albuquerque
(2016), estudando o tema da migração
temporária realizada por camponeses do Agreste e do Sertão para o trabalho
desumano no corte da cana, defende que essa migração forçada do campesinato,
não ocorre por razões conjunturais, como por exemplo a seca que assolou o
Nordeste nos últimos anos, mas por razões estruturais representadas: tanto pelo
monopólio da terra, como pelo caráter minifundista das propriedades camponesas:
“[…] as propriedades campesinas são minifúndios, o que compromete as suas
possibilidades de atender as demandas familiares” (ALBUQUERQUE, 2016, p. 89).
Assim, pode-se
afirmar que o minifundismo, a pobreza rural e a estrutura fundiária concentrada
são processos umbilicalmente ligados na formação territorial alagoana. Heranças
da forma de divisão da terra do período colonial, que se perpetuou e chega ao
Brasil moderno-colonial do século XXI, não sendo diferente em Alagoas. Não é
por acaso que Lira (2014), ao discutir a presença da pobreza e da indigência
(pobreza extrema) nesse Estado, entre 2003 e 2009, afirma que o segmento que
concentra os grupos mais vulneráveis da população nessas situações são, entre
outros: as populações rurais, os indígenas e os quilombolas.
Realidade esta, produto das ações do Estado
brasileiro, que nos últimos governos da República e de dentro do Congresso
Nacional, com sua bancada ruralista hegemônica, todos em sintonia com os
interesses do agronegócio, contribuem para a ampliação da desigualdade e da
pobreza no campo. Um bom exemplo pode ser verificado do direcionamento dos
recursos para o Crédito Rural. Dados disponíveis no Portal do Banco Central do
Brasil, referentes ao período de 1999 a 2012, revelam que o Estado de Alagoas
recebeu o montante de 3.615.708.607,13 para a aplicação em Crédito Rural. Desse
montante, 75,83% ou 2.741.651.376,62 foi abocanhado pelo
agronegócio. Restando para a agricultura familiar camponesa, no âmbito do
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), com todas
as limitações desse Programa, apenas 24,17% ou 874.057.230,51 (Ver Tabela 4).
Tabela 4 - Alagoas – Recursos aplicados
no Crédito Rural em reais (1999 – 2012)
Ano
|
Agronegócio
|
PRONAF
|
Total geral
|
|
1999
|
39.891.198,42
|
14.201.410,50
|
54.092.608,92
|
|
2000
|
29.112.309,95
|
5.335.761,01
|
34.448.070,96
|
|
2001
|
79.106.787,52
|
23.164.346,26
|
102.271.133,78
|
|
2002
|
75.801.377,40
|
26.220.493,12
|
102.021.870,52
|
|
2003
|
104.417.755,34
|
27.490.858,22
|
131.908.613,56
|
|
2004
|
106.801.143,88
|
30.759.652,82
|
137.560.796,70
|
|
2005
|
209.985.290,85
|
68.427.761,35
|
278.413.052,20
|
|
2006
|
332.445.135,15
|
86.790.237,11
|
419.235.372,26
|
|
2007
|
287.611.584,33
|
66.202.795,00
|
353.814.379,33
|
|
2008
|
285.009.737,94
|
62.823.238,49
|
347.832.976,43
|
|
2009
|
267.551.400,38
|
96.080.509,61
|
363.631.909,99
|
|
2010
|
278.629.598,73
|
101.929.803,51
|
380.559.402,24
|
|
2011
|
293.350.394,93
|
114.607.698,98
|
407.958.093,91
|
|
2012
|
351.937.661,80
|
150.022.664,53
|
501.960.326,33
|
|
TOTAL
|
2.741.651.376,62
|
874.057.230,51
|
3.615.708.607,13
|
|
Fonte: Banco Central (2017). Organização: Claudemir Martins Cosme
Aqui reside uma grande
contradição se levarmos em conta quem efetivamente produz alimento no campo
alagoano. Os dados do Censo Agropecuário 2006 são reveladores e comprovam que
são nos pequenos estabelecimentos rurais e não nos médios e grandes que se
concentram a produção agropecuária. Ou seja, é a agricultura familiar camponesa
a responsável pela maior parte da produção no campo alagoano. Somente a título
de exemplo: o IBGE registra que na produção de lavouras temporárias e
permanentes, 91,17% do milho em grãos, 87,58% da mandioca (aipim, macaxeira),
96,86% do fumo em folha seca, 99,27% da batata-inglesa, 99,4% do arroz em
casca, 61,18% do coco-da-baía, foram produzidos nos estabelecimentos com até
100 ha. Com relação ao rebanho pecuário, a história se repete, com 52,65% dos
bovinos, 66,11% dos caprinos, 71,98% dos ovinos e 77% do suínos, estão nos
estabelecimentos de até 100 ha. Apenas na produção da cana-de-açúcar temos um
quadro diferente, com: 11,35%, 35,18% e 53,47% distribuídos, respectivamente,
entre os estabelecimentos até 100 ha, de 100 a 1000 ha e acima de 1000 ha.
Nos dados da CPT (2000-2016), entre 1985
e 2016, foram registrados 651 conflitos no campo alagoano com 641.790 pessoas
envolvidas. São números que mostram a gravidade da questão agrária e os
malefícios da estrutura fundiária desigual no Estado. Do total geral, 95% ou
618 conflitos, foram do tipo “Conflitos pela Terra”, ficando os “Conflitos
Trabalhistas” e os Conflitos pela Água”, com 3% (19) e 2% (14),
respectivamente. (Ver Gráfico 1).
Gráfico 1 - Alagoas – Conflitos por
terra, trabalhistas e pela água (1985 - 2016)
Fonte:
CPT (1985 – 2016). Organização:
Claudemir Martins Cosme
Com
relação a quantidade de pessoas envolvidas, o quadro muda um pouco, mas a
tendência em relação ao número de conflitos se mantém: os Conflitos pela Terra
envolveram 370. 619 ou 58% das pessoas, 251.355 (39%) se envolveram nos
“Conflitos Trabalhistas” e os Conflitos pela Água” somaram 19.735 ou 3% do
total geral de pessoas envolvidas nos Conflitos (Ver Gráfico 2).
Gráfico 2 - Alagoas – Nº de pessoas
envolvidas em conflitos no campo (1985 - 2016)
Fonte:
CPT (1985 – 2016). Organização:
Claudemir Martins Cosme
Levantamentos
preliminares apontam que em Alagoas atuam os seguintes movimentos e
organizações sociais do campo: CPT; MST; Movimento de Luta pela Terra (MLT);
Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST); Movimento Unidos pela Terra
(MUPT); Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL); Movimento Terra Livre;
Movimento Via do Trabalho (MVT) e a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras
na Agricultura no Estado de Alagoas (FETAG-AL).
Contra suas
lideranças e os diversos sujeitos mobilizados e em luta, tem recaído
historicamente, um conjunto de violências e perseguições: tentativas de
assassinato, ameaças de morte, assassinatos, destruição de casas e roças,
prisões, entre tantas outras, como forma de acabar, amedrontar e desmobilizar
os sujeitos. Entre 1985 e 2016, somente os anos de 1985, 1986, 1990, 1998, 2011
e 2015, não constam registros nos dados da CPT (1985-2016) de pelo menos um dos
três processos que serão abordados aqui: assassinatos, tentativas de
assassinatos e ameaças de morte. No recorte histórico supracitado, foram
registrados 23 assassinatos, 37 tentativas de assassinato e 52 ameaças de morte
no campo alagoano (Ver Gráfico 3).
Gráfico 3
- Alagoas – Assassinatos, tentativas
de assassinato e ameaças de morte no Campo (1985 - 2016)
Fonte:
CPT (1985 – 2016; 2017). Organização: Claudemir Martins Cosme
Foi no ano de 1994 que
mais se registrou assassinatos no campo alagoano: três vidas ceifadas. Já 2008
com oito tentativas de assassinatos e 1989 com 13 ameaças, são os maiores
registros desses processos. No ano de 2012 havia sido o último resgistro de
assassinato, rompido em 2016, quando o sangue volta a correr na terra, com duas
vidas que tombaram (Ver
Gráfico 3).
A opção das
classes hegemônicas no Brasil em manter intacta a estrutura fundiária
concentrada, colide com os interesses dos diversos sujeitos do campo. E mais,
historicamente põe em risco a existência social desses sujeitos, haja vista,
suas culturas, seus saberes, seus modos de vida, suas relações com a natureza,
serem diametralmente opostas a lógica que move os grandes proprietários de
terras. Essa colisão de interesses, aprofunda os conflitos territoriais e
aumenta à violência, algo sem horizonte de solução, haja vista a opção do
Estado/governos/Congresso Nacional pelo modelo agrário/agrícola do agronegócio.
Mesmo assim, o campesinato segue sua marcha em busca de entrar e permanecer na
terra e continuar a existência social como camponeses produtores de alimentos
(OLIVEIRA, 2001).
A conquista dos
assentamentos rurais e a permanência do campesinato no campo alagoano
Parafraseando
Bartra (2011), a evidência social do campesinato é materializada em primeiro
lugar a partir do seu protagonismo nos movimentos sociais reivindicatórios. São
sujeitos que surgem como vontade de ser, como projeto, permeados por carência e
aspiração. Trata-se de “[…] uma classe abandonada pela economia e pela
história, condenada à morte em todos os tribunais da modernidade” (BARTRA,
2011, p. 68). Conscientes desse contexto adverso, uma parte do campesinato luta
e enxerga na conquista do assentamento rural, mesmo com todas as limitações
dessa conquista, a possibilidade do “[...] reencontro da classe camponesa e de
sua lógica organizativa fundamentada na tríade família, trabalho e terra”
(PAULINO; ALMEIDA, 2010, p. 53).
No campo
alagoano, fruto dessa luta, foram
obtidos 178 imóveis rurais que gestaram os 178 assentamentos rurais, em uma
área de cerca de 114 mil ha. distribuídos da seguinte forma: 17 (9,6%) imóveis
foram obtidos no período que vai de 1979 a 1994 (Fim da Ditadura, Governos:
José Sarney e Fernando Collor/Itamar Franco); 63 (35,4%), entre 1995 a 2002,
nos governos de Fernando Henrique Cardoso; 92 (51,7%) nos governos de Luiz
Inácio Lula da Silva, 2003 a 2010; 6 (3,4%) nos governos de Dilma Rousseff,
2011 a 2016; nenhum no (des)governo de Michel Temer (2016-2017). O último
imóvel rural obtido pelo INCRA foi no ano de 2014, demonstrando a paralisia
total do orgão responsável pela reforma agrária no país.
Um dado a se
destacar nessa reflexão com base na obtenção dos imóveis é que dos 178
assentamentos criados em Alagoas, 16 foram nos governos Dilma Rousseff.
Entretanto, os dados apontam que nesses governos só foram obtidos 6 imóveis
rurais, ou seja, 10 assentamentos foram criados utilizando-se de imóveis
obtidos em governos anteriores. Assim, o resultado do período Dilma Rousseff
mostra-se mais pífio ainda.Efetivamente, tanto no tocante a obtenção de terras,
como na criação de assentamentos rurais, o grosso dos números reside nos
períodos de governos Cardoso e Lula, sendo favoráveis ao segundo. No tocante a
obtenção, como já vimos, os números são de 35,4% ou 61 imóveis obtidos contra
51,7% ou 92 imóveis, respectivamente. Com relação a criação dos assentamentos
rurais os percentuais se mantém: 33,15% ou 59 nos governos Cardoso e 51,12% ou
91 assentamentos criados nos governos Lula. Mesmo assim, tanto em um, como no
outro, os resultados caminham para o mesmo processo: o contrarreformista. Não
há transformação da realidade brasileira no tocante a estrutura fundiária
altamente concentrada e minifundista.
É preciso a
compreensão de que para se configurar uma reforma agrária a estrutura fundiária
deve ser transformada. Nesse sentido, não se pode continuar na lógica, já
advertida por Oliveira (2007, p. 178), de que “[...] surge
assim, um novo tipo de lógica entre o governo Lula e os movimentos sociais e
sindicais: um finge que faz a reforma agrária, o outro finge que acredita”,
seja qual for o governo. Nesse sentido, os escritos a seguir apresentam-se
bastante atual para refletir sobre uma proposição de reforma agrária e o que
vem ocorrendo nas últimas décadas no Brasil: “A modificação ocasionada pela Reforma
Agrária necessita ser drástica, isto é, a agricultura “reformada” precisa
apresentar características estruturais totalmente diferentes do status quo há pouco modificado e não
apenas constituir uma tênue e transitória concessão para acalmar a inquietação
camponesa porventura reinante na ocasião”. (SILVA, 1971, p. 39. Grifos do
autor).
Outro ponto
relevante que deve ser motivo de reflexões, mas que tem sido pouco explorado
nos estudos sobre os assentamentos rurais, reside na questão da forma de
obtenção dos imóveis rurais. Aqui está um emaranhado de interesses dos grandes
proprietários de terras: desde a negociação, pasando pela forma de pagamento e
o valor da indenização do imóvel, até o trâmite do processo judicial de
aquisição do imóvel rural, que percorre caminhos diferenciados por meio do
mecanismo de compra e venda ou pela desapropriação por interesse social para
fins de reforma agrária. Para obtenção dos 178 imóveis rurais em Alagoas, foram
utilizadas as seguintes formas: 1) desapropriação, com 115 imóveis (64,61%); 2)
compra e venda, com 55 imóveis (30,90%); 3) transferência, doação, incorporação
e reconhecimento, somando juntas 8 imóveis (4,49%). Por
todo o território alagoano, a luta camponesa segue com recuos, desencontros e
contradições, mas segue através das marchas, paralisação de rodovias,
ocupações, acampamentos, feiras agroecológicas, diálogos com os gestores
municipais e estaduais. O resultado são os 178 assentamentos rurais
espacializados no Estado. A Mesorregião do Leste Alagoano, reduto das
oligarquias canavieiras, concentra sozinha 117 ou 65,73% do total; seguida pela
Mesorregião do Sertão, com 42 ou 23,60% e o Agreste com 19 ou 10,67% (Ver
Gráfico 4).
Gráfico 4 - Alagoas –
Assentamentos rurais por Mesorregiões (1979 – 2016)
Fonte: INCRA
(2017). Organização: Claudemir Martins
Cosme
No tocante a quantidade de famílias assentadas
atualmente, temos: 13.017 mil em todo o Estado. Seguindo a tendência do número
de assentamentos, a Mesorregião do Leste Alagoano, concentra sozinha 10.350 ou
79,51% do total geral de famílias assentadas; seguida pela Mesorregião do Sertão,
com 1.474 ou 11,32% e o Agreste com 1.193 ou 9,16% (Ver Gráfico 5).
Gráfico 5 - Alagoas – Famílias assentadas por
Mesorregiões em milhares (1979 – 2016)
Fonte: INCRA
(2017). Organização: Claudemir Martins
Cosme
A precariedade vivenciada pelo
campesinato assentado é uma outra face da contrarreforma agrária brasileira que
merece ser debatida (COSME, 2015), pois, a reforma agrária nunca foi ou será
apenas a distribuição de terras. Muito menos advoga-se em favor da tese dos
arautos do agronegócio de que os assentamentos rurais se conformaram como
favelas rurais. Na verdade, um pensamento ideológico que visa desqualificar as
conquistas do campesinato e a importancia da reforma agrária. A precariedade a
que se refere aqui é consequência da morosidade do Estado, pois, é ele “[…]
quem dita os passos e as técnicas para o assentamento das famílias. É nesse
processo que os problemas tomam corpo [...]” (MITIDIERO JÚNIOR, 2013, p. 7).
No caso alagoano essa precariedade é
materializada: (1) na situação do próprio INCRA, que devido o sucateamento e os
cortes de recursos, o órgão vegeta enfrentando imensas dificuldades que
impossibilitam o acompanhamento dos assentamentos, a
liberação dos créditos, bem como, não dá conta
das demandas de atualização dos cadastros e da realização de novas
desapropriações; (2) nos problemas relacionados ao acesso a água, em boa parte
dos assentamentos rurais do sertão alagoano, agravados nesses anos de seca,
tanto para fins de abastecimento, como irrigação e desenvolvimento de
atividades pecuárias. Nos períodos de boas precipitações como nesse ano de
2017, as famílias vivem um dilema, pois a seca dá lugar às estradas
intransitáveis; (3) na paralisação dos serviços de Assistência Técnica e
Extensão Rural, pelo atraso de recursos para as equipes técnicas terceirizadas,
o engessamento das chamadas públicas e a descontinuidade dos serviços, por
exemplo, paralisados desde fevereiro/2017 em todo o Estado; (4) na demora da
construção da infraestrutura dos assentamentos, onde as moradias que é algo
básico, tem sido um processo lento ou realizado de forma precária, com moradias
que precisam ser reformadas ou reconstruídas e (5) na quantidade de terras para
cada família assentada, onde muitas vezes se (re)produz o minifúndio nos lotes,
dificultando a construção da unidade de produção camponesa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário