Translation
terça-feira, 29 de novembro de 2016
UM DIÁLOGO ENTRE DOIS MESTRES: O DESENHO E A POL[ÍTICA
ESTA É UMA HOMENAGEM A UMA DAS MAIS IMPORTANTES FIGURAS DA VIDA CULTURAL DE ALAGOAS: O GRANDE AMIGO HÉRCULES MENDES, RECENTEMENTE FALECIDO. O DESENHO DE LEO VILANOVA SABE INTEGRAR HÉRCULES AO CONTEXTO MAIOR DE SUA VIDA: ALAGOAS.
Os trabalhos de Leo Vilanova são publicados em A Gazeta de Alagoas.
Leio Vilanova: a vida política nacional
Neste mês de novembro, os olhos do Leo demoraram-se logamente sobre a política nacional, correspondendo, praticamente, a 50% de sua produção. Destacamos a República simbolizada por Deodoro a perguntar como seria a sua sorte e a bola de cristal a dizer uma verdade que deveria ser absolutamente incômoda. É interessante entender como, na verdade, o século XIX interroga o século XX sobre os andamentps da res publica.
Há ainda uma relação de tempo, entre o Cabral do século XVI e o ladrão de hoje, tempos em que faceira
um novo Cabral descobre a corrupção no melhor estilo mafioso de Holywwod.
No mesmo nicho de bandidagem estava outro facínora da vida carioca; o famoso Garotinho cujo apelido escondia a ferocidade cívica de que era dotado.
Ministros se revezem na imensidão da corrupção nacional, até que o discreto Ministério da Cultura se vê atordoado pelo seu poder de falar e proteger o chamado patrimônio histórico.
E é este mesmo pessoal, mudando o que deve ser mudado, que vai salvar a nação dos vilões. Onde, talvez, o Caixa Dois seja pequeno, devendo existir o Caixa 3, o Caixa 4 e assim por diante.
Ao lado disto, a imposição sobre um país de uma lei nefanda. E a tentativa de criminalização de uma juventude que reage.
Nada mais perfeito do que a mão de Temer, um Presidente que jamais poderia ser meu.
Este material foi publicado pela Gazeta de Alagoas.
Poder e desenho. Leo Vilanova fala sobre as Alagoas
Leo Vilanova é um dos grandes analistas da vida de
Alagoas e das vida nacional. Seu poder
de síntese é notável. Veja como ele viu a vida de Alagoas neste mês de novembro de 2016.
Os desenhos de Leo aqui reproduzidos são publicados nas edições do jornal Gazeta de Alagoas.
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
Maceió em uma terça feira gorda
A cidade de Cacimbinhas: a imagem da cidade e o contarponto da estrada
Uma passada rápida por Cacimbinhas; a vontade de chegar em casa, fazendo o carro correr antes que a noite chegue. A nossa intenção era dar uma ideia da relação entre a estrada e o lugar, no que diz respeito à formação de imagem e paisagem. Novamente perdão pela música.
A pedra do meu Padinho Cirço. Religião na brabeza da seca.
Foram inúmeras as vezes passando por aqui, desde o tempo da estrada de barro. Eu parava, conversava com a senhora que era dona do lugar. Ela tinha uma bodeguinha. Morreu. É seu filho Cícero que toma conta agora. Cresceu e sempre é lugar de uma bela festa. Gosto de sentar ali e ficar pensando na vida. Sempre me lembro da Santa Beata Mocinha e que foi conhecida do Tio Lourencinho que largou tudo na Capela e foi morar junto a meu Padrinho.
O dono da música que me desculpe, mas se o senhor desejar, eu tiro.
O carro de boi no sertão e a palma forrageira
É emocionante uma viagem pelo sertão, quando tudo está seco, a terra pedregosa e o sertanejo vivendo o seu dia a dia preso ao rumo do calor e do sul, do céu virgem de água. Caminhando certa feita de Santana do Ipanema para Águas Belas, entrando por veredas mil que era chato seguir direto na rodagem aberta, passamos por um carro de boi carregado de palma. Ele humildemente parou, dando vez a que a pressa da camioneta tomasse rumo, ao invés de ficar acompanhando os passos do boi que estava na canga. Eu jamais esqueci e ainda bem que filmei; já tem coisa de 4 anos.
Ao dono da música, peço paciência, mas ela é bonita e ajuda a melhor o triste do destino que a imagem inaugura. Se desejar, eu retiro a música.
clique e veja
clique e veja
sexta-feira, 25 de novembro de 2016
Grupo Identidade Alagoana. Novos e fundamentais atores culturais em Alagoas
Este material foi publicado em Campus/O Dia e foi coordenado pelo Grupo Cultural Identidade Alagoas e trabalhado
pelo Diego Vasconcelos.
Por falar em época, o final da primeira década do século XX em Maceió (2007 a 2010), foi um período conturbado por aqui. Festivais tentavam sem muitas forças se consolidar no calendário anual; o bairro do Jaraguá, mesmo com o já inaugurado Centro de Convenções, via a última tentativa por parte do governo de revitalização fracassar, onde diversas casas de shows e empreendimentos culturais estavam abandonando o bairro. Tivemos também mais uma reforma do nosso principal Teatro, o Deodoro, onde o mesmo ficou cerca de dois anos e meio sem atividades. Filhos desse cenário, Cezar Arthur, Diego Marcel, Idson Pitta e Nereu Ventura, também eram crias do Centro Federal de Educação Tecnológica -CEFET, o que hoje é o IFAL. Entre 2000 e 2005, convivemos em um ambiente de muita pluralidade, que estimulava uma maior consciência estudantil e política, além de ser alvo certo dos panfletos de eventos culturais da cidade. Isso mesmo que você leu, os panfletos eram a forma mais eficiente de divulgação no começo dos anos 2000. Diego Vasconcelos
Dois
dedos de prosa
Campus/O
Dia consegue um novo parceiro para utilização de suas páginas: trata-se do
Grupo Cultural Identidade Alagoana que começa suas colaborações falando sobre
sua história, seu modo de ver e de interferir na vida cultural alagoana. Achamos que é um avanço na aproximação
com a efervescente vida cultural
existente em Maceió, fora dos cânones oficiais.
Campus,
na verdade, sente-se honrado e é com muito orgulho que vê esta parceria
inaugurada. Esperamos que a contribuição do Identidade Alagoana seja vital para
constituir-se a história cultural de Maceió.
Um
grande obrigado ao Grupo e ao Daniel.
Luiz
Sávio de Almeida
UM
POUCO SOBRE O GRUPO CULTURAL IDENTIDADE ALAGOANA
Uma nova parceria
Como vai, amigo leitor do Campus, sempre curioso sobre os aspectos que influenciam nossa cultura! É com imensa satisfação, que o grupo cultural Identidade Alagoana, a partir de hoje, também dará sua contribuição pelas páginas do Campus. E nossa primeira lição de casa por aqui, será trazer para vocês um panorama contemporâneo dos principais coletivos atuantes no cenário alagoano, destacando suas origens, motivações e objetivos, além é claro, das atividades realizadas por essa galera apaixonada por produzir arte.
Um pouco sobre quem somos
Primeiramente... Pedimos licença
a você leitor, para nos apresentarmos como coletivo que somos. Nós próximos
parágrafos, vamos prosear a respeito dos quase 10 anos de Grupo Cultural
Identidade Alagoana. Partiu?
O grupo cultural Identidade
Alagoana nasceu na capital de nosso estado, em Janeiro de 2007, quando quatro
jovens maceioenses iniciaram, sem muitas pretensões, um programa radiofônico na
extinta rádio comunitária Pitanguinha FM, localizada no efervescente bairro da
Pitanguinha. Efervescente, pois o bairro abriga a Organização Cultural Serenata
da Pitanguinha, ou como são conhecidos, os “Seresteiros da Pitanguinha”. Na
época, os desfiles e ações culturais promovidas pelos seresteiros, eram bem
mais marcantes na região.
Por falar em época, o final da primeira
década do século XX em Maceió (2007 a 2010), foi um período conturbado por
aqui. Festivais tentavam sem muitas forças se consolidar no calendário anual; o
bairro do Jaraguá, mesmo com o já inaugurado Centro de Convenções, via a última
tentativa por parte do governo de revitalização fracassar, onde diversas casas
de shows e empreendimentos culturais estavam abandonando o bairro. Tivemos
também mais uma reforma do nosso principal Teatro, o Deodoro, onde o mesmo
ficou cerca de dois anos e meio sem atividades. Filhos desse cenário, Cezar
Arthur, Diego Marcel, Idson Pitta e Nereu Ventura, também eram crias do Centro
Federal de Educação Tecnológica -CEFET, o que hoje é o IFAL. Entre 2000 e 2005,
convivemos em um ambiente de muita pluralidade, que estimulava uma maior
consciência estudantil e política, além de ser alvo certo dos panfletos de
eventos culturais da cidade. Isso mesmo que você leu, os panfletos eram a forma
mais eficiente de divulgação no começo dos anos 2000.
A importância da rádio em nossa vida
Pois bem, um programa de rádio
para tocar, basicamente, música alagoana. Como toda rádio comunitária de
Maceió, a Pitanguinha FM possuía uma ligação muito forte com a comunidade da
região, que participava ativamente da programação. As leis que regulamentam as rádios
comunitárias no Brasil, sempre limitaram o alcance de suas transmissões, fator
que sempre obstou o desenvolvimento desse meio de comunicação tão importante.
Mesma com tanta dificuldade, a paixão por fazer rádio era visível em todos que
participavam desse ambiente. Gerida pela Associação de Moradores do bairro,
representada na época pela Senhora Hélia Coelho da Paz, a Rádio Comunitária
Pitanguinha FM, concedeu a oportunidade para iniciarmos um programa semanal em
sua grade, sempre nas noites de segunda feira, logo após o famoso programa de
Serginho Rasta, que por muitos anos se manteve com sucesso na emissora. Quem sintonizava a rádio também há de se
lembrar de outro programa de sucesso da emissora, o Paropa Rock.
Mergulhamos então de cabeça na
música alagoana! Assim como os dias atuais, em 2007 a música alagoana não tinha
o merecido espaço nos grandes meios de comunicação de Maceió, e apesar da nossa
juventude na época, beirando a casa dos vinte, nós do Identidade Alagoana já
conhecíamos muitos do talentosos músicos de nossa terra, por justamente
freqüentarmos os ambientes culturais e os ditos” alternativos” de nossa cidade.
Por isso hoje é fácil concluir que nosso programa de rádio foi uma extensão do
nosso contínuo aprendizado a respeito da cultura alagoana, onde a música acaba
que se tornando o nosso convite a ingressar
nesse universo.
A cada programa novas bandas eram
descobertas e entrevistadas, a produção musical alagoana estava sendo
debruçada, e era percebida uma valorização desproporcional ao talento e
qualidade presente em nossos artistas, algo que só motivava nosso interesse em
continuar, de alguma forma, a ajudar na divulgação do que era produzido
artisticamente em Maceió. Essa experiência durou cerca de um ano, até o
fechamento da rádio no início de 2008. Mr. Freeze, Mamulengo, Mandalas, Coito
Interrompido (atual Interrompidos) e Dona Maria foram algumas das bandas que
deram entrevistas ao nosso programa nesse período.
A rádio fechou, mas o Identidade
Alagoana não parou. A entrada de João Paulo Torres, Fábio Santos, Ulysses Ribas
e Paulo André para a equipe do Identidade Alagoana, impulsionou o projeto,
culminando em novas ações direcionadas para as mídias sócias. Lançamos em
fevereiro de 2010, o site www.identidadealagoana.com, e iniciamos nossos
endereços www.facebook.com/identidadealagoana e www.twitter/identidadeal.
Buscávamos, afinal, ir além da música, aprofundando-nos ainda mais na nossa
cultura, abraçando todos os segmentos que a compõem.
Nova fase de atuação
Começamos então uma nova fase,
cobrindo diversos eventos culturais, visitando museus, conhecemos o Parque
Municipal de Maceió, viajamos a Serra da Barriga; uma etapa cujo foco era
intensificar o aprendizado sobre nossas tradições, para que assim, pudéssemos
transmitir da melhor forma possível, através do alcance da internet, um retrato
verdadeiro do cenário cultural alagoano. Finalizamos esse período de dedicação
exclusiva as mídias sócias, no início de 2012, com a abertura do nosso canal
www.youtube.com/IdentidadeAL, onde depositamos vídeos de apresentações
artísticas alagoanas, registradas por nossa equipe.
Atualmente, nosso site conta com
uma completa agenda cultural das produções alagoanas, evidencia trabalhos
notáveis de nossos conterrâneos, destaca as principais notícias, entre
exposições, cursos, oficinas, literatura, editais; corrobora com o pensamento
crítico de nossa sociedade, através das colunas existentes, além de apresentar
um panorama completo das ações do grupo cultural Identidade Alagoana. Nossa página no facebook conta com mais de 12 mil curtidas, e nossa
conta no youtube tem cinqüenta e três mil visualizações. Isso tudo com conteúdo exclusivamente
alagoano.
Mas voltando a história, em
outubro de 2012, a convite do parceiro e amigo Ademir Brandão, idealizador do
site Bairros de Maceió, e produtor do programa de rádio Cidade Sorriso, o
Identidade Alagoana estreou na programação da rádio comunitária A Voz FM,
localizada no bairro de Bebedouro. Por quase dois anos e meio, levamos aos
estúdios muita música alagoana, grandes entrevistas com atuantes culturais, e
um tiquinho de presepada.
Poder regressar ao rádio, com o
bônus de interagir com uma nova comunidade, era tudo que nossa equipe almejava
na ocasião, estávamos mais felizes que pinto no lixo. Rodrigo Avelino, Felipe De Vas, Bruno Berle,
Renata Peixoto, Docho Manta, Natalhinha Marinho, Igor Machado, Luizinho de
Assis, Naná Martins, Davi 2P, Fágner Dubrown, Jerry Loko, Boby CH, Nó na
Garganta, Tequila Bomb, The High Club, Misantropia, Ladoeste, La Poli &
Cia, Unidade Nova Praia, foram alguns dos artistas musicais que entrevistamos
no Bebedouro. O professor, militante trabalhista e poeta Magno Francisco, o
fotógrafo a advogado Juliano Pessoa, o tatuador profissional, músico e
organizador da Expo Tatto de Maceio, Alex Farias, o produtor Cultural Cai
Costa, o cineasta Henrique Oliveira da Pana Filmes, o mestre de capoeira Denis
Angola, e Christiano Marinho, um dos membros fundadores do Coletivo Afrocaeté,
além de professor e agente cultural, também passaram pelo programa de rádio
Identidade Alagoana, na A Voz FM.
2014 chegou e o Identidade
Alagoana se mantinha firme e forte na rádio e na internet. Nossa equipe passou
por uma pequena reformulação, com a saída de alguns integrantes, mas
principalmente com a chegada da atriz Ticiane Simões, com notório trabalho
prestado ás artes, através de sua experiência nos palcos, em apresentações com
o Grupo Alagoano de Teatro Joana Gajuru.
Com a casa arrumada, conseguimos alcançar mais um grande objetivo: a
realização das quatro edições do projeto ”Encontro Artístico Identidade
Alagoana”.
Em parceria com o Instituto Zumbi
dos Palmares e a Fundação Municipal de Ação Cultural, juntamos, em uma só
noite, tudo aquilo que aprendemos a admirar em Alagoas: nossa arte das mais diferentes
formas. Música, poesia, dança, teatro, artesanato, artes visuais, enfim, em
quatro noites diferentes, em quatro meses distintos, levamos ao palco do Teatro
Linda Mascarenhas, gratuitamente, um pouco do que nos fascinou nesses quase,
até então, oito anos de trabalho do grupo Identidade Alagoana. Começar a
produzir eventos foi um passo importantíssimo, principalmente por levantar a
bandeira do trabalho autoral, seja ele musical, teatral, poético, audiovisual
ou performático.
Um pouco sobre feira cultural
Outro grande destaque do evento é
a sempre presente Feira Cultural, que abriga produtos artesanais confeccionados
por gente da gente, além de exposições de artistas visuais de grande potencial.
Se apresentaram em 2014, pelo Encontro Artístico: Rodrigo Avelino, Renata
Peixoto, King Di, Nó na Garganta, Bruno Berle,
Docho Manta, Felipe De Vas, Edu Silva, Mc Tribo, Dona Maria, Unidade
Nova Praia e Tequila Bomb, Natalhinha Marinho, Junior Almeida , Tony Augusto, Alfabeto
Numérico, Interrompidos, Troco em Bala, Davi 2P, Time da Quebra e Alfabeto
Numérico. Nesse mesmo período, nossa
Feira Cultural contou com os formosos produtos de Mystic Mal e Selma Botelho,
além de uma exposição fotográfica de Luna Gavazza, com lindos cenários da
paisagem alagoana. Tivemos a honra de contar também com as maravilhosas
luminárias confeccionadas por Almir Lima, camisetas da marca MilFita, além de
uma exposição com algumas obras dos artistas Daniel Contin, Lenny Lima e Ursa.
Luana Costa e Jessica Correia também expuseram seus trabalhos em camisas na
feira cultural.
No início de 2015, buscando
atingir outros públicos, passamos a transmitir nosso programa de entrevistas
direto da rádio comunitária Litoral FM, no bairro da Ponta Grossa, onde ficamos
por quase um ano, adquirindo novas experiências e alcançando um maior número de
ouvintes com a transmissão via internet. Por lá entrevistamos os músicos Edi
Ribeiro, Lilian Rorigues, Daniel Mail, Myrna Araújo, Elisa Lemos, Tony Augusto,
Maracatu Baque Alagoano, Coletivo Popfuzz, Bobby CH, Anderson Fidelis, Necro,
Ophicina de Sonhos, D'dreads, Gama Junior, Cia Hip Hop, Mel Nascimento, PH (QG
dus Manos), Irina Costa, Abramente, Favela Soul, Janu Leite, Autopse, além dos
artistas visuais Daniel Contin e Kiko Oliveira, o professor de teatro David
Farias e o fundador do Quintal Cultural, Rogério Dias.
Nesse
mesmo ano, tivemos um acréscimo substancial
para a equipe do Identidade Alagoana, nosso mestre Arnaud Borges. Poeta, músico, diretor de palco, diretor
artístico, Zé de Arnaud é o agente cultural mais atuante que Maceió habita,
basta você freqüentar minimamente nossos teatros, casas de shows e eventos
culturais por aqui, para comprovar tal afirmação. Fomos agraciados pelo
interesse desse caba, em se juntar a equipe, para continuar nossa jornada de
contribuição a difusão de nossa cultura. Ainda em 2015, em parceria com a
DITEAL (Diretoria de Tetros de Alagoas), mais três edições do projeto “Encontro
Artístico” foram realizadas, desta vez no Teatro de Arena Sergio Cardoso, anexo
ao Teatro Deodoro, sempre pregando a acessibilidade, a formação de público e a
valorização da cultura alagoana.
Ampliação dos trabalhos
Poder começar a trabalhar ao lado
de pessoas como Alexandre Holanda e Edener Careca, ambos integrantes do quadro
de funcionários da DITEAL, foi algo que engrandeceu a qualidade do evento que
estávamos dispostos a oferecer. Atendendo novamente o chamado do parceiro
Ademir Brandão, começamos o presente ano de 2016 estreando nosso programa na
Serraria FM, a quarta rádio comunitária que tivemos o prazer de trabalhar e
interagir com a comunidade. No mês de
julho, realizamos o 8° Encontro Artístico, na Praça Marcílio Dias, no bairro do
Jaraguá, integrando a programação do projeto Ocupe a Praça. Outro grande sonho
concretizado, devido a simbologia da Marcílio Dias para nós do Identidade,
local de grandes apresentações de artistas alagoanos, ao longo dos anos 2000
pra cá, e é claro, estávamos sempre por lá.
No mês de setembro foi a vez do
9° Encontro Artístico, no Complexo Cultural Deodoro, reafirmando a parceira com
a DITEAL. Entre o 5º e 9º Encontro Artístico, se apresentaram os músicos: Edi
Ribeiro, Rogério Dias, D’ Dreads, Os Comparsas, Paulo Franco, Cabaret Rock,
Biografia Rap, The High Club, Lucy Muritiba, Mel Nascimento, Andreá Lais, Tony
Augusto, Cosme Rogério, Cia Hip Hop, Jurandir Bozo, Abraamente, Efeito Moral,
Júlio Uçá, Messias Elétrico e Coletivo Afrocaeté. Também se apresentaram o Grupo de Dança e
Teatro Aie Orum, o Grupo de Teatro Joana Gajuru, a montagem do grupo Cena Livre “Zelodaro
come Pano”,
performance de Alexandrea Constantino e Ana Antunes, além de uma roda marginal de frestyle, promovida pela rapaziada do Nois Q Faz.
Integrando a Feira Cultural, ás exposições das obras de Cristiano Oliveira,
Aquiles Escobar, Eduardo Bastos, Jasmim Buarque, além dos produtos artesanais
de Ana Santos, Kiki Zilda, Luiza Rubenich, Gabryela Borges, Vanessa Germano,
Samuel Gomes, Almir Lima, Mystic Mal, Selma Botelho e das meninas do grupo Arte
Criativa, lideradas pela artesã, patrimônio vivo de Alagoas, Vânia Oliveira.
Também em 2016, iniciamos a realização de um
novo projeto, o “Soando na Sala”, espalhando pelas salas poesias que soam.
Idealizado por Arnaud Borges, a ideação leva a arte autoral alagoana, seja ela
música, poesia, teatro, dança, audiovisual, para as mais diversas salas
residenciais de nosso estado. Imagine
o cômodo de uma casa ou apartamento, um cantinho agradável onde normalmente as
pessoas recebem seus amigos para um papo descontraído enquanto degustam um
aperitivo ou um lanche. É justamente neste local onde acontecem as
apresentações do Soando na Sala, um
projeto que pretende contemplar diversas linguagens artísticas em cada sala
escolhida. Inspirado em projetos como o Sofar
Sounds e Som de sala, a idéia é
reunir artistas e público num espaço intimista, proporcionando um ambiente
diferente para se deliciar com arte produzida em nossa terra.
Apesar de ter como carro chefe a
música, o Soando na Sala não se
limita aos shows, em todas as edições um poeta alagoano é convidado para uma
singela homenagem, tendo seu trabalho destacado durante a noite. Mediante as
limitações de cada sala escolhida, o projeto também inclui apresentações de
dança, teatro, audiovisual; tudo de autoria dos nossos artistas alagoanos. O
projeto começou em Maio desse ano, tem periodicidade mensal, podendo chegar até
duas edições por mês, transformando cada sala em um teatro de arena, onde um
prestigia a arte do outro, onde se celebram as produções artísticas, espalhando
arte em cada canto da cidade. Em cada canto um tanto de poesia. Em cada sala um
encanto.
Em resumo é isso caro leitor, são
quase dez anos de grupo cultural Identidade Alagoana, um período de intenso
aprendizado a respeito de nossas tradições e costumes, sobre as mais variadas
produções artísticas, mas principalmente um período de ajuntamento ao nosso
povo. Trabalhar com cultura em nosso estado requer enorme paixão, muitos
grupos, produtores e artistas sofrem com o descaso dos poderes públicos e a
conseqüente desvalorização por parte do público, tornado quase impossível uma
sustentação financeira oriunda exclusivamente da arte. E com o Identidade
Alagoana não é diferente, somente em 2016 conseguimos nos formalizar como uma
associação de direito, o que abre uma janela para novos meios de captação de
recursos, e obviamente de obrigações também.
Nossa cultura tem um poder de transformação
enorme e vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para propagar,
progressivamente, as tradições, a história, a arte, a Identidade Alagoana. Mais edições do Encontro Artístico e Soando
na Sala virão, mais conteúdos relacionados ao nosso Estado terão evidência
em nosso trabalho. Esperamos que cada vez mais os alagoanos possam conhecer e
se encantar com a sua cultura!
Hoje o Identidade Alagoana trabalha com o
auxílio de diversos parceiros e colaboradores, tão engajados quanto na
valorização de nossos artistas. E muito devido a isso que conseguimos alcançar
os objetivos mencionados nessa trajetória. Unidos somos mais fortes, temos o
potencial de reverter qualquer quadro desfavorável, em todas as esferas. Talvez
seja essa a maior mensagem do nosso trabalho, que somos todos identidade
alagoana.
No que diz respeito ao quadro de integrantes
fixos do grupo, estão na equipe: Amanda Costa, Arnaud Borges, Cezar Arthur,
Diego Vasconcelos, Gama Júnior, Henrique Lima, João Paulo Torres, Ticiane
Simões e Victor Álvaro Esteves. Nossa
sede se encontra na Rua General Hermes, número 358, no bairro do Centro, em
Maceió. Para mais informações detalhadas sobre nossos projetos, além de uma
completa agenda cultural e notícias do nosso cenário alagoano, acessem o site www.identidadealagoana.com, www.facebook.com/identidadeal e www.youtube.com/identidadeal.
Nosso email para contatos é o identidadealagoana@gmail.com.
Depois de toda essa história, vale à pena
lembrar o que foi dito hoje, lá no comecinho do jornal. O Identidade Alagoana
dar início a sua contribuição nas páginas do Campus, colaborando da melhor
forma possível para continuarmos a realizar um registro fiel a cerca dos
diversos ensaios sobre Alagoas. E nossa primeira lição de casa por aqui, será
trazer para vocês um panorama contemporâneo dos principais coletivos atuantes
no cenário alagoano; destacando suas origens, motivações e objetivos, além é
claro, das atividades realizadas por essa galera apaixonada por produzir arte.
Inté a próxima minha gente!
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
Mariana César Góis. COMBATE ÀS DROGAS: DESAFIO DE QUE NÃO SE PODE DESISTIR
- COMBATE ÀS DROGAS: DESAFIO DE QUE NÃO SE PODE DESISTIR
Mariana César Góis
1º Ten da Polícia Militar do
Estado de Alagoas
, Subcmt da 1ª Cia. do Batalhão de Polícia Escolar
Formada em
Design de interiores e Bacharel em Segurança Pública
Este texto foi publicado em Campus/O Dia
Disse
Darcy Ribeiro sobre suas frustrações, dentre algumas, a criação de uma escola
completa para as crianças: "... meus
fracassos são minhas vitórias, eu não desejaria estar do lado de quem me
venceu". Pediu ainda que, mesmo que suas ideias não dessem certo - e
ele acreditava que poderiam mesmo dar errado - simplesmente, quem ficasse
quando ele partisse não desistisse, visto que ele já se encontrava bem doente.
Fazendo
um paralelo com a tentativa de ressocializar os cidadãos infratores, no Brasil,
tomemos o tráfico ilegal de drogas e imaginemos a progressão de refinamento que
a atividade sofreu nas últimas décadas com a inserção das mulheres, tanto para
prover seus companheiros no cárcere quanto para administrar bocas de fumo e,
por fim, adolescentes e até crianças, que servem à barbárie como produto de uma
pseudo- impunidade.
A
realidade (um universo paralelo) das drogas, na maioria das vezes já se
configura uma verdadeira penitência. Quem conhece o "Beco do Carvão",
próximo à rotatória do Mercado da Produção, sabe do que se trata. Pessoas que sobrevivem
em condições de vida inferiores às de muitos animais, imploram à polícia que
não lhes retirem o único "taco" de pedra que lhes resta, como se
aquele pedaço de lixo químico lhes ofertasse as chaves do paraíso.
E,
então, dispomos de uma lei de drogas que tipifica a conduta de um indivíduo,
muitas vezes em condições de rua, e lhe comina uma pena que pode variar de
acordo com uma série de fatores que se iniciam com os relatos de sua captura. É
muito comum que, na atividade policial, haja dúvidas sobre a distinção entre
uso e tráfico de drogas. Em regra, a Polícia Militar conduz e a Polícia Civil
tipifica, de acordo com circunstâncias, quantidade, histórico do infrator e
material recolhido durante a apreensão.
O que se tem feito para que os problemas
oriundos do uso ou tráfico de drogas ilícitas sejam combatidos é que preocupa.
Teoricamente, dispomos de um arcabouço jurídico "interessante",
possuímos um sistema prisional extenso e políticas de ressocialização bem
elaboradas, mas não conseguimos trazer os cidadãos infratores de volta para a
sociedade, recuperados. As penas têm cumprido seu papel punitivo com
excelência, mas terminam por onerar em demasia o Estado, fortalecendo
organizações criminosas e fomentando estratégias que terminam por movimentar
toda uma sociedade, em função das consequências do mau funcionamento do
sistema.
Custa
acreditar que o tráfico de drogas seja uma alternativa para os segregados que
encontram dificuldades em alcançar equipamentos sociais básicos e, até mesmo,
acesso à justiça. Porém, quem conhece o "mundo paralelo" supracitado
entende que, muitas vezes, a criminalidade surge como "o caminho".
Esse panorama é agravado pela ausência de modelos positivos para a vida, oportunidades
de qualificação e inserção no mercado de trabalho, orientação comportamental, dentre
outros aspectos.
O
processo de captura -> ressocialização -> retorno à sociedade perpassa
pela credibilidade nas instituições policiais e no Judiciário que, por sua vez,
aumenta a coesão social e, consequentemente, diminui a necessidade de controle
do Estado, fortalecendo a manutenção da criminalidade em níveis aceitáveis. A
busca por soluções eficazes tem que passar pelo empoderamento das comunidades, devolvendo-as
a capacidade de se manterem em situação de paz e convivência, sendo possível
vislumbrar a resolução pacífica de conflitos, tendo como último recurso o
aparato policial e o Judiciário.
Se
a judicialização dos crimes é o melhor caminho não se sabe. Se o tratamento
mais adequado seria o médico-ambulatorial, também não há como precisar. Temos
formas diferentes de encarar o problema da criminalidade que orbita em torno do
tema das drogas. Sabemos que as leis de que dispomos não são cumpridas. Longe
de levantar a ideia de que isso se refere ao rigor de sua aplicação, mas sim,
ao fato de que precisamos ao menos fazer cumprir o que versam as leis já
existentes, que preveem avaliação multidisciplinar, assistência material,
assistência de saúde, classificação do infrator segundo seus antecedentes e
personalidade, dentre outras garantias que – sabemos - em grande parte, são
tolhidas.
É
mister salientar que, assim como a sociedade, as soluções para a prevenção ao
uso de drogas, combate e controle da criminalidade e ações de manutenção do
estado de normalidade são dinâmicas e devemos considerá-las com tanta seriedade
quanto os planos e programas de enfrentamento. Trabalhar de forma integrada e
objetivando o empoderamento das comunidades tem se mostrado bastante positivo
em algumas experiências no Brasil e no mundo. Devemos, antes de tudo,
considerar que algumas ações podem não dar certo. Mas, conforme falou Darcy
Ribeiro, que estejamos dispostos a reformulá-las e não desistir pois, segundo
nossa Carta Magna, todo poder emana do povo e precisamos garantir que “promover
o bem de todos” seja sempre objetivo de nossa Nação.
Anderson Santos dos Passos. APLICAÇÃO DA LEI DE DROGAS E AS PRÁTICAS INTEGRATIVAS
APLICAÇÃO DA LEI DE DROGAS E AS PRÁTICAS INTEGRATIVAS
Anderson Santos dos Passos
Professor
Universitário, Juiz de Direito
titular da 1ª Vara da Comarca de Delmiro Gouveia, Mestre em Direito pela
Universidade de Coimbra
Visiting Scholar no
Instituto Max Plank para o Direito Público Comparado e Direito Internacional,
na Alemanha
(2015).
Este material foi publicado em Campus/O Dia
Um
dos pontos mais delicados da atual política de “guerra às drogas” adotada no
Brasil é a definição de alternativas adequadas para o acolhimento e recuperação
dos usuários de substâncias entorpecentes.
Como
se sabe, desde a Convenção de Genebra de 1936 foram estabelecidos os critérios
basilares da estratégia global de enfrentamento às drogas, quais sejam:
restrição à produção, comércio e consumo de substâncias entorpecentes e a
criminalização dos usuários.
Neste
sentido, a Convenção de Viena de 1988, o Convênio sobre Substâncias
Psicotrópicas de 1971 e a Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961
cristalizaram internacionalmente a política repressiva, servido de parâmetro
para inúmeras legislações nacionais sobre o tema.
Seguindo
tal tendência, até hoje a legislação brasileira insiste em tratar o usuário de
drogas como um criminoso, impondo-lhe toda a pecha estigmatizadora do direito
penal. Não obstante a clara evolução legislativa no sentido de não mais impor
penas privativas de liberdade ao usuário (despenalizacão), este ainda é
tutelado por normas de direito penal, ficando sujeito a um procedimento
completamente judicializado e às sanções previstas no art. 28 da lei
11.343/2006.
Neste
diapasão e buscando opções mais eficientes, algumas experiências têm sugerido
caminhos alternativos na aplicação da lei 11.343/2006, através de técnicas e
práticas integrativas a partir de modelos de desjudicialização parcial.
Um exemplo a ser citado vem dos
Juizados Especiais Criminais de Curitiba. A partir de 2005, foi instituído um
programa de atenção sócio jurídica para as pessoas processadas criminalmente
por uso de drogas ilícitas, tendo como objetivo principal a prevenção do
consumo de entorpecentes a partir de uma lógica despenalizadora.
O trabalho originou a oficina de
prevenção do uso de drogas (OPUD), cuja ideia consiste na instituição de um
núcleo composto por uma equipe multidisciplinar formada por psicólogos,
assistentes socais e outros profissionais da área da saúde e da assistência
social. Esta equipe multidisciplinar tem por função realizar abordagens
individualizadas dos réus e assessorar os magistrados sobre a adequação das
medidas alternativas aplicáveis a cada um dos casos, levando em conta o perfil
social e pessoal dos autores do fato e ressaltando o cunho socioeducativo da
medida.
Na metodologia empregada, os autores
do fato passam primeiramente por uma entrevista de acolhimento, na qual são
levantados dados psicossociais do réu para que se possa subsidiar o correto
encaminhamento a formas de tratamento. A segunda atividade é um atendimento
individualizado, com o objetivo de promover-se um campo de orientação e
reflexão do usuário de drogas sobre as medidas alternativas. Em uma outra
entrevista, são discutidas possibilidades de direcionamento do usuário para
grupos e programas de tratamento do vício.
No OPUD formam-se grupos de
atendimento, compostos por cinco encontros e, ao final, muitos dos autores do
fato são encaminhados para outros equipamentos de atendimento, tais como CREAS,
CAPS AD, cursos profissionalizantes, etc.
O diferencial destacável é a
integração do usuário/autor do fato no processo de decisão da medida aplicável,
de modo que ele possa efetivamente participar das discussões e fazer com que a
atuação estatal represente uma oportunidade concreta para a reflexão sobre as
drogas e a relação de dependência dele com os entorpecentes, afastando-se de um
modelo exclusivamente punitivo de justiça.
Pode-se dizer que, nestes casos, a
atuação judicial é, também, composta por uma ação psicossocial e médica, sendo
uma experiência de enfrentamento multifacetária, integrando os campos da saúde,
do direito e da assistência social. Tais exemplos têm mostrado bons resultados
na prevenção e recuperação dos usuários de drogas, com resultados mais
eficientes do que o modelo exclusivamente judicializado que é adotado na grande
maioria dos Juizados Especiais Criminais brasileiros.
É importante ressaltar que, no
conceito de práticas integrativas, o auxílio das equipes especializadas é
imprescindível para que os juízes possam encaminhar os usuários de drogas ao
tratamento mais adequado possível. Neste diapasão, os profissionais ressaltam a
necessidade de avaliar, individualmente, o grau de uso de entorpecentes e o
histórico psicossocial do autor do fato, antes da aplicação da medida
alternativa pelo magistrado.
Sem sombra de dúvidas, as
práticas integrativas representam uma
boa opção para a política estatal de prevenção e redução de danos aos usuários
de drogas. A aplicação "nua e crua" da lei 11.343/2006 não parece ser
o modelo mais adequado, sendo necessário transpor-se o sistema completamente
judicializado e punitivo para um outro de menor participação judicial e de
maior valorização da contribuição dos profissionais das áreas de saúde,
psicologia e assistência social na definição das medidas adequadas a cada caso
concreto.
O JUDICIÁRIO EM BUSCA DE CAMINHOS ALTERNATIVOS PARA A RECUPERAÇÃO DO USUÁRIO DE DROGAS
O JUDICIÁRIO EM BUSCA DE CAMINHOS ALTERNATIVOS PARA A
RECUPERAÇÃO DO USUÁRIO DE DROGAS
Karla Padilha
Promotora de Justiça, professor e doutoranda em
direito
Este material foi publicado em Campus/O Dia
O desenvolvimento das ideias a
partir do facilitador ANDERSON PASSOS, magistrado em Alagoas, seguiu a linha de
abordagem prioritária do usuário, e não do traficante de substâncias
entorpecentes. Assim, pode-se pensar num recorte do tema que se debruça sobre o
combate ao uso e, também, sobre a recuperação dos usuários.
Três questionamentos foram lançados: 1) Qual o papel atual
do Poder Judiciário na aplicação do art. 28 da lei de drogas e no combate ao
tráfico? 2) Há experiências bem sucedias no âmbito do combate ao uso de drogas?
3) Criminalizar o uso é viável? OU seria melhor descriminalizar e
desjudicializar esse procedimento?
Com isso, Anderson parte de uma perspectiva que pretende desenhar o
panorama, em Alagoas, dessa problemática, ou seja, o que temos hoje de
concreto, na vida prática. Num segundo momento, pensa-se na discussão acerca da
desjudicialização parcial (mediante práticas “integrativas”) da matéria, como
já vem sendo feito em outros Estados. Finalmente, parte-se para a busca de
caminhos voltados à desjudicialização total. Nesta última hipótese, lança já o
debatedor a seguinte provocação: Seria o art. 28 da lei de drogas
constitucional?
Acerca desse dispositivo específico, Anderson Passos aponta para a sua
potencialidade de gerar a estigmatização e esteriotipização do usuário,
transformando-o em criminoso, com maior efeito, é certo, junto à população de
negros e pobres. Registra que muitos usuários, nos processos, acabam sendo
capturados pelo sistema como traficantes, em mecanismos de nítida
discriminação. Se a intenção do art. 28 foi despenalizar, o fez de modo
absolutamente inadequado.
A própria polícia, segundo o facilitador, recusa-se a intervir quando se
trata da hipótese do art. 28, ao argumento de que isso “não vai dar em nada”.
Afinal, para a estrutura policial, o que parece dominar é a lógica do “tudo ou
nada”, raciocínio esse, segundo o debatedor, não raro extensível ao MP, ao
Magistrado e ao Defensor.
No que se refere à
desjudicialização, os Estados do Paraná e do Distrito Federal, por exemplo,
teriam experiências que mudam essa lógica. Lá, tem se lançado mão de equipes de
profissionais das áreas de saúde, assistência social e psicologia para uma
“audiência coletiva”, dentro do processo penal, pautada por discussões
multidisciplinares sobre cada caso.
Tais debates se centram, basicamente, na investigação acerca das
possibilidades de se sair do mundo das drogas (recuperar-se), quebrando-se
totalmente a lógica tradicional de enfrentamento do tema. Decerto que o êxito
de tais intervenções em muito dependerá do perfil do Magistrado e do Promotor
que atuem no caso e, portanto, de sua maior ou menor resistência a essas
modalidades inovadoras de intervenção.
Finalmente, a questão vai para uma pergunta mais radical: E quanto à
desjudicialização total?
O Defensor Público Ryldson Martins sugere que tal discussão se amplie
mais para o tráfico, ou seja, para o “peixe grande” do problema. Sugere que se
aborde a questão do contato do Judiciário com as forças de segurança visando ao
combate ao tráfico, assim como ocorre na atuação do GECOC e da 17a
Vara, a fim de que se evite que a droga possa chegar com tanta facilidade até o
usuário.
A Oficial PM Mariana destacou que, no ambiente escolar, qualquer quantia
de droga apreendida é considerada significativa para que se proceda à condução
até a delegacia de polícia.
Para o advogado Cléssio Moura, nesse contexto, há alguns pontos de
abordagem necessária, como a má formação do policial, a guerra do tráfico, a
visão, ainda presente em alguns magistrados, de não conseguir enxergar para
além do criminoso. Muitas vezes se está diante de uma “interpretação elástica”
por parte do policial ou até do Juiz, que podem revelar a ideia internalizada
do “inimigo social”.
O psicólogo e psicanalista Adalberto Duarte refere-se a uma “perversão
da lei”, na medida em que se impõe a necessidade de uma punição. Assim, a
norma, ao invés de ordenar, desordena. Quanto ao tratamento do usuário, lança a
seguinte pergunta: Quem o deseja? O sujeito mesmo? Ou o magistrado?
Retornando o debate para o magistrado Anderson, este questiona se as
medidas atualmente previstas se revelam úteis ou não para o usuário. Pergunta
qual seria sua efetividade, inclusive se referindo à internação compulsória.
Ressalta o conflito muitas vezes vivenciado pelo magistrado, quando tem de
decidir, contando com um laudo insuficiente para a formação de seu juízo de valor.
O Defensor Público Ryldson Martins fala das “audiências de custódia”, aplicáveis
a toda hipótese em que há flagrante delito, sugerindo que já se encaminhe o
traficante ou usuário de drogas, que poderia ser inserido em um programa no
próprio Judiciário. Fala de uma corresponsabilidade do Estado no que concerne a
essa problemática das drogas.
Cléssio Moura chama a atenção para o fenômeno da “criminalização da
pobreza”, o que faz com que o indivíduo sofra, nessa perspectiva, duas espécies
de violência, já que a própria aplicação da lei é perversa. Destaca o
pesquisador que seria necessário pontuar os limites de atuação do Judiciário no
enfrentamento do tema, a fim de que se identificasse também a responsabilidade
do Executivo.
Registra também a
importância de se pesquisar a razão pela qual determinadas intervenções não são
bem-sucedidas, destacando que a resolutividade irá depender, em grande medida,
dos recursos disponibilizados pelo Executivo para investimento nesses
programas.
Adalberto Duarte, na condição de psicanalista, destaca o drama das
comunidades terapêuticas e das clínicas compulsórias em Alagoas, onde a
estrutura é precária, os recursos pessoais e materiais são escassos, tudo
reflexo de uma lógica pervertida da política. Registra casos de haver um único
psicólogo para mais de 40 internados, o que implica no comprometimento da
qualidade do serviço a ser prestado. Aproveitando a abordagem, Anderson Passos
aponta para o fenômeno da “mercantilização do usuário”.
O professor Sávio Almeida aponta para a construção, nesse contexto, de
uma “farsa socialmente necessária”. Identifica na matéria aspectos que estariam
a reclamar uma análise histórica, sociológica, antropológica e epistemológica,
de forma a se permitir um mergulho adequado no problema.
E o a economia do crime, nessa seara tão delicada e de difícil combate?
Já não se pode falar em um perfil social, étnico ou comportamental do
traficante de drogas. Hoje o espaço do tráfico é visto sob influxos
empresariais, posto que pautado pela lógica de mercado e pela lei da oferta e
da procura.
Está-se diante de
atividade extremamente lucrativa e difícil de ser suplantada por qualquer
comportamento que se pretenda lícito.
O desafio, portanto, agrava-se ainda mais em contextos de crise
econômica, onde a máxima da sobrevivência e do consumo capitalista possuem
forte influência, sendo também vulneráveis à contaminação pelas garras da
corrupção. Há ainda muito para se pensar e ousar. E a estrada é longa e
incerta.
Assinar:
Postagens (Atom)