Financeirização
do território e circuitos da economia urbana: agentes de crédito, técnicas e
normas bancárias. Um exemplo em Alagoas
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Resumo em português
O processo de diversificação da topologia bancária brasileira
iniciado na década de 1990 com o Plano Real foi ancorado numa política de
privatização e desnacionalização dos entes financeiros e chegou ao ápice no ano
de 2003, mediante a Resolução n. 3.156, emitida pelo Banco Central do Brasil,
propiciando o uso dos serviços de correspondentes no País a qualquer
instituição financeira. Se por um lado, tal medida estava estreitamente ligada
à política de bancarização levada a efeito pelo Governo Federal (que passaria a
fazer uso da rede de correspondentes para distribuição de recursos a segmentos
da população que historicamente viviam à margem do sistema bancário
tradicional), por outro, serviu de alavanca a diversas instituições
financeiras, especialmente os bancos de pequeno e médio portes que, desprovidos
de uma rede de agências, encontraram no correspondente uma forma de ampliação
de sua capilaridade. Nesse sentido, a prestação do serviço bancário com
distintos níveis de capital, tecnologia, organização e trabalho expressa novas
relações de complementaridade entre os circuitos (superior, superior marginal e
inferior) da economia urbana, ao mesmo tempo em que altera o papel exercido
pelo banco, anteriormente único responsável pelas atividades do circuito superior.
Nessa perspectiva, buscou-se, no presente trabalho, entender as relações entre
o sistema bancário e os circuitos da economia urbana no processo de
autonomização da esfera financeira no território brasileiro, tomando como
exemplo o estado de Alagoas. Para tanto, fez-se necessário uma avaliação das
topologias que expressam a rede bancária no território alagoano,
considerando-se a base material, os produtos financeiros e a prestação dos
serviços. A partir de pesquisa de campo nos municípios de Girau do Ponciano,
Campo Grande e Traipu foi possível identificar que a concessão de crédito
consignado se realiza através de novos nexos entre o circuito superior (o
banco), o superior marginal (as promotoras de crédito e os correspondentes, que
são empresas terceirizadas) e o inferior (o agente de crédito, que representa a
garantia dos lucros de uma parte considerável de bancos que vendem seus
produtos sem possuir uma única agência no estado). Dessa forma, desvelou-se o
acirramento da divisão do trabalho bancário e o processo de espoliação,
centrado no aumento vertiginoso do consumo de dinheiro concomitante ao
crescente endividamento. Esse processo denota a perpetuação do circuito
inferior, tanto no que concerne ao consumo quanto à própria prestação do
serviço, ou seja, a realização do trabalho.
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