Luiz Sávio de Almeida
Quem se meteu
em campanha política, sabe que é um treco cansativo e de muita chateação. Dilton Simões foi
candidato a Prefeito e como éramos amigos, chamou e fui para ajudar. Dilton
sempre foi uma pessoa honesta e para mim isto era suficiente: honestidade e
capacidade. Acho que o adversário principal era o Guilherme Palmeira, não
lembro mais. Tudo da campanha funcionava em uma casa que acho tinha a ver com o
Jurandir Boia e ficava ali na Fernandes Lima. A seu lado, um restaurante
chamado Seandro, onde o Dilton, sem dinheiro, dava nosso jantar em galeto.
Nunca jantei tanto galeto na minha vida.
Quando ele me
convidou, eu disse que tinha um preço e
que jamais iria trabalhar de graça. Depois dele regatear, combinamos o valor a
ser pago a mim: quatro carapebas. Faz é tempo e nunca comi uma carapeba; deve
um cardume imenso. Brincadeirinha com o Dilton, pois por várias vezes me chamou
para comer as carapebas e eu não fui.
Pois, pelas
quatro carapebas enfrentei a parada junto com o primo Luiz Gonzaga, Márcio
Pinto e mais alguns de quem não me recordo agora. Era um trabalho intenso e sem
dinheiro, mas valia a pena. Para mim, pessoalmente, foi notável a experiência
com o cassimicoco na campanha. Cassimicoco
ou mamulengo... Devo confessar que sou apaixonado e lamento ver que vai
sumindo. Pois ele juntava gente e naquele
tempo, traficante não mandava. Lembro-me
de que o Zé Costa apoiava a campanha. Apois bem, etc. e tal!
Campanha vai
acumulando problemas de toda a ordem, chateação por cima de chateação. Havia a esperança de ganhar e tome galeto que
eu já não aguentava mais. Sustentar uma campanha não é brinquedo e o custo
galeto não é nada no orçamento. Jamais foi dado um tostão a quem quer que seja
e digo que a nossa briga foi honesta: nada de dinheiro ao eleitor (o que seria
crime) e nem a gente que apoiava. Como se costumava dizer, era uma campanha
franciscana, mas aguerrida e o Dilton
era um lutador. E fomos andando. Lembrei do Jurandir Boia, grande companheiro nesta
jornada.
O Seandro
acabou; era simples, mas decente e também não era todo dia que a
gente comia galeto. Não era uma campanha de raposa, nem política e nem de frango assado. Um dia, lá pelo fim da campanha apareceram uns assuntos para resolver. Dilton me chamou e
fomos ao TER. Na entrada eu disse a ele: Cara,
o candidato é você. Eu vou me deitar ali naquele banco da praça e dormir. Veja
se não me esquece. Le riu e entrou e eu atravessei a rua e no primeiro banco
mais ou menos limpo que encontrei, deitei e fui garrar no sono, como dizia a
musiquinha.
Assim que
deitei, vi uma senhora vindo em minha direção; a roupa era pobre e o andar era
cansado. Pendurada no braço, estava uma
bolsa rota, daquelas que antigamente se levava para o mercado. Era de palha. Eu
fiquei com pena dela, lembrando-me
das milhares que existiam em situação pior. Ela sentou na outra ponta do banco
e por sinal de respeito, levantei-me. Ficamos calados: ela com seus problemas e
eu com o meu sono. Foi quando algo fantástico aconteceu.
Lá pelos lados
da praia estava havendo um comício e era pou-pou e os foguetes não paravam. Ela
olhou para mim e defendeu uma das mais brilhantes teses que vi: Meu
filho, com um papoco desses eu comia uma semana!. Olhei para ela, sorri
e entendi.
Posso esquecer
esta senhora?
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