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domingo, 20 de janeiro de 2019

Crônica diária (20/01/2019). Calunga quiéquitu sôis?



Ao estilo das velhas cadernetas de lembranças: calunga quiéquitu sôis?


Luiz Sávio de Almeida

               
Penedo tinha duas grandes tiras de ligação entre o rio e o norte do Estado. Ela foi uma cidade que se pensou em grande parte, em função de onde estava a sua grande riqueza que era as águas do rio de São Francisco. Depois, ela virou passagem e, então, em si, era também um caminho para o norte e os caminhões foram fazendo o tráfego. Muitos deles ou todos, como se dizia então, chorando na rampa para vencer as ladeiras.  Na minha cabeça ficou o Mark, um  caminhão que mesmo lá pela frente do hospital no Cajueiro Grande, passava meio pesadão. Um caminhão daquerle tempo era  muito diferente dos que existem hoje: eram caminhões xeretas, da venta grande.
               Fico pensando como subiam; Penedo é também uma rampa. Existe a Penedo de cima e a Penedo de baixo. Entre elas, somente ladeira. Teriam os nossos caminhões de virem – pena que o Melro foi embora e não pode me corrigir – subindo ali pelos lados do Diocesano, pegando o pesado que era a ladeirona até o Gabino Besouro e irem quase em reta subindo pela Rua da Penha, onde iriam bater na Praça e pegarem a larga subida  do Cajueiro Grande. Era por isto, que caminhão em Penedo teria de chorar na rampa, expressão maravilhosa e que lembra a necessidade de andar em marcha de força, a primeira ligada e jamais ter a aventura de uma descida na banguela.
              
Normalmente o caminhão passava com um calunga  em cima da carga ou então – quem sabe? –  era uma carona que o motorista não deu lugar na boleia. Na verdade, ninguém àquela época chamaria de carona: era bigu.  Não me lembro de ter visto asfalto por Alagoas naquele tempo;  era tudo no barro e chegar a Maceió, por exemplo, era uma grande aventura, rumando para Junqueiro, São Miguel dos Campos e o conforto que dava a corrente do Pilar, indicando que em breve estaríamos rodando no asfalto que vinha do aeroporto. Era portanto, viagem cheia de catabiu;  um caminho cheio de costela, camaleão, boca de pilão, lagoa, poça, lama e o escambau;  tudo isto somente poderia dar em catabiu que a orgia léxica de alguns diz vir de cut a little bit. Dei alguns nomes de “acidentes” e mostro como era diversificada a estrada, com o motorista tendo de saber identificar a todos, para vencer a distância. Bigu,  catabiu e escambau são palavras que sumiram. 
Um delegado – de bom humor e da Polícia Federal  – lançou uma Operação Catabiu para ver os trecos da Rodovia 104; se fosse para ver tudo de Alagoas, na certa o mesmo delegado lançaria a  Operação Escambau,  palavra que – vejam só  – outro potente etimólogo diz ter vindo de whisk and bowl. Como advertência, devo dizer que no futuro existirá a palavra tanquiubeibi, que vira do inglês falado na China. Meu amigo, se você não está com pressa, diga 100 vezes e depressa cut a little bit: vai cansar e dar agonia nos lábios: eu já experimentei. Diga também wisk and bowl e sinta quanta careta você faz. Quando o escambau é grande, sempre ouvi dizer que era  o escambau a quatro. Aí sim, é que era escambau.  Lembrei agora de um primo que não se contentava com etcetera e sempre finalizava seus assuntos compridos dizendo etcetera e tal. Morreu o meu primo e que Deus o tenha, etcetera e tal.
Mais pois bem, ainda não cheguei no assunto do título: calunga quiéquitu sôis? Hoje sinto que era um desrespeito, embora não pensado, não desejado, valendo apenas a brincadeira, o engraçado da resposta. Quem inventou isto, certamente não tinha o que fazer e era um baita de um maloqueiro. O caminhão passava no aperto da rampa e a gente gritava: Calunga quiéquitu sôis? A resposta vinha direta: “Fila da puta!” Isto e aquilo etcetera e tal. E se o calunga pulasse?


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