Ted Ward: o Professor da Michigan State University
Luiz Sávio de
Almeida
Devo imensamente
a Ted Warren Ward, meu orientador na Michigan State University;
conversamos quando de uma de suas vindas
ao Brasil e ela, requisitadíssimo, aceitou ser meu orientador. Praticamente, ele me recebeu na Michigan
State University e me deu assistência bem maior do que simples relação
acadêmica. Deu-me acesso à sua residência onde convivi com sua família e com
sua esposa, uma pessoa humana de última geração. E com quem fui à Igreja
Batista algumas vezes lá em East Lansing. A fama não lhe roubou a humanidade e nem a
capacidade de dialogar, tendo uma grande atuação internacional. Meu interesse com ele era a chamada non
formal education e na sua grande atividade de pesquisador em
curriculum.
Eu tinha
acesso à seu escritório sem muito protocolo e muitas vezes saímos para passear
nos entornos de East Lansing, com sua esposa sempre amável e brilhante música.
Ele deixou a Michigan State em 1985 como Professor
Emeritus do College of Education e foi para a Trinity Evangelical Divinity School, dando
continuidade a seus interesses em ligar a discussão teológica à educação.
Lembro-me perfeitamente do dia em que me disse estar com altas taxas de diabete. Foi ela que
ajudou a que morresse junto com complicação renal, isto em 2016. Talvez a passagem mais íntima de nossa
amizade deu-se depois do primeiro termo que passei na Universidade. Um termo difícil
de adaptação cultural, da pressão da língua diferente, era como se estudar
fosse algo irrealizável. Foi quando ele
mandou me chamar e deu-se um diálogo que somente vou narrar pela força da
saudade e pelo que tanto representou em minha vida futura.
Mandou dizer que precisava falar comigo e eu julguei que era a
minha dispensa, no que, sem dúvida, seria muito educado ao dá-la. Fui com uma certa ansiedade. Entrei em seu
pequeno escritório cheio de livros, papeis e uma cadeira ao lado de sua escrivaninha, Sentei. Era a sentença da volta, arrumar a
trouxa e pegar um Ita para o Brasil, aportando novamente nas belas praias de
Maceió. Ele sorriu, parou de escrever olhou para mim, fez o gesto de quem
contava com os dedos e disse: “Estou há 11 anos nesta Universidade e (contou
nos dedos) somente disse o que vou falar a você, a umas dez pessoas. Eu sou
altamente requisitado; muita gente espera pela minha orientação, mas sou eu quem
está lhe dizendo: quero ser seu orientador!”.
Eu baixei a cabeça: era o contrário do que eu esperava. E ele continuou:
“Mas você tem que ter humildade e jamais utilizar o que vai aprender comigo
para ter poder. Pelo contrário, você vai ter de servir a seu povo e somente a
ele!”. Eu baixei a cabeça. E ele arrematou: “Pense e me diga se aceita meu
convite e ao voltar me peça, para saber do
início do caminho e por onde ele sempre começa!”.
Voltou a escrever e fui embora tomar um café, com a sensação de
que havia estrada a percorrer e que talvez eu me demorasse por lá, mas um bicho
roía a minha cabeça: eu sabia que voltaria, que havia papagaio, coqueiro, lagoa e praia. Sabia que a tentação
seria grande, mas eu jamais deixaria a terrinha e nem jamais deixaria de estar ao lado da
velhice de meus pais e nem de estar com os meus.
Aquela conversa com Ted foi decisiva e ela foi farol para o
resto da vida.
Posso esquecer Ted Ward?
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