O Beco da Preguiça na vetusta cidade de Penedo: brincadeiras e outros borogodos
Luiz Sávio de Almeida
O Beco da Preguiça é tão grande quanto pode ser para quem
tinha sete anos de idade: uma ladeira imensa e a mais importante de minha vida;
a segunda, e por razão diferente, era a que vai do Ginásio Diocesano ao Gabino
Besouro, obrigando à curva para entrar na vetusta Rua da Penha. Quem – acho que deveria ser quens –não devia
gostar muito, eram as senhoras que moravam em um sobrado muito bonito, acompanhado
pela calçada do Beco em todo seu oitão, justamente o ponto das
brincadeiras. Finissimamente educadas, elas
não reclamavam, pelo que eu me lembre.
Aquela calçada como tantas outras era extensão da infância em Penedo:
existiam os meninos de calçada.
Na calçada se conversava de tudo e uma das brincadeiras era a
da coleção e troca de notas de cigarro, catadas na rua. Cada embalagem de
cigarro tinha um determinado valor e
sinceramente, não sei o que verdadeiramente determinava esta espécie de câmbio
inusitado. Sei que as de menor valor correspondia aos cigarros mais baratos e
mais fumados; quanto mais rara a nota nas redondezas, mais alto o seu valor e é
por isto que me lembro do que se fumava: Astória com ponteira ou não,
Continental, Rodeio e o mais comum era tudo o que vinha da Souza Cruz. Algumas
fábricas do sul, traziam cigarros como o Lincoln e eram caros, mas o mais caro
mesmo era cigarro americano, sempre aparecendo em um vez em quando, Camel e
Chesterfield. Foi tão grande a minha intimidade com o Camel e Chesterfield que
terminei por começar fumando, nos Estados Unidos o Chester e depois me fixei no
Camelo. Eu guardava as notas em carteiras que fazia de papelão e grude; na
calçada era a troca pois quem tinha muitas de uma marca procurava passar para a
frente. Fico em dúvida se ainda existia o Iolanda: aposto que sim. O Astória do
meu tempo, vinha em embalagem amarela e do Continental era azulzinha, com um
mapa.
E era assim que a Bolsa Valores da Rua da Penha funcionava, com
muitos pregões feitos no Beco da Preguiça. Guardei, por muito tempo, as embalagens
até que nas mudanças da família, perdi. Lamento mesmo; seria bom e bonito ficar
vendo e recordando. Tentei recuperar,
falando com a Souza Cruz, mas ela não me deu a mínima bola. Jamais a Souza Cruz iria se incomodar com um
tempo de uma criança. Isto não cabe em carteira de cigarro; cabia o meu pulmão
que fui muito fumado.
Posso esquecer a Souza Cruz?
Nenhum comentário:
Postar um comentário