Translation

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Crônica diária (23/01/2019). O Beco da Preguiça na vetusta cidade de Penedo: brincadeiras e outros borogodos

 O Beco da Preguiça na vetusta cidade de Penedo: brincadeiras e outros borogodos

Luiz Sávio de Almeida

O Beco da Preguiça é tão grande quanto pode ser para quem tinha sete anos de idade: uma ladeira imensa e a mais importante de minha vida; a segunda, e por razão diferente, era a que vai do Ginásio Diocesano ao Gabino Besouro, obrigando à curva para entrar na vetusta Rua da Penha.  Quem – acho que deveria ser quens –não devia gostar muito, eram as senhoras que moravam em um sobrado muito bonito, acompanhado pela calçada do Beco em todo seu oitão, justamente o ponto das brincadeiras.  Finissimamente educadas, elas não reclamavam, pelo que eu me lembre.  Aquela calçada como tantas outras era extensão da infância em Penedo: existiam os meninos de calçada.

Na calçada se conversava de tudo e uma das brincadeiras era a da coleção e troca de notas de cigarro, catadas na rua. Cada embalagem de cigarro tinha um determinado valor  e sinceramente, não sei o que verdadeiramente determinava esta espécie de câmbio inusitado. Sei que as de menor valor correspondia aos cigarros mais baratos e mais fumados; quanto mais rara a nota nas redondezas, mais alto o seu valor e é por isto que me lembro do que se fumava: Astória com ponteira ou não, Continental, Rodeio e o mais comum era tudo o que vinha da Souza Cruz. Algumas fábricas do sul, traziam cigarros como o Lincoln e eram caros, mas o mais caro mesmo era cigarro americano, sempre aparecendo em um vez em quando, Camel e Chesterfield. Foi tão grande a minha intimidade com o Camel e Chesterfield que terminei por começar fumando, nos Estados Unidos o Chester e depois me fixei no Camelo. Eu guardava as notas em carteiras que fazia de papelão e grude; na calçada era a troca pois quem tinha muitas de uma marca procurava passar para a frente. Fico em dúvida se ainda existia o Iolanda: aposto que sim. O Astória do meu tempo, vinha em embalagem amarela e do Continental era azulzinha, com um mapa.

E era assim que a Bolsa Valores da Rua da Penha funcionava, com muitos pregões feitos no Beco da Preguiça. Guardei, por muito tempo, as embalagens até que nas mudanças da família, perdi. Lamento mesmo; seria bom e bonito ficar vendo e recordando.  Tentei recuperar, falando com a Souza Cruz, mas ela não me deu a mínima bola.  Jamais a Souza Cruz iria se incomodar com um tempo de uma criança. Isto não cabe em carteira de cigarro; cabia o meu pulmão que fui muito fumado.
Posso esquecer a Souza Cruz?

Nenhum comentário:

Postar um comentário