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domingo, 27 de julho de 2014

Graciliano Ramos: .A PRISÃO DE UM COMUNISTA QUE PROVAVELMENTE NÃO MILITAVA




ALMEIDA, Luiz Sávio de. A prisão de um comunista que provavelmente não militava. Graciliano, Maceió, nº 1, 2008

[HISTÓRIA: POLÍTICA: COMUNISMO: ALAGOAS: GRACILIANO RAMOS]



lA PRISÃO DE UM COMUNISTA QUE PROVAVELMENTE NÃO MILITAVA


Luiz Sávio de Almeida


                        

  
 É praticamente demonstrado que o Partido Comunista se estruturou em Alagoas a partir de 1928, somando antigos anarquistas de 1919 e novos componentes. É em 1928 que se funda a primeira célula, na rua São José,residência de Américo Sapateiro que, posteriormente, irá pertencer à Ação Integralista. Antes, ocorriam contatos a partir de Recife e Bahia send possível que Américo  tenha realizado a coordenação que resultou na célula em sua casa.  Após a greve de Jaraguá e dos demais acontecimentos que marcaram a história da esquerda em  Alagoas nos finais da segunda década do século passado, o movimento operário, segundo apreciação de um jornal de   feição comunista (editado esporadicamente, desde 1927) havia perdido força, especialmente após o controle – aduzimos - policial das reuniões operárias e dopacto entre maltistas e democratas para a derrota do socialismo, comungado após Jaraguá. Este socialismo deveria ser liquidado em nome dos valoresda civilização cristã ocidental.

               O Proletário falava na necessidade de se retomar o movimento e mencionava o sucesso eleitoral de Otávio Brandão no Rio de Janeiro. O fato éque surge a célula na residência do Américo Sapateiro cuja militância  é conhecida desde 1910, quando pertencia aos quadros da Federação dos Trabalhadores. A célula era denominada AA e dela fazia parte Sérgio Pueirame, Presidente do Sindicato dos Trapicheiros e velho militante na esquerda,José Costa Neto que dirigia O Proletário, Olympio Santana também antigo militante. Posteriormente, o Partido cresce o suficiente para que se tenha aeleição do primeiro Comitê Regional. Nesta oportunidade, tem-se um grande problema interno, pelo  fato de que Américo Sapateiro perde a secretaria para Horácio Gomes de Melo, afasta-se da organização mas continua aliado. Olympio Santana será tesoureiro e são montadas comissões: Juventude, Agrária, Mulher Trabalhadora. Horácio era  também sapateiro; paulatinamente Américo se afasta, passa a ligar-se ao sindicalismo governamental e posteriormente vai se filiar à Ação Integralista, fazendo parte de sua polícia secreta.
Mestre Graça

               A vida do Partido vai ser abalada em razão da Revolução de Trinta, mas ele tem condições de vida orgânica e secreta, emergindo com poder de fogo político no ano de 1932, período de intensa disputa na área trabalhista pelas implicações da política governamental na área sindical,  em choque com comunistas e independentes. É por inspiração de governo que nasce em 1932 a Federação dos Trabalhadores de Alagoas, mas surge, também, a União Geral dos Trabalhadores que, no dia 1º de Maio faz passeata. Em dezembro de 1932 começam as greves e os movimentos que levarão a outra formidável ação policialesca, com o tradicional prende-prende e deportação de liderança.

              
Zé Lins
            


O Partido se retrai, continua a 
Raquel
vida clandestina e viverá o clima de 1935.Antes, contudo,  a vida política de Alagoas ganha complexidade, quando seo rganiza em Maceió, pela iniciativa de José Lins do Rego, a Ação Integralista.O encontro de Plínio Salgado, com a platéia alagoana foi realizado na Perseverança, presidido por Domingos Fazio Sobrinho, falando Moacir Palmeira e José Lins do Rego. Evidentemente, os confrontos eram permanentes e é no clima que se delineia depois de 1935 que vai se dar aprisão de Graciliano Ramos.

               Em nenhum momento, o nome de Graciliano aparece nas lutas políticas. Os nomes de intelectuais que se diziam ser comunistas eram  Alberto Passos Guimarães e Waldemar Cavalcanti. Em longas conversas comigo, Alberto jamais mencionou o nome de Graciliano Ramos como militante. Nem a Raquel de Queiroz (trotskista à época) falou de qualquer atividade partidária do Graciliano, e mantivemos alguns bons papos sobre Maceió, embora ela detestasse recordar aquela época pelo imenso sofrimento pessoal que viveu. Num dos papos, conta as versões  corridas sobre prisão de Graciliano e lança:  "Meu filho, somente diga estas coisas depois que eu morrer!".  Fiquei embaraçado, ela notou e arremessou o torpedo: "Fique tranquilo menino, eu morro logo!".  Começamos a rir e falei: "Então não me interessa saber. A conversa não tá gravada, como é que vou provar que você disse? Pode guardar para você as suas coisas!".  E rindo terminamos este telefonema.

         Na verdade, ela desejava fazer alusão ao que circulava: a) prisão por natureza política ideológica; b) prisão em face da fofoca política ou perseguição pessoal; c) prisão em face de problemas pessoais.  Quem sabe tudo não se mistura numa aura  que parece misteriosa? O fato é que o pessoal, o político ou ambos  conspiraram para que surgisse um texto que representaria as vidas de encarcerados, numa referência à memória dos que eram ditos portadores de pensamento ilegal.  O fato é que, com relação à sua prisão, Graciliano contou o que desejava fosse sabido.


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Meu primeiro contato com Graciliano foi através de Memórias de Cárcere. Depois fui lendo devagar uma coleção editada, caso não me engane, pela José Olympio. Estava nos 17 para a frente. Anos depois, utilizava seus romances para debater com os alunos temas de sociologia rural. Evidentemente, a escrita não reproduza realidade das vidas, mas Graciliano mergulha de tal maneira no cotidiano quesuas contradições surgem e foi a tensão presente na sua fala sobre  arealidade que a ele até hoje me prendeu.

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