Terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Esta matéria foi publicada em O Jornal, Maceió, Julho, 2007
Hoje é um dia triste; sinto um fardo nas costas, como pessoa
e cidadão metido a ler. Como pessoa, pelo fato de ter morrido um homem a quem
admirava, tomava como exemplo, honrava e devia pelo muito que fez por mim. Manoel prefaciou um livro meu, foi meu
examinador no doutorado e convidou-me para participar de seminários, quando estava na Fundação Joaquim Nabuco, chegando
a publicar alguma coisa minha.
Possivelmente, um de seus últimos escritos foi o Prefácio para meu livro
sobre a política alagoana na década de trinta do século XIX, passando pela
Cabana. Recentemente, mantínhamos um contato constante; ele havia quebrado a
perna e estava em casa; não ia à Cátedra
Gilberto Freyre – da qual era titular - na Universidade Federal de
Pernambuco. O assunto das conversas
constantes era a necessidade de transformar em livro a minha tese de doutorado,
coisa que sempre insistia. Transformar tese em livro é mais difícil do que
escrevê-la, mas capitulei e ele me deu um fino texto introdutório de presente.
A última vez em que o vi pessoalmente foi em Maceió, talvez
dia e meio antes da chegada da morte. Ele havia recebido homenagem prestada
pelo Curso de Geografia (não sei o nome atual) e foi muito bonita: uma sala
simples, cheia e em dia de greve de bus. As homenagens eram o encantamento e
o sonho de uma juventude que desejava uma foto a seu lado, como se um superstar estivesse na sala. No fundo,
ele era estrela de primeira grandeza a influenciar gerações marcando a vida da
região: seu nome ficou associado definitivamente ao Nordeste. Chego mesmo a
pensar que foi um dos principais montadores da idéia de uma identidade regional,
função excepcional de seu livro clássico
sobre o Nordeste que foi lançado pela
mão de Caio Prado Júnior. A sua carreira de geógrafo deveu-se a Gilberto Freyre
conforme contava; antes se dedicava à história e foi neste vai-e-vem da geografia para a história e da
história para geografia que publicou uma contribuição notável para entendimento
do país e transformou-se em leitura obrigatória, sinal de que morreu mas jamais
findará. Manoel Correia de Andrade ganhou o caminho do infinito.
Era um homem senhor de si, mas simples, capaz. Ouvia
atentamente e opinava com parcimônia. A
primeira vez que vi Manoel Correia foi em um elevador, conversando com uns dois
estudantes e falando sobre sensualidade das serras. Eu ri e jamais esqueci.
Tímido como sou, não aproveitei a oportunidade para me aproximar. Tempos
depois, convido para examinador da minha tese. Aceitou e daí nasceu a
aproximação entre nós. Lembro da
primeira vez em que nos encontramos e lembro da última coisa que ouvi de sua
boca. Ele virou-se - parece-me que para
sua filha Thaís- e disse: “Este é
realmente meu amigo!”. Isto me comoveu, pois na verdade, eu tinha carinho por
ele. E fiquei mais uma vez órfão. Eu já estou com um grande aprendizado de
orfandade intelectual. Tenho muitos mortos. Manoel Correia de Andrade é um dos
principais. Sempre terei saudade, mas sempre saberei onde encontrá-lo.
A EDUFAL vai prestar-lhe
uma grande homenagem, mantendo seu nome como patrono da Feira do Livro. E
tentará publicar um seu trabalho. Conversando com ele sobre o assunto, disse-me
que se sentiria muito honrado, mas sua
preferência seria a publicação do livro do seu filho Joaquim sobre Alagoas.
Aliás, o Joaquim (já falecido) tem um filho servindo a Alagoas e que tem o nome
do avô: Manoel. Era grande a dedicação de Manoel Correia de Andrade ao nosso
Estado. E ele venerava Penedo; brincava
dizendo que a única traição à sua esposa, foi com Penedo, que era a sua namorada. Talvez seja a hora de Salles e a Fundação
Casa do Penedo que fica na minha inesquecível Rua da Penha, prestem uma
homenagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário