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domingo, 27 de julho de 2014

Manoel Correia de Andrade: sua morte

Terça-feira, 27 de dezembro de 2011



Esta matéria foi publicada em O Jornal, Maceió, Julho, 2007






Hoje é um dia triste; sinto um fardo nas costas, como pessoa e cidadão metido a ler. Como pessoa, pelo fato de ter morrido um homem a quem admirava, tomava como exemplo, honrava e devia pelo muito que fez por mim.  Manoel prefaciou um livro meu, foi meu examinador no doutorado e convidou-me para participar de seminários,  quando estava na Fundação Joaquim Nabuco, chegando a publicar  alguma coisa minha. Possivelmente, um de  seus  últimos escritos foi o Prefácio para meu livro sobre a política alagoana na década de trinta do século XIX, passando pela Cabana. Recentemente, mantínhamos um contato constante; ele havia quebrado a perna e estava em casa; não ia  à Cátedra Gilberto Freyre – da qual era titular - na Universidade Federal de Pernambuco.  O assunto das conversas constantes era a necessidade de transformar em livro a minha tese de doutorado, coisa que sempre insistia. Transformar tese em livro é mais difícil do que escrevê-la, mas capitulei e ele me deu um fino texto introdutório de presente.

A última vez em que o vi pessoalmente foi em Maceió, talvez dia e meio antes da chegada da morte. Ele havia recebido homenagem prestada pelo Curso de Geografia (não sei o nome atual) e foi muito bonita: uma sala simples, cheia e  em dia de greve de bus. As homenagens eram o encantamento e o sonho de uma juventude que desejava uma foto a seu lado, como se um superstar estivesse na sala. No fundo, ele era estrela de primeira grandeza a influenciar gerações marcando a vida da região: seu nome ficou associado definitivamente ao Nordeste. Chego mesmo a pensar que foi um dos principais montadores da idéia de uma identidade regional, função excepcional  de seu livro clássico sobre o Nordeste que foi  lançado pela mão de Caio Prado Júnior. A sua carreira de geógrafo deveu-se a Gilberto Freyre conforme contava; antes se dedicava à história e foi neste  vai-e-vem da geografia para a história e da história para geografia que publicou uma contribuição notável para entendimento do país e transformou-se em leitura obrigatória, sinal de que morreu mas jamais findará. Manoel Correia de Andrade ganhou o caminho do infinito.








Era um homem senhor de si, mas simples, capaz. Ouvia atentamente e opinava com parcimônia.  A primeira vez que vi Manoel Correia foi em um elevador, conversando com uns dois estudantes e falando sobre sensualidade das serras. Eu ri e jamais esqueci. Tímido como sou, não aproveitei a oportunidade para me aproximar. Tempos depois, convido para examinador da minha tese. Aceitou e daí nasceu a aproximação entre nós. Lembro  da primeira vez em que nos encontramos e lembro da última coisa que ouvi de sua boca. Ele virou-se -  parece-me que para sua filha Thaís-  e disse: “Este é realmente meu amigo!”. Isto me comoveu, pois na verdade, eu tinha carinho por ele. E fiquei mais uma vez órfão. Eu já estou com um grande aprendizado de orfandade intelectual. Tenho muitos mortos. Manoel Correia de Andrade é um dos principais. Sempre terei saudade, mas sempre saberei onde encontrá-lo.














A EDUFAL vai prestar-lhe uma grande homenagem, mantendo seu nome como patrono da Feira do Livro. E tentará publicar um seu trabalho. Conversando com ele sobre o assunto, disse-me  que se sentiria muito honrado, mas sua preferência seria a publicação do livro do seu filho Joaquim sobre Alagoas. Aliás, o Joaquim (já falecido) tem um filho servindo a Alagoas e que tem o nome do avô: Manoel. Era grande a dedicação de Manoel Correia de Andrade ao nosso Estado. E ele venerava Penedo;  brincava dizendo que a única traição à sua esposa, foi com Penedo,  que era a sua namorada.  Talvez seja a hora de Salles e a Fundação Casa do Penedo que fica na minha inesquecível Rua da Penha, prestem uma homenagem.

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