Um
bilhete sobre as grotas do Jacitinho
Luiz Sávio de Almeida
e
Viviane Rodrigues
Viviane Rodrigues |
A evidência das grotas em Maceió
decorre da ocupação desordenada de áreas hoje consideradas de periferia, a partir do
processo de urbanização que foi iniciado na década de sessenta do século
passado. As causas desse processo são muito bem conhecidas e decorrem da
ancoragem da pobreza tanto gerada urbanamente, como transferida do campo pelos
impasses da estruturara fundiária e organização da produção agrária.
A periferia urbana de Maceió não pode ser considerada como algo homogêneo; ela mesma tem desníveis internos de renda muito fortes, como se pode verificar, inclusive, no Jacintinho. Para tanto, basta notar a diferença das construções que estão feitas nas vizinhanças da praça nova, a que chamam de Mirante. São residências que se assemelham às que se encontram edificadas na Pitanguinha, havendo, portanto, uma paisagem distante do grosso do Jacintinho, um bairro que se derivou, justamente, da opção pobre para residência.
O Jacintinho – no que vamos chamar
de sua parte chã –, não é homogêneo, sendo possível identificar diversas
porções territoriais, cada uma com suas características próprias. Uma das
divisões é vista nas partes do mercado e da feirinha, com um forte comércio, a
estrutura de serviços que serve ao bairro e, inclusive, os prédios dos
supermercados que são considerados grandes e que vivem ao lado dos chamados
mercadinhos que vieram para substituir as antigas bodegas.
As bodegas foram lançadas para as
ruas transversais, justamente as que levam às regiões mais pobres do bairro e,
inclusive, tendem a manter a antiga imagem do balcão, o papel tosco, a lingüiça pendurada, a venda
da quarta de charque, o pão, o refrigerante que tem sua história representada
no Guarina que parece vir da Paraíba. São estabelecimentos que ainda mantém a
caderneta para pagamento no final do mês, a mãe mandando o menino ir buscar as
precisões.
Super, hipo e feirantes fazem um
grande contexto de comércio que vara o bairro, sobretudo a partir do viaduto em
direção ao Barro Duro; a feirinha, praticamente, faz a fronteira entre eles. Em
direção do viaduto para o Canal 5, o comércio diminui de intensidade, ficando
uma parte mais residencial. É nas proximidades do Canal 5, que fica a Grota da
Bananeira, uma de tantas que fazem o lugar, devendo, desde logo ficar claro,
que as grotas tendem a ser mais pobres do que a porção de cima e elas são hoje
em dia, praticamente, vistas, especialmente na crônica policial, como
destacadas do Jacintinho, como se estivesse sendo lançado um estigma sobre seus
moradores, a maioria pessoas absolutamente dignas.
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