Esta
matéria foi publicada no tablóide Contexto do jornal Tribuna Independente,
Maceió, na edição de 9 de Outubro de 2011
Certa feita, minha grande amiga Cida
(Professora Maria Cida de Oliveira) pediu para que eu expressasse o que penso
sobre a situação da mulher, Não é difícil dizer o que sinto, embora seja
difícil esboçar o que penso em face da complexidade das situações que vão do
cotidiano às estruturas.
Vejo a violência todos os dias; ela não é matéria que se esconde. Pelo contrário,
está escancarada e lança a sua força a todo o momento, a todo passo. No fundo,
a sociedade não tem receio de demonstrá-la, pois, de tão costumeira, terminou
por fazer parte de um imenso roteiro
que a poucos incomoda. É um
triste espetáculo, mas apresentado sem interrupção no fio dos segundos
que fazem o tempo, atrás das portas ou nas praças, pública ou privadamente. Ela
não tem qualquer limite e está em todos os ângulos da vida, como se a própria
sociedade somente se entendesse fundada nessa exploração construída nos
intrincados do poder.
É uma vida absolutamente deformada
pela violência em suas mais diversas formas e pelo exercício ideológico do
preconceito, que monta estratégias de dominação. O preconceito é uma expressão
ideológica e redunda em um modo estratégico objetivando a manutenção de poder.
A tese é a manutenção da desigualdade, do desequilíbrio e para subsistir
necessita dar continuidade ao que se poderia chamar, genericamente, de
machismo. Ele, sem dúvida, é a porta essencial por onde passam as contradições
do sistema que reserva um espaço para a mulher, e, nele, pelo menos dois
requisitos demonstram-se fundamentais: um deles é o de que se maximize a
negação de oportunidades e o outro é que
se procure legitimar a utilização da violência.
Claro que formas sociais concretas
são construídas a partir desses elementos. São corriqueiros os exemplos, sendo
bastante olhar para as ruas, pensar nas intimidades das casas e sentir o que se
passa, seja numa pobre tapera, seja num rico palacete, seja numa favela, seja
na orla dos ricos. Essa é uma das
demonstrações mais perversas do machismo: ele é insidioso, tem o dom da
ubiqüidade e se reparte igualmente sem dó e nem piedade pelas diferenças de
renda, educação formal e outras. O machismo é de uma violência matreira.
É na tentativa de legitimar que se
encontra a hipocrisia das estruturas e que deve ser rompida, realocada para que
se encontre a harmonia da igualdade dos sujeitos dentro da diversidade que se
pronuncie. Para isso, existem requisitos concretos que devem surgir no universo
político e, dentre eles, a necessária aliança entre os que não aceitam
preconceitos e discriminações, entre os que desejam a plenitude democrática. A
resolução da questão da mulher é matéria essencial para que se tenha a democracia
e deve estar fundada na consciência da igualdade. Essa consciência da igualdade
que poderá refazer o modo como se vem montando formas de exclusão nos seus mais
diversos matizes. É ela que justifica este Contexto, parte, justamente, desta
consciência de igualdade e componente
deste espaço político que é a busca pela
democracia.
É preciso estar atento pra o aparente
miúdo do dia a dia. A violência deve ser combatida em todos os momentos,
devendo ser reforçados, inclusive, os serviços de sustentação da mulher,
abrangentes, indo da segurança à justiça, da violência ao espaço do repouso da
vida. A sociedade civil tem que se expressar e ser ouvida e fazer sentir ao
Estado a voz da mulher, como deve ser
ouvido, também, o grande mar de humilhados e ofendidos pelo preconceito, pela
lógica que monta uma sociedade cruel, a partir de formas de dominação evidentes
ou não. O machismo é muito mais do que
um mero argumento; ele é um modo de ser e de agir que sustenta, efetivamente, a
crueldade que nos dá repulsa.
É preciso participar, somar,
denunciar, exigir. Esses são elementos que trazem a plena cidadania para o
âmbito da questão da mulher. Não é possível uma consciência que não seja uma
determinação por agir. É importante discutir, mas sem que haja descanso
Nenhum comentário:
Postar um comentário