Domingo, 18 de dezembro de 2011
18 de Dezembro de 2011
Contém a primeira parte de conversa mantida com membros da Federação da Agricultura e Pecuária de Alagoas
Um pequeno bilhete sobre agricultura
Contexto apresenta
hoje, o que chama de Conversa em torno de um tema, basicamente a transcrição de
uma conversa amigável entre especialistas. Hoje, traz pessoas da alta direção
de uma entidade sindical, para discussão e depoimento sobre mudanças
e atualidade em nossa agricultura: trata-se da Federação da Agricultura e Pecuária de Alagoas. Temos que agradecer a
Álvaro Almeida, Francisco Edilson Maia, Márcio Pinto e Noel Loureiro. Aqui está
uma boa contribuição para a análise de nossa pecuária e agricultura. A sua
grande importância não está no aprofundamento dos temas, mas por ser capaz de
gerar inúmeras interrogações que podem levar a estudos e proposições.
Sávio de Almeida
Conversa em torno de um tema: a agricultura em Alagoas
Luiz Sávio de Almeida
Durante
pouco mais de duas horas, Contexto
reuniu dois diretores da Federação da Agricultura do Estado de Alagoas, um
Assessor daquela organização sindical e um ex-Secretário de Planejamento para
darem um passeio sobre agricultura e
pecuária no Estado, enfocando mudanças e problemas atuais. Claro que nem
arranhamos o problema, mas fica registrado um painel que interessa a todos os
que estudam as mudanças acontecidas no Estado e a conjuntura atual. Contexto supõe que a forma aberta da discussão
leva a verificar uma espécie de dilema: ou temos Estado ou não teremos bom
futuro para a agricultura. Isto ajuda a colocar em xeque a tese do estado
mínimo, na certa ele deve ser mínimo, mas um mínimo de máxima influência.
A
discussão recupera a monotonia do açúcar e do não-açúcar e é a ela,
efetivamente, que fica reduzido o perfil da agricultura alagoana, ainda incapaz
de alavancar alternativas que passem pelos pequenos produtores, capacitando à
renda. Às vezes, enquanto a conversa decorria, eu me pegava pensando se a
pequena agricultura em Alagoas não era matéria de um mero e desgastado discurso
sobre a conveniência de termos os pequenos, que simbolizamos em nossa
insistência sobre o feijão, o milho, o arroz. Um pequeno que parece
estabilizando-se perante uma pecuária leiteira, mas absolutamente sem lastro de
garantia de efetividade de seus negócios, posto dentro de uma ideia genérica de
agronegócio como se a ele obrigatoriamente fosse dada a responsabilidade de
assumir a lógica sistêmica de operações produtivas, mas sem ter poder, no que
se demanda uma revisão que passe pela economia política, ou, em outras
palavras, pela questão da economia associada à do poder.
É
uma agricultura que fora do mundo do açúcar é dada praticamente como impotente
perante, pelo menos, três grandes elementos: o primeiro é a falta de
investigação e de transferência de tecnologia; o segundo é a inexistência de
uma ordem logística para alavancar a produção;
e, finalmente, a integração produtiva. Existe cana de açúcar, mas o que
é feito com o universo da pequena produção?
Parece que o Estado de Alagoas acha conveniente o seu Leste e muito
pouco soube fazer sobre seu Oeste e mesmo sobre o seu Sul, entendido
especialmente para os lados do Baixo São Francisco. De toda a conversa, fica um
vazio de Estado como a grande evidência e isto indica a continuidade da
história de nosso agrarismo: os fatores
de capital ainda não se atualizaram em nossa ruralidade e mesmo os que se
atualizaram passam por cima da chamada pequena agricultura.
A
retórica parece ultrapassar, de muito, as conseqüências das intervenções
realizadas, não importando a intenção de fazer; não é de uma hora para outra,
que se faz uma revisão na estrutura agrária e ela não pode começar de
fato, sem o propósito efetivo de uma
reforma agrária, com, talvez, a principal mudança acontecendo na própria
estrutura fundiária. Não existindo mudança estrutural, todas as inovações
tendem à mera categoria de justaposição do novo sobre o velho, não ingressando
no cotidiano da produção e sendo paulatinamente carcomidas pelo arcaico, onde
se encontra o poder de mando.
A
utilização de elementos como novo e arcaico como ferramentas de análise,
não nos leva a uma tese de dualidade
estrutural, mas à ênfase ao processo de superação, único local onde a mudança pode ser logicamente posta. O
desenvolvimento não se faz com a justaposição, mas com a integração e ele passa
por uma mudança, também, no perfil do próprio poder ainda de marca
acentuadamente estamental. Na verdade, ou Alagoas supera as instâncias de mando
do poder local, ou não se atualiza, inclusive na agricultura, uma forma de se
perceber que a agricultura não pode ser pensada como espécie de um em si, como algo isolado, mas posta no conjunto de
providências articuladas dentro de um escopo de revisão estrutural a ser operada
pelo planejamento.
portaldoagronegocio.com.br |
Os
fatores a que chamaremos de capital devem se estender o máximo possível,
beneficiando e integrando toda a estrutura produtiva e não maximizarem a forma
de concentração da renda no meio rural, modo típico de resultado da
justaposição. A hipótese – que pode prosperar ao ser examinada em seus detalhes
– é que a desconcentração de renda deva ser matéria enfaticamente conduzida
pelo Estado e sobremodo estruturar
formas cooperativas, dar senso de coletividade às suas propostas de intervenção
e mudança na ordem da produção. Por outro lado, cuidar para que a ideia de agronegócio não seja e nem deva ser a
de meramente organizar um sistema verticalizante, mas de natureza horizontal
onde os links fortaleçam os laços cooperativos.
É preciso debater e encontrar o modo e a forma
dos laços cooperativos se estruturarem, comporem e recomporem um sistema de natureza atomista
transformando-o em sistema de natureza orgânica, integrado pela articulação de
interesses e onde a renda se reparta ao invés de concentrar-se. Não estamos,
aqui, a supor uma igualdade, mas uma equidade. Aí sim, acontecerá mudança, pela
recomposição do clássico modo de ser do agrarismo alagoano. Quem sabe, fugindo
da verticalização ele consiga, evidentemente, gerar fatores novos, recompor o
campo e a área livre para isto ainda se encontra, por exemplo, nas que concentram pequenos produtores de cana
ou em todo espaço a Oeste, recompondo o
econômico de Alagoas, especialmente passando pelo Baixo São Francisco e
no agreste e no sertão. O capital na
agricultura alagoana é um grande devedor do agreste e do sertão e isto
transparece em toda a conversa que foi mantida, pelo menos a nosso ver. A não
ser, que se adote a tese de que é perda de tempo pensar no Oeste do Estado, ou,
numa linguagem mais tosca, que se lixem. Pensamento, sem dúvida, de má índole
democrática e a subsidiar a ideia trágica da montagem de uma fábrica para fazer
salsicha de pobres.
A
atividade de base do Estado para recompor uma agricultura e uma pecuária alagoanas
passa pelo agreste e pelo sertão,
áreas sempre marginalizadas e jogadas para a posição de um secundário
econômico, face, especialmente à queda do algodão e à manutenção do prestígio político
do leste açucareiro. Esta “dualidade” alagoana entre Leste e Oeste tem que ser
esclarecida e recomposta com urgência;
neste sentido, o sertão e o agreste têm que demonstrar, efetivamente,
peso de pressão política e, neste contexto, primar pela busca de iniciativas de fórmulas cooperativas para que
se distribuam os resultados e não que sejam concentrados, gerando a idéia de
uma afluência que é apenas aparente,
pois não mexe na estrutura de produção. Agreste e sertão têm que se transformar
em categoria política de peso e isto requer, novamente é preciso ser dito, o senso da demonstração pública de força com
relação ao Estado. Agreste e sertão devem se levantar, buscarem união de
pleitos, estabelecerem a sua própria
inteligência orgânica, passar por cima do arcaico das formas de poder,
superá-las para ter avanço, inclusive, econômico.
Durante
a
conversa, o papel de Contexto foi provocar, instigar, propor temas,
fomentar
a discussão. Contexto não afirma durante a conversa, apenas pergunta
para
estimular as posições. A função de Contexto é traçar um grande painel
sobre Alagoas. Foi para isto que a Tribuna Independente o
criou: deixar um legado para a visão de nossa atualidade e, com isto,
subsidiar
algo fundamental que é discutir Alagoas.
Não é possível passar por esta discussão sem tocar no vetusto setor
primário da
economia.
Contexto
gerou este documento para o estudo de Alagoas. Difícil deixar de se considerar
o que foi dito durante a conversa, tanto agora, quanto no futuro. Contexto sabe que é uma contribuição para uma
sociologia rural, mormente nos aportes sobre mudança e tem a certeza plena de
que no futuro, este material será de leitura obrigatória, especialmente na
categoria da análise do poder no que diz respeito às relações internas e
externas das atividades econômicas ligadas à agricultura.
Álvaro, Sávio, Noel, Edilson, Márcio |
Contexto
agradece a Márcio Pinto que ajudou na montagem desta conversa e, especialmente,
agradece ao Presidente Álvaro Almeida e ao Vice-Presidente Francisco Edilson
Maia, da Federação da Agricultura do Estado de Alagoas que nos deram atenção
privilegiada, bem como ao Assessor da entidade, Noel Loureiro Foi um diálogo franco, aberto, e portanto
valioso. Este é um primeiro trabalho de Contexto na linha a que vamos chamar Conversa em torno de um tema. É extremamente salutar quando
se dialoga na presença pública e a Federação
nos dá um exemplo, ao aceitar este papo tranquilo e, ao mesmo tempo,
forte. Nosso reconhecimento pela fidalguia e inteligência do diálogo.
Conversa
em torno de um tema: agricultura alagoana (I)
Avanço
tecnológico e produtividade
Álvaro |
ÁLVARO:
Foram vários os
avanços tecnológicos, comparando com os tempos de meu pai. Naquela época você
criava numa área extensa, sem qualquer tecnologia. Então, um boi aumentava 2, 3
arrobas no ano. Quando comecei, a média do meu gado de abate era 8, 9 arrobas
por cabeça, as fêmeas, um pouco mais os machos. Hoje são, em média, 14, 15
arrobas em Mar Vermelho. Você conseguia com muita dificuldade, quando o gado
era muito bom, um aumento de 3 a 4 arrobas ao ano, por cabeça. Hoje se consegue
muito mais. Você consegue apartar um bezerro hoje com 7, 8 e, algumas vezes,
até 9 (,10) arrobas, bezerro com 7, 8 meses de idade. Você não se preocupava
com a vermifugação; não tinha orientação técnica. Hoje, quase todas as
fazendas têm veterinário ou assessoria de técnico agrícola. Então isso é
evolução. Você está produzindo mais, tendo produtividade maior, inclusive com áreas menores.
Melhoria genética
ÁLVARO:
A melhoria do pasto vem de uns 40 a 45 anos. Foi evolução natural; preocupação com a produção, produtividade maior, com área menor. A vermifugação, sal, melhorar as matrizes.... E fazer a inseminação artificial melhorou a raça. Hoje nós temos Nelore que (não) faz inveja. Tem-se uma genética muito boa em Alagoas. Nós tínhamos uma grande evolução já na época da famosa bacia leiteira, instalada em Mata Grande e conhecida em todo o país. Depois retrocedeu, ao ponto do Geraldo Sampaio ter dito: “Naquela época nós tínhamos uma bacia leiteira, hoje temos um pires de leite”. Mas a culpa foi do governo, que deixou Alagoas acabar com a bacia leiteira. As nossas vacas, naquela época, foram compradas pelo Rio Grande do Norte, Ceará, as grandes matrizes... Mas ainda temos gado de leite de excelente qualidade.
A melhoria do pasto vem de uns 40 a 45 anos. Foi evolução natural; preocupação com a produção, produtividade maior, com área menor. A vermifugação, sal, melhorar as matrizes.... E fazer a inseminação artificial melhorou a raça. Hoje nós temos Nelore que (não) faz inveja. Tem-se uma genética muito boa em Alagoas. Nós tínhamos uma grande evolução já na época da famosa bacia leiteira, instalada em Mata Grande e conhecida em todo o país. Depois retrocedeu, ao ponto do Geraldo Sampaio ter dito: “Naquela época nós tínhamos uma bacia leiteira, hoje temos um pires de leite”. Mas a culpa foi do governo, que deixou Alagoas acabar com a bacia leiteira. As nossas vacas, naquela época, foram compradas pelo Rio Grande do Norte, Ceará, as grandes matrizes... Mas ainda temos gado de leite de excelente qualidade.
A bacia leiteira
ÁLVARO:
Era conhecida nacionalmente, a nossa bacia leiteira; fomos referência nacional. Mas hoje, sentimos que com esse programa do leite, tem sido crescente o desenvolvimento da bacia leiteira. Inclusive, para não perder o fio da meada, mantendo esse preço, que, se não é uma excelência, é dentro da normalidade da atividade, haverá continuidade. Nós ficávamos presos a dois ou três compradores e era um cartel. Hoje esse programa estimulou a atividade e ela está se recuperando.
Era conhecida nacionalmente, a nossa bacia leiteira; fomos referência nacional. Mas hoje, sentimos que com esse programa do leite, tem sido crescente o desenvolvimento da bacia leiteira. Inclusive, para não perder o fio da meada, mantendo esse preço, que, se não é uma excelência, é dentro da normalidade da atividade, haverá continuidade. Nós ficávamos presos a dois ou três compradores e era um cartel. Hoje esse programa estimulou a atividade e ela está se recuperando.
O fim do curraleiro e a manha do boi
sandrodosertao.blogspot.com
NOEL:
Você tem que levar em consideração o seguinte: o boi era menor... Inclusive um dos motivos) por que o aumento do índice de produtividade na pecuária (demanda dos movimentos sociais) é inócuo como forma de se coletar mais terra para a Reforma Agrária é que se tem que levar em conta que o boi de abate de antigamente levava 4 anos para chegar a 12, 13 arrobas. Hoje o boi leva 2 anos e atinge 17 a 18 arrobas. Então a quantidade de pastagem que ele absorve é maior, ele precisa de mais área. Então se você for por essa linha de produtividade, você vai ter que aumentar a quantidade de área por animal, porque o animal come mais pastagem.
Você tem que levar em consideração o seguinte: o boi era menor... Inclusive um dos motivos) por que o aumento do índice de produtividade na pecuária (demanda dos movimentos sociais) é inócuo como forma de se coletar mais terra para a Reforma Agrária é que se tem que levar em conta que o boi de abate de antigamente levava 4 anos para chegar a 12, 13 arrobas. Hoje o boi leva 2 anos e atinge 17 a 18 arrobas. Então a quantidade de pastagem que ele absorve é maior, ele precisa de mais área. Então se você for por essa linha de produtividade, você vai ter que aumentar a quantidade de área por animal, porque o animal come mais pastagem.
ÁLVARO:
O boi não era assistido, é verdade. Você criava como se criava antigamente o porco. Você já imaginava: o porco só se dava bem no sujo. Hoje a gente vê o contrário. A pocilga é a coisa mais limpa que tem na sua fazenda. Os dejetos descem por gravidade. Então quanto mais limpeza, mais saúde o animal tem. O boi curraleiro desapareceu. No Maranhão, naqueles lugares mais atrasados no Maranhão você ainda encontra, mas aqui em Alagoas não existe mais.
O boi não era assistido, é verdade. Você criava como se criava antigamente o porco. Você já imaginava: o porco só se dava bem no sujo. Hoje a gente vê o contrário. A pocilga é a coisa mais limpa que tem na sua fazenda. Os dejetos descem por gravidade. Então quanto mais limpeza, mais saúde o animal tem. O boi curraleiro desapareceu. No Maranhão, naqueles lugares mais atrasados no Maranhão você ainda encontra, mas aqui em Alagoas não existe mais.
NOEL:
Agora, esse negócio que seu sogro falou, Sávio, que o boi ficou manhoso, você tem que levar em consideração o seguinte: à medida que o nosso gado ‘Nelorizou-se’, o boi Nelore exige trato. Se você pegar um boi Nelore, jogá-lo a pasto , deixá-lo para lá, você só o pega “na bala”, porque se transforma numa fera.
Agora, esse negócio que seu sogro falou, Sávio, que o boi ficou manhoso, você tem que levar em consideração o seguinte: à medida que o nosso gado ‘Nelorizou-se’, o boi Nelore exige trato. Se você pegar um boi Nelore, jogá-lo a pasto , deixá-lo para lá, você só o pega “na bala”, porque se transforma numa fera.
ÁLVARO:
Você entrava no curral, ficava louco com medo do Nelore. Hoje, você vai, alisa. Está domesticado pelas vezes que vai ao curral, com o manejo. A gente não tocava numa vaca. A vaca, às vezes, às vezes não... ela morria de parto, porque ninguém sabia fazer nada. Você não salvava um bezerro. Hoje o camarada faz um parto, faz transferência de embrião, faz inseminação, tem ultrassom. Hoje um bezerro, uma égua, o veterinário diz: é fêmea, é macho. Essa é a grande evolução. Hoje tem-se sêmen sexado. Você ficava louco para tirar o leite de uma vaca de primeira cria. Hoje você pega uma de primeira cria, bota na máquina, na ordenhadeira, ela parece uma coisa mansa. Você vai lá, alisa...
Você entrava no curral, ficava louco com medo do Nelore. Hoje, você vai, alisa. Está domesticado pelas vezes que vai ao curral, com o manejo. A gente não tocava numa vaca. A vaca, às vezes, às vezes não... ela morria de parto, porque ninguém sabia fazer nada. Você não salvava um bezerro. Hoje o camarada faz um parto, faz transferência de embrião, faz inseminação, tem ultrassom. Hoje um bezerro, uma égua, o veterinário diz: é fêmea, é macho. Essa é a grande evolução. Hoje tem-se sêmen sexado. Você ficava louco para tirar o leite de uma vaca de primeira cria. Hoje você pega uma de primeira cria, bota na máquina, na ordenhadeira, ela parece uma coisa mansa. Você vai lá, alisa...
Tecnologia e rentabilidade
SÁVIO:
Mas agora eu lhe faço uma pergunta, que pra mim é essencial? Toda essa tecnologia afetou o que na rentabilidade?
Mas agora eu lhe faço uma pergunta, que pra mim é essencial? Toda essa tecnologia afetou o que na rentabilidade?
ÁLVARO:
Eu acho que meu pai tinha menos obrigações, mas ele teve menos rentabilidade, muito menos rentabilidade.
Eu acho que meu pai tinha menos obrigações, mas ele teve menos rentabilidade, muito menos rentabilidade.
NOEL:
Antigamente um cara com 150, 200 rêses era um homem rico. E hoje com 150, 200 não tem dinheiro pra comprar uma moto.
Antigamente um cara com 150, 200 rêses era um homem rico. E hoje com 150, 200 não tem dinheiro pra comprar uma moto.
ÁLVARO:
Esse é o problema do sertão.
Esse é o problema do sertão.
MÁRCIO:
Antigamente, o meu pai com a propriedade que tinha, era dito como rico. Hoje quem possui nas mesmas dimensões é um pequeno...
Antigamente, o meu pai com a propriedade que tinha, era dito como rico. Hoje quem possui nas mesmas dimensões é um pequeno...
ÁLVARO: Você mantinha
família na capital.
NOEL:
Você deve levar em consideração que houve uma mudança no perfil dos gastos. A gente não tinha internet, não tinha ar condicionado, não tinha 3, 4 carros, etc.
Você deve levar em consideração que houve uma mudança no perfil dos gastos. A gente não tinha internet, não tinha ar condicionado, não tinha 3, 4 carros, etc.
A estrada e a modernização dos lados do Mar Vermelho
maltanet.com.br
Matriz de Mar Vermelho |
ÁLVARO:
Nós não tínhamos acesso para Mar Vermelho. Passamos 50 anos atrás de uma estrada, não era nem de asfalto, a gente queria uma coisa aberta e nós não conseguimos. Viemos conseguir agora há 8 anos atrás. Aí Sávio, você pode perguntar: E por que não evoluiu nesses 8 anos? Eu acredito que ainda não evoluiu porque ainda não se destinou a instalar uma empresa, um hotel, o turismo ser mais levado para Mar Vermelho. Mar Vermelho muda quando aparecer alguém de visão pra aproveitar o turismo, que nós temos essas praias belíssimas mas não temos o turismo dos morros, das pessoas que gostam das fazendas, o turismo rural... Mar Vermelho, não tenha dúvida, vai embora, porque nós temos o melhor clima do estado de Alagoas.
Nós não tínhamos acesso para Mar Vermelho. Passamos 50 anos atrás de uma estrada, não era nem de asfalto, a gente queria uma coisa aberta e nós não conseguimos. Viemos conseguir agora há 8 anos atrás. Aí Sávio, você pode perguntar: E por que não evoluiu nesses 8 anos? Eu acredito que ainda não evoluiu porque ainda não se destinou a instalar uma empresa, um hotel, o turismo ser mais levado para Mar Vermelho. Mar Vermelho muda quando aparecer alguém de visão pra aproveitar o turismo, que nós temos essas praias belíssimas mas não temos o turismo dos morros, das pessoas que gostam das fazendas, o turismo rural... Mar Vermelho, não tenha dúvida, vai embora, porque nós temos o melhor clima do estado de Alagoas.
Da propriedade para o Estado
SÁVIO:
Quando você discutiu essa transformação que aconteceu na sua propriedade, você generalizaria isso para o estado todo? Com relação a genética, a produtividade...
Quando você discutiu essa transformação que aconteceu na sua propriedade, você generalizaria isso para o estado todo? Com relação a genética, a produtividade...
ÁLVARO:
Não tenha a menor dúvida. Mar Vermelho é interessante. (Ele) Até a cidade de Mar Vermelho, a gente pode dizer que é verdadeira zona da mata. Quando você sai da cidade, (ele) já vai ficando “agrestado”. A gente chama esse termo agrestado, quando você vai em direção a Palmeira dos Índios.
Não tenha a menor dúvida. Mar Vermelho é interessante. (Ele) Até a cidade de Mar Vermelho, a gente pode dizer que é verdadeira zona da mata. Quando você sai da cidade, (ele) já vai ficando “agrestado”. A gente chama esse termo agrestado, quando você vai em direção a Palmeira dos Índios.
SÁVIO:
Por que continua a tradição de gado ali?
Por que continua a tradição de gado ali?
ÁLVARO:
É fácil responder. É por causa da nossa topografia. Eu posso dar uma estimativa assim talvez 80%, 85% da topografia de Mar Vermelho, ela é toda acidentada.
É fácil responder. É por causa da nossa topografia. Eu posso dar uma estimativa assim talvez 80%, 85% da topografia de Mar Vermelho, ela é toda acidentada.
Problemas de renda e força de
trabalho
Álvaro, Sávio, Noel, Edilson, Márcio |
SÁVIO:
Nesses 50 anos da sua vida dedicados à agricultura e pensando no conjunto de Alagoas, diga: “Olhe, o principal fator de mudança na pecuária foi esse!”. E a melhor coisa que aconteceu na agricultura foi isso!
Nesses 50 anos da sua vida dedicados à agricultura e pensando no conjunto de Alagoas, diga: “Olhe, o principal fator de mudança na pecuária foi esse!”. E a melhor coisa que aconteceu na agricultura foi isso!
ÁLVARO:
Você começou a ter mais tratos culturais, novas variedades de capim e a preocupação com a genética e com a qualidade... Então na pecuária vejo, que foram os tratos culturais. A extensão naturalmente elas foram passando a pequenas propriedades, até mesmo natural, uma reforma agrária natural até dentro da própria família. Vamos dizer assim, você tem uma propriedade de 1000 hectares, 5 filhos... Hoje cada um tem 200 hectares. Então você começou a se preocupar com a qualidade da sua pastagem, aplicar tecnologia.
Você começou a ter mais tratos culturais, novas variedades de capim e a preocupação com a genética e com a qualidade... Então na pecuária vejo, que foram os tratos culturais. A extensão naturalmente elas foram passando a pequenas propriedades, até mesmo natural, uma reforma agrária natural até dentro da própria família. Vamos dizer assim, você tem uma propriedade de 1000 hectares, 5 filhos... Hoje cada um tem 200 hectares. Então você começou a se preocupar com a qualidade da sua pastagem, aplicar tecnologia.
A pecuária leiteira
EDILSON:
Não só a sociedade brasileira como o mundo todo, começou a se preocupar com o produto de origem animal, a sua forma de abate, a sua forma de criação, seu tratamento com os animais e isso levou a um avanço qualitativo. É a lei da competitividade. Então isso tudo foi juntando. Por que limpar as pastagens? Limpar as pastagens porque precisa dar maior capacidade de apascentamento. Por quê? Porque as terras ficaram mais caras e mais difíceis. Você começou a ter maior rendimento de quilos de carne por hectare. Então isso hoje é muito forte na sociedade, a forma de tratamento que você está dando ao animal, desde o nascimento até o abate.
Não só a sociedade brasileira como o mundo todo, começou a se preocupar com o produto de origem animal, a sua forma de abate, a sua forma de criação, seu tratamento com os animais e isso levou a um avanço qualitativo. É a lei da competitividade. Então isso tudo foi juntando. Por que limpar as pastagens? Limpar as pastagens porque precisa dar maior capacidade de apascentamento. Por quê? Porque as terras ficaram mais caras e mais difíceis. Você começou a ter maior rendimento de quilos de carne por hectare. Então isso hoje é muito forte na sociedade, a forma de tratamento que você está dando ao animal, desde o nascimento até o abate.
SÁVIO:
Esse raciocínio de vocês com a pecuária é aplicado ao pequeno produtor ou ao grande produtor?
Esse raciocínio de vocês com a pecuária é aplicado ao pequeno produtor ou ao grande produtor?
ÁLVARO:
O pequeno produtor hoje, já está tendo essa preocupação, inclusive o que chama de economia familiar, ou de agricultura familiar. Isso não uma coisa só do médio e do grande. Tem pequenos produtores de leite produzindo mais do que os grandes produtores. Uma vaquinha dele está produzindo muito mais do que a vaca daquele que tem 100, 200 vacas.
O pequeno produtor hoje, já está tendo essa preocupação, inclusive o que chama de economia familiar, ou de agricultura familiar. Isso não uma coisa só do médio e do grande. Tem pequenos produtores de leite produzindo mais do que os grandes produtores. Uma vaquinha dele está produzindo muito mais do que a vaca daquele que tem 100, 200 vacas.
SÁVIO:
E o leite dá dinheiro?
E o leite dá dinheiro?
ÁLVARO:
Leite hoje é uma dificuldade muito grande. Ou você tem uma dedicação exclusiva, ou usa uma tecnologia muito grande, ou se preocupa com o custo, ou faz conta ou você está perdendo dinheiro. Para você ter uma ideia, agora nós temos um programa Balde Cheio inserido pelo SEBRAE, pelo SENAR e pelo governo do estado e tinha um cidadão que quando começou o programa, fizeram o custo dele e ele estava tendo um prejuízo de 135 reais/mês. Ele agora está tendo uma receita R$1050,00, R$1057,00/mês. Mudou o seguinte: a quantidade da terra dele não aumentou, as vacas dele não aumentaram; só o manejo, a tecnologia e a assistência técnica. Ele hoje tem lucro.
Leite hoje é uma dificuldade muito grande. Ou você tem uma dedicação exclusiva, ou usa uma tecnologia muito grande, ou se preocupa com o custo, ou faz conta ou você está perdendo dinheiro. Para você ter uma ideia, agora nós temos um programa Balde Cheio inserido pelo SEBRAE, pelo SENAR e pelo governo do estado e tinha um cidadão que quando começou o programa, fizeram o custo dele e ele estava tendo um prejuízo de 135 reais/mês. Ele agora está tendo uma receita R$1050,00, R$1057,00/mês. Mudou o seguinte: a quantidade da terra dele não aumentou, as vacas dele não aumentaram; só o manejo, a tecnologia e a assistência técnica. Ele hoje tem lucro.
SÁVIO:
Mas generalizando, onde está a grande rentabilidade do gado, no leite ou no corte?
Mas generalizando, onde está a grande rentabilidade do gado, no leite ou no corte?
NOEL:
No leite se fatura mais, importante para quem tem áreas pequenas...
No leite se fatura mais, importante para quem tem áreas pequenas...
SÁVIO:
Então tem essa distinção?
Então tem essa distinção?
ÁLVARO:
Ele tem dinheiro toda semana, ele tem dinheiro toda semana.
Ele tem dinheiro toda semana, ele tem dinheiro toda semana.
EDILSON:
Se você fizer a conta, ele tem liquidez diariamente, a vantagem do leite na minha visão é que o produtor tem liquidez diariamente. É uma atividade que exige competência, conhecimento, dedicação e uma base alimentar muito forte.
Se você fizer a conta, ele tem liquidez diariamente, a vantagem do leite na minha visão é que o produtor tem liquidez diariamente. É uma atividade que exige competência, conhecimento, dedicação e uma base alimentar muito forte.
E o Estado, por onde
anda?
SÁVIO:
E o que significa hoje o Estado de Alagoas para o pecuarista e para o fazendeiro? E para o agricultor?
E o que significa hoje o Estado de Alagoas para o pecuarista e para o fazendeiro? E para o agricultor?
ÁLVARO: Olhe, nesse
espaço de tempo que nós estamos à frente da Federação, eu acho que há uma
preocupação muito grande do governo em restabelecer a produção, em dar
assistência maior aos menores e tem tido uma atenção muito grande ao segmento. A
não ser que eu esteja enganado, hoje nós somos ouvidos pelos diversos níveis de
autoridades do estado de Alagoas.
SÁVIO:
Quando isso começou?
Quando isso começou?
ÁLVARO:
Não posso ser ingrato com o ex-governador Ronaldo Lessa. Nós tivemos alguns avanços na sua época, mas talvez ele não tivesse na sua assessoria mais próxima, uma visão mais voltada para o meio rural, para a importância do agronegócio. Então veja, nós tivemos o programa do leite, foi no governo do Ronaldo Lessa, mas no atual nós tivemos uma atenção muito grande.
Não posso ser ingrato com o ex-governador Ronaldo Lessa. Nós tivemos alguns avanços na sua época, mas talvez ele não tivesse na sua assessoria mais próxima, uma visão mais voltada para o meio rural, para a importância do agronegócio. Então veja, nós tivemos o programa do leite, foi no governo do Ronaldo Lessa, mas no atual nós tivemos uma atenção muito grande.
SÁVIO:
Explica o que é ADEAL?
Explica o que é ADEAL?
ÁLVARO:
É a nossa agência de defesa animal, que cuida de aftosa. Aftosa só não, cuida da defesa animal de modo geral. O Estado de Alagoas hoje, na nossa visão, assumiu os compromissos e tem cumprido com o setor nos diversos segmentos.
É a nossa agência de defesa animal, que cuida de aftosa. Aftosa só não, cuida da defesa animal de modo geral. O Estado de Alagoas hoje, na nossa visão, assumiu os compromissos e tem cumprido com o setor nos diversos segmentos.
SÁVIO:
O que é que falta?
O que é que falta?
ÁLVARO:
Nós queremos avançar no processo da febre aftosa, que ainda precisa de umas ações. Nós precisamos que a assistência técnica...
Nós queremos avançar no processo da febre aftosa, que ainda precisa de umas ações. Nós precisamos que a assistência técnica...
EDILSON:
A EMATER volte.
A EMATER volte.
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