feira, 27 de dezembro de 2011
Esta matéria foi publicada em O Jornal, Maceió, em Dezembro de 2007
A
sensação de estar em Penedo é sempre agradável. Havia acabado de chegar
e era noite quente. Mais ou menos dez, saio e vou para frente da Igreja
da Corrente, fazer o que os antigos chamavam de tomar um deforete. O
som, a música, jovens bebendo e eu pensava na distância da minha Penedo
para a cena. Tudo ficou mais aceso quando, misteriosamente, comecei a
ver o armazém do Fortunato, a mamona amontoada onde uma moça havia
parado sua moto vermelha. As cores confundiram-se: o vermelho da moto e o
cinza da paisagem da mamona. Neste ir e vir da moça para a mamona, o
tempo passava.
Conversava
como Mário Lima, de repente abri a pasta e comecei a ler anotações em
uma caderneta. Curiosamente, uma folha trazia de volta uma conversa com
um amigo, o Mauro Feliciano - mora em Sobradinho -, famoso mergulhador,
aposentado. O pai foi trabalhar no concreto da Paulo Afonso; com nove
anos de idade, ele começou a vender cocadas feitas pela mãe; era gente
fazendo concreto, era gente fazendo secadeira, era gente comendo
cocada.
O fato é
que são mais de 26 anos de mergulho, tudo começando quando uma cheia
imensa empurrou trecos e mais trecos para a tomada d'água da 1ª usina. E
gente foi chamada para ajudar a tirar o bagulho das grades. Eram poucos
mergulhadores; é daí que Maurão foi fazer um curso e tornou-se o homem
que retirou o navio São Francisco, afundado em Petrolina com uma
imensidão de toneladas de pedra; o São Francisco mocou e estava
empatando a vida do porto.
Maurão
passou por muita coisa pesada, mas a pior de todas foi no Açude Coremas,
onde foi fazer revisão nas grades. Perdeu a brecha; a corda adiantou e
ele começou a rezar por São Francisco que, entendo nesta altura, seria
também protetor de mergulhadores. Na hora, as nadadeiras entraram na
brecha e ele subiu com vida; aflição mesmo foi salvar o Compadre Joaquim
que desceu e não voltou, colado que ficou na boca do tubo. Hoje está vivo
para contar e mora na Pariconha.
Foi o
Mauro quem me falou de uma história fantásticasobre o nome da Cachoeira.
E ele ouviu de uma família que sempre viveu por ali, e que descendia
do povo que contava a dita cuja história. Tudo teria acontecido antes do
Delmiro. Naquele tempo, havia um imenso pé de manga rosa perto da
Cachoeira e uma casa, onde vivia a família criadora de bode, com dois
filhos pequenos, mas já em tempo de cuidar dos bichos. Eles estavam fora.
Foi quando chegou um bando de gente, não se sabe se bandeirante ou
inglês. Faz tempo demais. A mãe começou a chamar pelos filhos aos gritos:
Afonso! Paulo! Os viajantes escutaram os gritos e o chefe delesd isse:
De hoje por diante, esta cachoeira não mais se chamará Forquilha. Será
Paulo e Afonso. E assim foi feito. Rebatizada, a Cachoeira de Paulo e
Afonso foi perdendo o e, como se a pessoa fosse uma só e não,
conforme era naquele tempo de antes do Delmiro, uma parelha de irmão que
cuidava dos bodes. Maria Lopes acha que Forquilha não era um nome feio,
mas prefere Paulo e Afonso mesmo. Acha que é mais justo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário