HISTÓRIA: FUTEBOL:ALAGOAS] PERDIGÃO, Lautheney. DEPOIMENTOS PARA A HISTÓRIA: Alfredo Ramires Bastos
Esta matéria foi publicada no tablóide Contexto do jornal
Tribuna Independente, Maceió, na edição de 4 de Setembro de 2011
Um bilhete sobre futebol em Alagoas
Luiz Sávio de Almeida
Lautheney Perdigão é um sujeito
notável. Entende de futebol, entende de sua história nas Alagoas, e conta desde
os primeiro jogos na Rua do Arame. Sua vida foi juntar coisas e peças, escrever
aqui e ali, publicar seus livros e deixar um copioso registro, além de ter
participado do divertidíssimo Ora Bolas, um programa de humor sobre o esporte e
que faz parte da melhor fatia da história das emissoras de Alagoas. Ele será um
assíduo colaborador, pela parceria que
Contexto, manterá com O Museu do Esporte que Lautheney criou e teima em
manter vivo. É uma honra contar com sua colaboração.
Hoje,
estreando sua participação na equipe que existe por detrás do nome
Contexto, Lautheney nos recorda a
participação do Dr. Alfredo Ramires na vida esportiva de Alagoas; Dr. Alfredo é um dos nomes que a torcida do
Centro Sportivo Alagoano jamais poderá esquecer. Eu mesmo, como legítimo
torcedor do quase-ex-CRB, baixo a cabeça e aproveito a oportunidade para dar um
grande abraço no Dr. Alfredo. Por outro lado, aproveito para novamente dizer da
minha admiração pelo Lautheney e, também, que espero o milagre de sua
conversão, pois um dia será torcedor do Galo de Campina, o fantástico time do
jogo da Sofia que o jogo do Xaxado nem de leve arranhou.
Fico
pensando nas tardes de domingo, no Mutange e na Pajuçara, bem antes de existir
o Trapichão. Qual teria sido a principal transformação vivida pelo pé na bola
alagoano? Para mim, o registro é fácil: a queda do CRB e do CSA como os
representantes de nosso poderio futebolístico. O capital decidiu sustentá-lo em
outros locais, como Arapiraca, Porto Calvo... Talvez por isso mesmo, o texto do
Lauthenay pareça estar tão distante, inclusive, pela revelação que faz sobre um
tipo de futebol que deve ter desaparecido.
Alfredo Ramires e voleibol: técnico da Fênix
Hino do CSA
Pela pátria, na vida esportiva
É que vamos sempre conquistar
Nossa glória da luta deriva
É o campeão dos campeões CSA
Azulinos impávidos e fortes
Enfrentemos os nossos rivais
Nosso time não tem adversários
Não seremos vencidos jamais
Centro Sportivo Alagoano
No Mutange eterno vencedor
Se tremulas a tua bandeira
Alvi-celeste é com amor
É que vamos sempre conquistar
Nossa glória da luta deriva
É o campeão dos campeões CSA
Azulinos impávidos e fortes
Enfrentemos os nossos rivais
Nosso time não tem adversários
Não seremos vencidos jamais
Centro Sportivo Alagoano
No Mutange eterno vencedor
Se tremulas a tua bandeira
Alvi-celeste é com amor
Centro Sportivo Alagoano
No Mutange eterno vencedor
Se tremulas a tua bandeira
Alvi-celeste é com amor
Centro Sportivo AlagoanoNo Mutange eterno vencedor
Se tremulas a tua bandeira
Alvi-celeste é com amor
Nesse anseio infinito de glória
Esse Centro Sportivo não tem
A vaidade que é sempre ilusória
E que nunca elevou à ninguém
Vamos todos em busca das vitórias
Com o coração na ponta das chuteiras
União e Força CSA
Azul e Branco a vida inteira
Centro Sportivo Alagoano
No Mutange eterno vencedor
Se tremulas a tua bandeira
Alvi-celeste é com amor
DEPOIMENTOS PARA A HISTÓRIA:
Alfredo Ramires Bastos
Lautheney Perdigão
Lautheney Perdigão, o azulino
Alfredo
Ramiro Bastos nasceu no dia 25 de fevereiro de 1923. Formou-se em Medicina em
1948, na Universidade de Recife e se especializou em cardiologia. Também fez
curso de especialização em Medicina do Trabalho. Foi professor atuante de
Medicina na UFAL, Chefe do Departamento Médico da Clínica Médica do Hospital
Universitário e do Serviço Médico da Salgema. Foi treinador do Centro Sportivo
Alagoano e médico da Seleção Alagoana. Foi campeão pelo clube azulino no ano de
1952 e no tetracampeonato de 1955 a 1958. Também treinou as equipes de voleibol
do Bonfim, CSA e Fênix. Foi campeão pela Fênix e, pelo CSA, conquistou I Jogos
Abertos de Voleibol da FADA.
Existem treinadores que a torcida e o
dirigente acreditam que dão sorte. Talvez este seja o caso do Dr. Alfredo
Ramiro Bastos. Sempre foi um técnico vencedor, um homem capaz de levar seus
comandados a vitórias sensacionais e seu clube a títulos memoráveis. Um
desportista que aliava seus conhecimentos técnicos à liderança e à amizade que
tinha com os jogadores. Seu grande trunfo era ser um comandante único. Ele
treinava, orientava, escalava e comandava seu time sem ajuda de ninguém. Dr.
Alfredo era um treinador diferente, um homem enérgico, líder, corajoso, leal e
com muita moral. Um técnico que deixou seu nome gravado na história do Centro
Sportivo Alagoano.
A formação profissional
Alfredo Ramiro Bastos é de família
tradicionalmente azulina. Seu irmão, Dr. Carlos Ramiro Bastos, chegou a ser
Presidente do Centro Sportivo Alagoano. Por isso, logo cedo ele foi levado para
jogar nos juvenis do clube azulino. Entretanto, sem muito jeito para praticar o
futebol, resolveu parar antes mesmo de começar. Apenas participou de algumas
peladas no tempo do colégio. Preferiu os estudos e terminou seu curso de
Medicina.
Quando
regressou a Maceió, recém-formado foi logo consultado sobre a possibilidade de
aceitar ser Presidente do Centro Sportivo Alagoano. O convite foi recusado. Dr.
Alfredo não se achava com qualificações, com o gabarito e a experiência para
ser Presidente de um clube como o CSA. Esse conhecimento significou o enfoque
para que o jovem médico iniciasse uma atenção toda especial para as atividades
do seu clube e também do próprio futebol Alagoano.
A
iniciação no CSA
Foi
Segismundo Cerqueira, diretor do CSA, quem começou a levá-lo ao Mutange para
observar os treinamentos da equipe azulina. Assim, ele começou a se entrosar
com o grupo. Um dia, Dr. Alfredo se descobriu treinador do clube. Foi quase
incessível. Segismundo, que treinava o CSA junto com Palito, ex-goleiro do
clube, foi aos poucos cedendo seu lugar. Em dado momento, lá estava Dr. Alfredo
junto com Palito dirigindo o time azulino. Aliás, a dupla contrastava pela
altura. Palito era magro e alto; Dr. Alfredo, baixo e forte.
Houve
momento em que ele já treinava o time e outras pessoas o ajudavam, mas desde o
dia em que começou a sentir a responsabilidade de comando da equipe, deixou bem
claro que ele seria o treinador único. Existem técnicos que são treinadores,
contudo não são comandantes. Dr. Alfredo teve que optar por uma técnica melhor
ou um comando único. Ficou definido comandante único. Não iria admitir
interferência de ninguém. Ele gostava da expressão “comandante”. Não se
considerava um técnico, e sim, um comandante. Aos poucos foi adquirindo
conhecimentos técnicos e começou a se desenvolver. Mandar sozinho foi um fator
preponderante para ele vencer e o time ser campeão.
Dr. Alfredo dirigia o time principal e o
aspirante. Isso facilitava seu trabalho, porque ele manuseava as duas equipes,
utilizando-se, quando necessário, dos jogadores dos aspirantes que eram
escalados no time principal sem problemas. As duas equipes jogavam dentro do
mesmo sistema e estavam todos sempre jogando. Os aspirantes jogavam nas
preliminares do time principal e o CSA chegou a ser hexacampeão alagoano.
Sua estreia
oficial como treinador do CSA aconteceu no dia 5 de agosto de 1952, em uma
partida realizada na Pajuçara pelo Campeonato Alagoano contra o Ferroviário. O
clube da Rede Ferroviária estava formando uma grande equipe que, nos dois anos
seguintes, seria bicampeão. O jogo era muito importante para Dr. Alfredo que
sentia uma grande responsabilidade diante da torcida azulina. As lembranças
estavam bem vivas para o técnico azulino, principalmente pelas mudanças no
marcador: Ferroviário 2x0. CSA 3x2. Ferroviário 3x3 e CSA 4x3. Nesse dia, Dida
marcou quatro gols para o time do Dr. Alfredo. A vitória foi um estímulo e um
conforto. O time jogou bem e soube sair de um marcador adverso para uma vitória
sensacional.
O congraçamento no esporte
Depois do
jogo, Zequito Porto, falando com Segismundo Cerqueira, parabenizava-o pela bela
exibição do CSA. Naquele instante, Segismundo foi muito sincero e leal. Ele
disse para Zequito que todos os elogios deveriam ser para Dr. Alfredo, o
verdadeiro e único responsável pelo sucesso do time do Mutange. Para o
comandante dos azulinos, aquilo era gratificante, porque ele sempre considerou
Zequito Porto como a maior autoridade do futebol Alagoano, e Dr. Alfredo não
poderia deixar de registrar a importância de Zequito na sua participação dentro
do futebol. Nas seleções alagoanas, um era o técnico e o outro o médico. Nesse
convívio, havia muita conversa, principalmente sobre o futebol, suas táticas e
suas técnicas. Tudo aquilo transformou os dois em verdadeiros amigos cuja
amizade perdurou até os últimos dias do Zequito.
Dr. Alfredo
já era comandante do time do CSA e, por isso, observava com atenção as
instruções dadas por Zequito aos jogadores da Seleção. Era uma maneira
diferente daquele que aprendera com Segismundo Cerqueira. Este era um técnico
exclusivamente de campo. Zequito reunia essas qualidades e acrescentava a de
psicólogo. Mostrava aos jogadores como se colocar em campo, como se defender e
atacar. Seu time era bem distribuído e ocupava todos os espaços do campo. Tudo
era observado e anotado por Dr. Alfredo e foi de grande utilidade para quando
ele retornou ao CSA. Começou a compreender a necessidade da teoria no futebol.
Mandou buscar livros que comentavam sobre táticas e técnicas no futebol. Quando
grandes equipes do futebol brasileiro jogavam em Maceió, e ele gostava de
conversar com seus treinadores para aprender sempre mais.
O gosto pelo teórico
Com o passar
do tempo, Dr. Alfredo foi se transformando, de certa forma, em um teórico.
Chegou a dominar razoavelmente bem a técnica do futebol. Como comandante, ele considerava-se
mais um técnico teórico do que propriamente um treinador prático e tático. Sua
grande dificuldade, em determinado momento da partida, era transformar seus
conhecimentos técnicos quando tinha que alterar o sistema de jogo da sua
equipe. Apesar disso, não deixava transparecer a seus comandados qualquer
indecisão de sua parte.
A Sofia e o Xaxado: 4 a 0
Aspirantes de 1953 |
Xaxado era a
música do momento e com os jogadores do CSA jogando dentro do gramado da
Pajuçara e a torcida azulina batendo palmas e gritando Xaxado, Dr. Alfredo
viveu um momento de grande emoção no futebol. O jogo era contra o CRB em 1952.
Foi um verdadeiro "olé". Jamais se pensou em desrespeitar o
adversário. Aquele era o dia do CSA. Tudo dava certo e para Dr. Alfredo era
gostoso observar o passeio que os atletas do velho rival estavam levando
naquela tarde de 21 de setembro. O CRB comemorava mais um aniversário e o CSA
ofereceu o baile. Nesse jogo, aconteceu uma coisa curiosa. Por incrível que
pareça, Dr. Alfredo não sabia do caso da Sofia, aquele jogo em que o CRB goleou
o CSA por 6x0 em 1939 e, até os dias de hoje, o CSA não conseguiu fazer o mesmo
placar. Quando no jogo do Xaxado o marcador marcava 4x0, a torcida começou a
pedir mais. Entretanto, ninguém o advertiu que havia uma Sofia atravessada na
garganta dos azulinos. Os jogadores azulinos queriam fazer a bola correr de pé
em pé, sem se preocupar em fazer mais gols. Muitos foram perdidos. Apesar de
não conseguir os 6x0, outra exibição daquela vai ser difícil de acontecer em um
campo de futebol.
A força bruta de King
Um dos
jogadores mais discutidos do plantel do CSA, na época, era King. Jogava nos
aspirantes e muitas vezes era aproveitado no time principal, chegando mesmo a
disputar um campeonato inteiro como titular.
Apesar de ser chamado de “grosso”, King sabia fazer gols, muitos gols.
Tecnicamente era fraco. Contudo, uma bola lançada em profundidade à frente de
King era meio gol. Não era veloz, mas sua robustez, pela sua massa muscular
enorme que fazia do centroavante um bloco de músculo, dificilmente era
derrubado. Dr. Alfredo gostava de utilizar King no segundo tempo dos jogos. O
ataque do CSA era formado por jogadores leves, habilidosos que gostavam de
tabelar, driblar. Durante quarenta e cinco minutos, a defesa adversária ficava
sentindo a leveza, os dribles, os toques. Quase que não havia o corpo a corpo.
No segundo tempo, entrava King e as coisas mudavam. Os zagueiros passavam a
serem assediados, molestados. Eles sentiam a diferença e ficavam preocupados
com o atacante azulino. King entrava duro, forte, dividia e dificultava as
rebatidas dos adversários.
E a luz sumiu
CSA = Campeão 1953 Em pé: Dr. Alfredo. Neu. Joab. Zanélio. Almir. Paulo Mendes. Napoleão e
Edezio Leitão. Agachados: Ítalo. Sued. Dida. Netinho e Géo.
|
A rivalidade entre CSA e CRB atravessa os
anos e todos que passaram pelos dois clubes sentiram de perto fortes emoções e
também algumas decepções. Certa vez, Dr. Alfredo fez uma coisa que se fosse
hoje não faria. Por isso, ele fez questão de contar o acontecido. Foi em um
clássico CSA e CRB que começou atrasado e terminou mais atrasado ainda por
falta de energia no campo do Mutange. Naquele tempo, os jogos eram disputados
com bola alaranjada. À noite, essas bolas eram pitadas de branco, que com o
passar dos minutos, a tinta ia saindo e a redonda não ficava branca nem
amarela. O CSA vencia por 1x0 e ficou na defesa para garantir o resultado. O
CRB foi todo para o ataque. A iluminação era deficiente. O goleiro azulino
passava por dificuldades por causa da bola e dos refletores. Os dirigentes do
CSA pediam para a Federação trocar a bola e não eram atendidos. Quando Dr.
Alfredo sentiu que as coisas estavam pretas e o CRB podia empatar a qualquer
momento, usou de um expediente nada correto.
Chamou Seu Antônio, que tomava
conta do Mutange, e ordenou: desligue as luzes e desapareça. O pai do Peu, que obedecia cegamente ao Dr.
Alfredo, não pensou duas vezes. Foi até a Casa de Força e desligou os
refletores. Ninguém percebeu o que aconteceu. Todos pensavam que tinha havido
um problema com a Força e Luz, hoje Ceal. Com o jogo paralisado, houve tempo
para conversar com o árbitro, trocar a bola, esfriar a reação do CRB e acertar
alguns detalhes com os jogadores do CSA. Quando Dr. Alfredo achou que estava
tudo em ordem, a energia voltou, os refletores voltaram a funcionar, o jogo
continuou e o clube azulino manteve o resultado. Dias depois, quando a
diretoria do CSA soube o que realmente tinha acontecido, não gostou da atitude
do Dr. Alfredo, principalmente Napoleão Barbosa.
A amizade acima de tudo
Apesar da
grande rivalidade, aconteceram casos que mostram que uma grande amizade pode
passar por cima de tudo. Dr. Alfredo tinha em Zequito Porto um grande amigo. Um
comandante do CSA; outro, treinador do CRB. Além da amizade, existia muita
confiança entre os dois. Um exemplo disso está nesse detalhe. Dario Marsiglia,
que jogava pela meia esquerda do CRB e era o grande craque do clube da
Pajuçara, estava contundido. Era a semana que antecedia o clássico. Zequito
levou Dario para Dr. Alfredo curá-lo. Ele trabalhou a semana toda para que o
atacante ficasse bom do tornozelo. No dia do jogo, já no campo, Dr. Alfredo,
técnico do CSA, enfaixou o pé do Dario e ele jogou normalmente. Esse não foi um
caso isolado. Muitos outros jogadores alvirubros eram enviados ao consultório
do Dr. Alfredo.
Depois da
conquista do campeonato de 1952, Dr. Alfredo foi aos Estados Unidos para fazer
um estágio a fim de aprimorar seus conhecimentos na cardiologia. Quando
regressou, voltou ao CSA para conquistar o primeiro tetracampeonato da história
do clube azulino. Revendo as fotos dos quatro campeonatos, Dr. Alfredo não
destacou nenhuma. Todas foram boas, cada uma dentro da sua temporada. O
ambiente foi sempre o mesmo. Havia grandes jogadores, porém a disciplina estava
acima de tudo e foi um dos fatores mais importantes para se conquistar o
campeonato quatro vezes. A cada título era uma emoção. No esporte, não tem
coisa melhor do que sair vencedor em uma competição.
Dr. Alfredo
nunca teve problema com seus comandados. A indisciplina violenta o esporte. Por
isso, ganhava a disciplina de seus atletas com exemplo de assiduidade,
pontualidade, esforço e boa vontade para resolver os problemas particulares de
seus comandados. Dr. Alfredo recebia os atletas e seus familiares no seu
consultório sem receber nenhum tostão. Com suas atitudes simples, franca e
firmes deixavam os jogadores à vontade e conquistava a amizade e o respeito de
todos.
A entrada de Dida no CSA
Foi Dr.
Alfredo quem levou Dida para o CSA. Um dia um jogador chamado Penedo e que
atuava nos aspirantes do CSA, convidou o seu treinador para assistir a um jogo
de pelada na Praça da Cadeia. Lá jogava um garoto endiabrado chamado Dida. As
jogadas do jovem atleta impressionaram Dr. Alfredo, que logo que terminou a
pelada, procurou Dida e lhe perguntou se queria jogar no CSA. Dida bem que
gostaria, mas ia depender da permissão de seus pais. O médico-técnico não
perdeu tempo. Foi junto com Dida até sua casa para conversar com Seu Jaime.
Ficou acertado que o CSA, nos dias de treinos e jogos, mandaria um carro para
pegar Dida e depois trazê-lo de volta para sua casa, além de pagar seus
estudos.
Na mesma semana, o futuro craque já estava no
Mutange como titular da equipe azulina. Muita gente estranhou aquele menino
franzino no time principal. Todavia, em uma das primeiras jogadas do treino,
Edgar lançou uma bola para área. Dida suspendeu a perna direita, matou a bola
lá em cima e quando ela desceu, chutou violentamente de pé esquerdo para o gol
dos reservas. Estava ali o jogador que Dr. Alfredo precisava. Ali estava o
malabarista, o artista e o futuro campeão do mundo.
No domingo,
o CSA jogaria contra o Auto Esporte, vice campeão do ano anterior e uma das boas
equipes do campeonato. Dida foi regularizado às pressas para jogar no domingo.
Sua escalação foi uma surpresa para muita gente. Segismundo Cerqueira, que não
tinha ido aos treinos do CSA, achava que Dr. Alfredo estava louco. Escalar um
garoto para um jogo tão importante. Afinal, Dida era desconhecido e nem tinha
passado pelos aspirantes. Depois da partida, com uma excelente atuação, Dida
calou a boca dos descrentes. Dida, como todo artista, tinha sentimentos
delicados, tinha uma forma toda especial de ser conduzido e, nesse aspecto,
parecia frágil, mas não era. Jogava valentemente contra duros zagueiros.
No início da
década de cinquenta, Dr. Alfredo foi médico da Seleção Alagoana e participou de
duas memoráveis partidas. Em 1952, contra os sergipanos no famoso jogo dos 163
minutos. Jogo disputado no Mutange e que, além da vitória nos noventa minutos,
os alagoanos tiveram que disputar duas prorrogações de trinta minutos e o gol
alagoano que definiu nossa classificação veio aos treze minutos da terceira
prorrogação. Neste jogo, três fatores decidiram a nossa vitória: disciplina,
bom nível técnico dos jogadores e preparo físico. A outra partida aconteceu em
1954 contra os paraibanos. Alagoas perdia de 3x1 e virou o marcador para 4x3
com Dida fazendo dois golaços. Foi o jogo que levou Dida para o Flamengo. Na
virada, valeu a raça e a vontade de vencer dos alagoanos. Quando serviu à
Seleção Alagoana, Dr. Alfredo era médico e Zequito Porto era o técnico. Foi um
período de muito aprendizado para o técnico do CSA. Era muito observador e
tirava proveito de tudo de bom que via nas preleções, nas mudanças táticas da
seleção durante o jogo e o comportamento de todos. Dr. Alfredo que sempre foi
um comandante sério e um técnico teórico habilitou-se a ser um vencedor. O
mesmo sucesso também se repetiu no esporte amador quando foi treinador de
voleibol.
Por tudo de
bom que aconteceu com ele, valeu a pena ser um comandante no esporte. As
amizades que conquistou, as emoções pelas muitas vitórias que viveu e pelo
aprendizado que recebeu, Dr. Alfredo agradece ao esporte, hoje, aos 88 anos de
idade.
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